Filmes
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Por Carlos Helí de Almeida; Especial Para O GLOBO — Rio de Janeiro

A confirmação da atriz Kristen Stewart, uma das mais jovens estrelas de Hollywood, nascida em 1990, como presidente do júri internacional do Festival de Berlim, em dezembro passado, foi a primeira pista. A competição da 73ª edição da Berlinale, que começa hoje com a projeção, fora de competição, da comédia romântica “She came to me”, de Rebecca Miller, reforça seu compromisso de abrir espaço para novos talentos. Ao lado de velhos conhecidos da mostra alemã, como Philippe Garrel (“The plough”), Margarethe Von Trotta (“Journey into the desert”) e Christian Petzold (“Afire”), competem pelo Urso de Ouro nomes como a canadense Celine Song (“Past lives”), o italiano Giacomo Abbruzzese (“Disco boy”) e a espanhola Estibaliz Urresola Solaguren (“20.000 especies de abejas”).

Livre das restrições impostas pela pandemia — depois de uma edição on-line em 2021 e outra em versão enxuta e cheia de rígidos protocolos sanitários em 2022 —, Carlo Chatrian, diretor artístico do festival, sentiu “a necessidade de todos começarem a pensar em termos de reconstrução”.

— A Berlinale está de volta com um programa que oferece perspectivas jovens, ousadas e ecléticas. Este ano, mais do que nunca, fazer parte da mostra é estar lado a lado com aqueles que lutam para expressar suas ideias, que se recusam a se submeter a uma versão conformista da realidade que dita o que se deve e o que se pode dizer — afirmou Chatrian, ao definir o espírito da seleção deste ano. — Exibiremos filmes que contam a história do mundo com todas as suas feridas e belezas comoventes, e que tentam substituir uma realidade por outra, talvez mais sintonizadas com os nossos desejos. Os títulos selecionados têm a coragem de afirmar um ponto de vista, mesmo quando isso vai contra a maré.

‘20.000 especies de abejas’. Sofía Otero no filme da espanhola Estibaliz Urresola Solaguren: na mostra competitiva do Festival de Berlim 2023 — Foto: Divulgação
‘20.000 especies de abejas’. Sofía Otero no filme da espanhola Estibaliz Urresola Solaguren: na mostra competitiva do Festival de Berlim 2023 — Foto: Divulgação

Vocação política

A Berlinale festeja o novo, celebra os veteranos — Steven Spielberg é homenageado com uma retrospectiva de seus filmes e receberá um Urso de Ouro honorário pelo conjunto da carreira —, mas não perde de vista sua vocação política. Particularmente num ano em que a maratona coincide com o primeiro aniversário do início da invasão russa à Ucrânia, no dia 24. A grade da programação contém nove produções — documentários, em sua maioria — que descrevem o cotidiano ucraniano em tempos de conflito. Entre estes estão “Eastern front”, de Vitaly Mansky e Yevhen Titarenko, rodado nas linhas de frente contra o exército russo, “Iron butterflies”, um ensaio poético dirigido por Roman Liubyii, e “In Ukraine”, de Piotr Pawlus e Tomasz Wolski, um mergulho na realidade do país invadido desde o início do conflito.

O ponto alto desse abraço à causa ucraniana é a exibição de “Superpower”, o tão falado documentário que o ator e diretor Sean Penn filmou na Ucrânia em fevereiro do ano passado. Codirigido por Aaron Kaufman, o longa é a grande atração da mostra Berlinale Special Gala.

— Penn estava em Kiev fazendo um filme sobre o (presidente ucraniano Volodymyr) Zelensky quando a guerra estourou — lembrou o diretor artístico do festival. — A realidade fez com que o filme se transformasse em algo menos confortável e mais significativo. O documentário é um testemunho do papel da arte e dos artistas na guerra. Exibir “Superpower” em Berlim talvez tenha um significado mais relevante do que em qualquer outro lugar, porque estamos perto da Ucrânia, há ucranianos vivendo em Berlim, e também pelo valor político deste filme. Estou ciente de que o documentário atrairá muita atenção, é uma grande porta para permitir que você entre na descrição muito complexa e rica do que aconteceu e ainda está acontecendo na Ucrânia.

A Berlinale também estende sua solidariedade ao Irã, desde setembro sacudido por intensas manifestações contra abusos cometidos pelas autoridades locais contra os direitos humanos. O festival alemão, que sempre apoiou cineastas daquele país, e tem três deles entre os vencedores do Urso de Ouro — Mohamad Rasoulof, Asghar Fahadi e Jafar Panahi, recém-liberado da prisão —, abriu a programação para uma série de filmes iranianos e painéis de discussão da situação do país, como “Mulher, vida, liberdade”, sobre o papel do cinema e das artes nos protestos.

— Estamos ombro a ombro com aqueles que lutam para expressar suas ideias — reitera Chatrian.

de Cate Blanchett a Bono

Dramas à parte, o tapete vermelho está garantido. A seção paralela Berlinale Special garante a presença de nomes como Cate Blanchett e Todd Field, protagonista e diretor de “Tár”, filme que concorre a seis Oscars, John Malkovich e Geraldine Chaplin, ambos no elenco de “Seneca — On the creation of earthquakes”, de Robert Schwentke, e Bono, vocalista do U2, representando “Kiss the future”, de Nenad Cicin-Sain.

O Brasil na Berlinale. “A Rainha Diaba” (1974), com Milton Gonçalves: sessão especial entre os longas verde-amarelos — Foto: Divulgação
O Brasil na Berlinale. “A Rainha Diaba” (1974), com Milton Gonçalves: sessão especial entre os longas verde-amarelos — Foto: Divulgação

O cinema brasileiro estará presente através dos longas-metragens “Propriedade”, do pernambucano Daniel Bandeira, na mostra Panorama; “O estranho”, de Flora Dias e Juruna Mallon, na seção Forum; e a projeção especial da cópia restaurada de “A Rainha Diaba” (1974), de Antonio Carlos da Fontoura, destaque da mostra Forum Special. Há ainda os curtas “Infantaria”, de Laís Santos Araújo, na seção Generation 14Plus, “A árvore”, de Ana Vaz, na Forum Expandede, e “As miçangas”, de Rafaela Camelo e Emanuel Lavor. A programação da Berlinale vai até o dia 26.

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