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Por Lucas Salgado — Rio de Janeiro

Se você acha que os filmes do Oscar estão ficando mais longos, achou certo. Os dez indicados à estatueta de melhor longa este ano tem duração de 145 minutos em média, a maior do século na principal categoria do prêmio.

Em 2011, os indicados a melhor filme tinham 116 minutos de duração média. A partir daí, o viés foi de alta, e chegamos a 2023 com quase duas horas e meia de média, num rol que tem desde o “sucinto” “Entre mulheres” (1h44) ao épico “Avatar: o caminho da água” (3h12). Detalhe: este tempo seria ainda maior se a categoria tivesse incluído cotados como “Blonde” (2h46), “RRR” (3h07) e “Babilônia” (3h09).

A longa duração vai além do Oscar, e abrange favoritos da crítica e campeões de bilheteria. Dos dez filmes mais vistos no mundo no ano passado, apenas dois tinham menos de duas horas (“Minions 2: a origem de Gru” e “Thor: amor e trovão”, este a meros dois minutos da marca). Um passeio pelo streaming nos leva a produções também com ampla duração, mesmo entre gêneros que não costumavam seguir tal tendência, como comédias românticas e produções infantojuvenis.

  • 145 minutos. A média de duração dos indicados a melhor filme em 2023 é a maior em 32 anos. Para maratonar todos os filmes, o cinéfilo precisa tirar um dia e vinte minutos.
  • 1991. Com uma duração média de 147 minutos, os concorrentes a melhor filme em 1991 superaram a seleção da atual edição. À época, a média de duração foi impulsionada pelos épicos “Dança com lobos”, “O poderoso chefão: parte III” e “Os bons companheiros”. “Ghost — Do outro lado da vida” e “Tempo de despertar”, ambos com mais de duas horas, completaram a lista de indicados na categoria.
  • Filme mais longo. O clássico “E o vento levou” (1939) é o filme de maior duração a conquistar o Oscar na categoria principal, com 3h58. Se analisadas todas as categorias, a produção mais longa é o russo “Guerra e paz” (1956). Vencedora na categoria melhor filme estrangeiro, a obra inspirada em clássico de Liev Tolstói conta com 7h33 .
  • Filme mais curto. Drama estrelado por Ernest Borgnine, “Marty” (1955) é o vencedor do Oscar de melhor filme com menor duração. O longa possui apenas 1h30.
  • Curta. São 100 segundos. Esta é a duração do filme mais curto a receber uma indicação na história da premiação da Academia. “Fresh guacamole” (2012), de Adam Pesapane, concorreu na categoria melhor curta-metragem de animação, em 2013, mas acabou derrotado.
  • ‘Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo’. Com 2h19 de duração, o filme-sensação da temporada chega ao Oscar 2023 como grande favorito. Se conquistar o troféu principal da noite, o longa dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert será a produção de maior duração a levar o prêmio desde 2007, quando “Os infiltrados”, de Martin Scorsese, saiu vencedor com suas 2h31.

Na onda de Cameron

Em cartaz com dois filmes com mais de três horas de duração (“Avatar: o caminho da água” e “Titanic”, relançado em comemoração ao aniversário de 25 anos), James Cameron acredita que o drama estrelado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet ajudou a mudar a ideia de que filmes longos perdiam dinheiro por terem menos sessões diárias nos cinemas.

Relançamento de 'Titanic'  — Foto: divulgação
Relançamento de 'Titanic' — Foto: divulgação

— Antes de “Titanic”, o senso comum, que provou não ser verdadeiro, era de que um filme longo não dava dinheiro. Uma coisa que aprendemos é que a duração não é importante. Um filme de 1h30 pode parecer arrastado, e um de 3h15 pode fazer as pessoas voltarem aos cinemas várias vezes — diz o cineasta, dono de três das quatro maiores bilheterias da História.

Diretor da distribuidora e produtora Paris Filmes, Jorge Assumpção acredita que o mercado aprendeu a lidar com filmes maiores e, consequentemente, com menos sessões diárias. Ele cita o exemplo de “John Wick 4: Baba Yaga”, que terá 2h49, sendo o mais longo da saga estrelada por Keanu Reeves. O filme estreia dia 23, com distribuição da Paris.

— “John Wick” é uma franquia consolidada, o filme contará com sessões Imax e em salas prime, que possuem tíquete médio mais caro. No final, o resultado acaba sendo balanceado e a duração não influencia tanto — destaca Assumpção.

