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Por Lucas Salgado


Cena do filme "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo" (2022) — Foto: Divulgação
Cena do filme "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo" (2022) — Foto: Divulgação

Um dos grandes filmes dos últimos tempos ou fenômeno passageiro? Ganhador merecido do Oscar ou deslize da Academia? Jovem clássico inovador ou exagero supervalorizado? Poucos filmes dividiram tanto as opiniões recentemente quanto “Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”. Grande vencedor do Oscar com sete estatuetas, longa de Daniel Kwan e Daniel Scheinert fez história não apenas por alguns de seus prêmios, como o da primeira mulher de origem asiática vencedora na categoria melhor atriz, para Michelle Yeoh, mas por se tornar um dos mais controversos ganhadores do troféu de melhor filme da história recente da premiação. E, mesmo passados quase dez dias da entrega, ele continua dominando conversas (reais e virtuais) de quem se interessa por cinema.

Além das estatuetas já citadas, o filme recebeu outros cinco troféus: melhor direção, roteiro original, montagem e ator e atriz coadjuvantes (Ke Huy Quan e Jamie Lee Curtis). A trama reúne dois temas em alta na cinematografia contemporânea, a existência dos multiversos e o choque cultural entre gerações de famílias imigrantes, como atestam os longas da Marvel e animações como “Red — Crescer é uma fera”, da Pixar. A grande quantidade de informações e a forma caótica como elas surgem na tela são um dos primeiros pontos de discórdia entre fãs e detratores do longa, com os primeiros defendendo a edição ágil e os outros enxergando apenas a influência do ritmo dos vídeos do TikTok nas ilhas de montagem.

Antes mesmo de brilhar na 95ª cerimônia do Oscar, o longa já colecionava troféus nas principais premiações da temporada, como o Critics Choice Awards, o SAG Awards, o Independent Spirit Award, entre outros. No total, foram 165 prêmios importantes, que dão ao filme o posto de produção mais laureada da História, superando “O senhor dos anéis: o retorno do rei” (2003) e suas 101 honrarias, segundo levantamento do site IGN. Mas foi justamente o Oscar que o colocou no centro do debate da cinefilia em 2023. A unanimidade esteve longe mesmo entre os colunistas do GLOBO: enquanto Ruth de Aquino o classificou nas páginas do Segundo Caderno de “infantiloide, barulhento, chato, pretensioso e piegas”, Cora Rónai o defendeu em suas redes sociais: “Loucamente criativo, inteligente e engraçado — e comovente também.”

Anárquico

Durante a transmissão da cerimônia pelo canal TNT e pelo streaming da HBO Max, a atriz Camila Morgado, que comentava a premiação, falou da complexidade do longa. A quantidade de informações que toma a tela de assalto foi o ponto mais criticado pela atriz.

— Ele não faz parte dos meus filmes favoritos do Oscar, apesar de achar a composição dos atores ótima, como também o trabalho da Michelle Yeoh, incrível. Sem falar na montagem, que é extraordinária. Mas achei um filme confuso, frenético, difícil de chegar até o final — comenta. — Fiquei com a impressão de ser um filme mais voltado para o público jovem, porque acho que é uma metáfora para a quantidade de informação e o excesso de mídia que recebemos nos dias atuais. A maneira de os jovens se relacionarem com esta atmosfera de excessos é diferente da minha.

Foi justamente a forma anárquica com que as informações se sobrepõem diante dos olhos do espectador o que conquistou o ator, humorista e roteirista Fernando Ceylão, para quem o longa é “o filme americano que melhor define o seu tempo desde ‘Encontros e desencontros’”, longa dirigido por Sofia Coppola em 2003. Ceylão vê no ritmo acelerado a referência da vida digital:

— Em resumo anedótico, o filme é aquele meme que as pessoas fazem de si mesmas, imaginando-se em versões paralelas: no Instagram, no Facebook, no Twitter e no Tinder — diz.

Para Ceylão, o filme espelha a “infinidade assustadora e fascinante de possibilidades da inteligência artificial”.

— Então um Deus com teclado em mãos, você cria o que puder imaginar: “Chewbacca no barbeiro”, “Simpson estilo Tim Burton”, “Superman usando máscara cirúrgica”. Basta comandar e a IA realiza — observa Ceylão. — Ele está longe de ser perfeito. Eventualmente, perde-se em sua vontade de ser grandioso e tem momentos bem bobos. Por isso mesmo é o grande retrato audiovisual do nosso tempo. Tem coisa mais “internética” do que provocar discussões filosóficas, existenciais e, ao mesmo tempo, ser apenas uma desculpa para ver Michelle Yeoh em brigas triunfantes contra inimigos com plugs anais enterrados?

'Não gostei, mas meu filho adorou'

Por falar tanto aos nativos digitais, o diretor Sérgio Machado (“Cidade Baixa”, “O rio do desejo”) acredita que possa haver um corte entre gerações na apreciação do filme.

— Não gostei muito, mas vi com meu filho, que adorou. Achei meio confuso e não consegui embarcar, por mais que tentasse. Tudo me pareceu artificial, rápido demais. As emoções meio óbvias e superficiais. Tenho dificuldade de embarcar nesse estilo de filme que parece ser um subproduto do game e do videoclipe — critica o diretor, de 54 anos. — Mas, por outro lado, meu filho (de 18), que é um cara sensível e gosta de cinema, embarcou completamente, foi às lágrimas no final e torceu pelo filme no Oscar. Talvez seja mesmo uma questão geracional.

O produtor cultural Cavi Borges destaca como o longa dos Daniels conquistou a audiência jovem:

— Observei que o filme foi “abraçado” pelos jovens, alguns chegam a vê-lo três, quatro vezes. Pessoalmente, achei o filme interessante e criativo, mas não chegou a me impactar como outros vencedores do Oscar. Fui ver até duas vezes para prestar mais atenção aos detalhes, mas não achei que merecesse tanto Oscar.

Um dos mais conhecidos influenciadores do país, Felipe Neto, de 35 anos, tuitou em janeiro que foi conquistado pela trama na segunda tentativa de assisti-la: “Tinha tentado assistir e tinha parado no meio. Tinha odiado. Agora botei do início de novo e vi tudo. Estou sem chão. Chorei que nem criança. Tudo se encaixou. Meu Deus…”

Como longas dos anos 1970

Cineasta e colunista do GLOBO, Cacá Diegues destaca a importância do filme dentro do contexto do cinema internacional:

— Ele tem um certo charme e se parece muito com filmes brasileiros feitos nos anos 1960 e 1970, uma espécie de delírio baseado em personagens que podem ser reais. Não que tenha me encantado, mas é importante e necessário pela sua distância do cinema americano médio e regular. Viva o cinema como uma surpresa, mesmo que não atenda a todas as nossas expectativas.

A atriz Dira Paes é só elogios para as transformações de linguagem propostas pelo longa:

— É arrebatador, inovador e divertido. Uma obra que envolve talentos capazes de transformar em cinema a rebuscada ideia original. Provocando o tempo todo o espectador, sem deixá-lo passivo na cadeira. (Com colaboração de Gustavo Cunha e Nelson Gobbi)

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