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Por Carlos Helí de Almeida; Especial Para O GLOBO — Rio de Janeiro

À época da estreia de “Tár” — desde ontem em cartaz nos cinemas brasileiros — no Festival de Veneza, em setembro, era possível perceber algumas vozes dissonantes sob a onda de elogios e aplausos e o clima de “já ganhou” em torno do filme e da performance de sua protagonista, Cate Blanchett, que vem colecionando indicações aos principais prêmios (já ganhou o Globo de Ouro e está na disputa pelo Oscar de melhor atriz, um dos seis a que a produção concorre, incluindo os de filme, diretor e roteiro).

Para desconforto de parte do público, o novo trabalho do diretor Todd Field, seu primeiro longa-metragem desde “Pecados íntimos” (2006), descreve a ascensão e queda de uma maestrina genial e geniosa que, no pico de sua carreira, encara o abismo pessoal e profissional quando escândalos envolvendo seu comportamento vêm a público.

Interpretação de cada um

Cate Blanchett, dona de dois Oscars (por “O aviador”, de 2005, e “Blue Jasmine”, de 2014), lembrou que qualquer interpretação negativa em torno do estudo sobre abuso de poder feito por Field não está sob controle da equipe.

— Depois que um filme é feito, ele pode ser politizado, disseminado, discutido. As pessoas podem se sentir enojadas, ofendidas ou inspiradas por ele. Mas isso está fora do nosso controle — disse a atriz australiana em Veneza, de onde saiu com sua segunda Copa Volpi de melhor atriz (a primeira foi por seu desempenho em “Não estou lá”, de 2007, de Todd Haynes . — Não pensei no gênero da personagem, ou na sua sexualidade. Gosto do que minha personagem é, sem ser especificada ou que sua existência seja rastreada ao nível do gênero. É isso que admiro no filme de Todd.

Quando Cate arrebatou o Globo de Ouro de melhor atriz em filme dramático por seu desempenho, a mundialmente famosa maestrina americana Marin Alsop, tema do documentário “The conductor” (2021), de Bernadette Wegenstein, reclamou do longa. “Eu me senti ofendida como mulher, como maestrina e como lésbica”, disse ao The Sunday Times.

Embora divida algumas características biográficas com Marin, a Lydia Tár de Cate Blanchett é uma personagem ficcional. Ela acaba de ser nomeada diretora da Orquestra Filarmônica de Berlim, uma das mais respeitadas do mundo, e ainda colhe os louros da recém-lançada autobiografia, “Tár on Tár”, escrita para celebrar os seus 50 anos. Sua vida com a companheira Sharon (Nina Hoss), com quem cria uma filha, é ligeiramente afetada por seu comportamento frio e obstinado. Mas as pistas de que há algo eticamente condenável em Lydia começam a ficar claras em suas relações sexuais com duas de suas ex-alunas, uma das quais trabalha agora como sua assistente pessoal (Noémie Merlant, de “Retrato de uma jovem em chamas”).

Cate Blanchett com a Coppa Volpi de Melhor Atriz do Festival de Veneza por seu papel no filme "Tár" — Foto: Tiziana FABI / AFP
Cate Blanchett com a Coppa Volpi de Melhor Atriz do Festival de Veneza por seu papel no filme "Tár" — Foto: Tiziana FABI / AFP

As evidências vão se acumulando ao longo da narrativa, que se passa nos bastidores do exclusivo universo da música clássica. Lydia Tár usa seu prestígio como maestrina e sua posição recém-conquistada na Filarmônica de Berlim para promover afetos ou remover desafetos pessoais. E mal consegue esconder, inclusive de sua companheira Sharon, seu interesse sexual por uma nova violoncelista. São comportamentos geralmente associados a homens em posição de poder.

— Admiro os filmes de Todd por isso: eles falam da existência de forma íntima, salpicando-a de contradições, como na vida real — elogiou Cate, que se embrenhou no mundo da música clássica e aprendeu alemão para compor sua personagem. — Lydia é assim, vive um buquê variado de experiências, tanto na esfera pessoal quanto profissional. Por um certo ponto de vista, porém, quase parece um conto de fadas contemporâneo porque, numa sociedade patriarcal como a nossa, não há ninguém como ela para liderar um dos palcos mais prestigiados do mundo alemão. Lydia está no Olimpo, venceu como artista mas, como ser humano, sabe que o próximo passo vai derrubá-la, e talvez isso seja o horror de sua vida.

Mudança no cinema

A atriz comentou ainda mudanças que aconteceram para as mulheres na indústria cinematográfica.

— Eu vim do teatro e nunca esperava ter uma carreira em cinema. Quando comecei a fazer filmes, ouvi do meu marido: “Aproveite, querida, você terá cinco anos de carreira, se tiver sorte.” E isso era verdade para as mulheres nesse negócio — diz. — Acho que muitas pessoas estão mudando isso. Não apenas as atrizes pioneiras que ultrapassaram os limites. Elas aproveitaram as oportunidades em pequenos papéis para torná-los grandes e importantes. Há homens incríveis do nosso lado também, mas é muito difícil conseguir que nossos irmãos de Hollywood interpretem os papéis coadjuvantes, em uma boa história, com um bom diretor, com muito prazer.

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