Antecedente

Diretor de “O caminho das nuvens”, Vicente Amorim lembra que filmes de longa duração vêm em ondas e que o cinema já teve outros momentos em que Hollywood investia em grandes épicos. “E o vento levou” (1939), de Victor Fleming, é um dos maiores sucessos da história mesmo com suas 3h58. “Os Dez Mandamentos” (1956), com 3h40, “Ben-Hur” (1959), com 3h32, “Lawrence da Arábia” (1962), com 3h38, e “O poderoso chefão 2” (1974), com 3h22, são alguns de uma grande lista de épicos com longa duração. O que chama a atenção no momento, dizem especialistas, é a tendência retornar numa época marcada pelo imediatismo e por vídeos curtos nas redes sociais.

— Estamos em um momento em que as histórias estão precisando de mais tempo para se desenvolver. Talvez seja uma influência das séries, onde se dá mais tempo para o desenvolvimento das narrativas — aponta Amorim.

Vicente Amorim observa que sempre teve uma preferência pessoal por filmes não muito longos, de até duas horas, mas que nos últimos tempos tem apreciado melhor produções de maior duração. Ele acredita que os realizadores têm conseguido pensar em histórias que funcionam com um tempo maior, sem necessariamente soar desgastantes ou arrastadas.

O crítico Mario Abbade também defende que a longa duração da atual safra cinematográfica se deve, em parte, por uma influência das séries de TV.

— Nos últimos anos, com o sucesso de séries como “Família Soprano”, “Breaking bad” e “Mad men”, vemos muitos diretores falando que é mais fácil desenvolver uma história na TV ou no streaming do que no cinema, porque você tem mais tempo. Vimos muitos atores que não faziam séries migrando para o formato pela oportunidade de poder desenvolver melhor os personagens — relata Abbade. — Hoje, grandes diretores trabalham na televisão e no streaming, onde podem contar histórias através de oito, dez episódios. Esse tempo maior acabou influenciando também nas narrativas do cinema. É interessante que a linguagem cinematográfica sempre influenciou a televisiva, e agora vemos o oposto.

Mudança de hábito

Seja no cinema ou no streaming, os filmes de longa duração parecem um segmento consolidado. “Vingadores: ultimato” empolgou o público com suas 3h02 e muitos ficaram surpresos ao descobrir que “A barraca do beijo 2”, uma comédia romântica voltada para o público teen, contava com 2h11 de duração, mostrando que a tendência não está apenas em um gênero, formato ou meio de exibição.

Cartaz de "Vingadores: Ultimato" — Foto: Divulgação
Cartaz de "Vingadores: Ultimato" — Foto: Divulgação

Fernando Meirelles, diretor de “Cidade de Deus” (2h13 bem exploradas), tem larga experiência no cinema internacional. Para o brasileiro, o atual momento está diretamente ligado ao modo como as pessoas consomem produções audiovisual, especialmente no streaming.

— Acho que as pessoas se acostumaram a maratonar, e grande parte do público assiste a um filme de três horas como uma série, em duas ou três partes. Se começo a ver um filme comprido muito tarde e fico cansado, eu paro e continuo no dia seguinte. Não vejo problema em assistir a um filme como “O irlandês” ou “Bardo” como se fosse uma série. As plataformas topam esses filmes longos porque sabem qual é o hábito do espectador.

Diretora executiva do Festival do Rio, Ilda Santiago também notou, na última edição do evento, que os filmes estão ficando mais longos. Ela atribui a situação a uma tendência pós-pandêmica:

— Todos os filmes estão um pouquinho mais longos nessa volta pós-pandemia. Acho que isso é um contraponto a esse turbilhão de imagens muito rápidas, a um consumo muito rápido de imagens de temos hoje em dia. Acho que o cinema, mais uma vez, nos convida a buscar um certo tempo interior para mergulhar em uma história. É uma busca de diretores e diretoras de nos trazer de novo para um tempo mais humano, menos acelerado.

Jeitão de Marvel

Cinéfilo e presença constante em festivais de cinema, como a Mostra de São Paulo, o bancário Hélio Flores diz que a duração é irrelevante na hora de escolher um filme para assistir, mas que vê o fato das produções estarem ficando mais longas como um reflexo da uma falta de concisão da indústria:

— Tenho impressão que o cinema americano foi perdendo a habilidade de criar uma trama interessante de forma mais sintética. Isso parece ter relação direta a formação de um espectador mais interessado na trama serializada, em personagens que pode acompanhar em histórias que se desdobram por vários episódios. Não é à toa que essa seja a ferramenta fundamental pro sucesso do Universo Marvel no cinema.

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