Média-metragem que também vai ser condensado num curta, “Nação, o filme” conta a história fictícia de Chicão, rapaz de 22 anos que sobreviveu quando criança a uma tragédia real: a Chacina da Baixada (Fluminense), em 2005, quando um grupo de policiais, insatisfeitos com ações de moralização da instituição, saiu por várias localidades da região do Grande Rio atirando aleatoriamente (e matando 29 pessoas). Traumatizado pelo assassinato da mãe, Chicão vira militante político e cria um plano para salvar o país de 2022: sequestrar a primeira-dama e exigir a renúncia do presidente.
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Tudo saiu da cabeça de Rafael Silva: 24 anos, garoto de favela e cineasta há 15. Amanhã, às 15h, no cinema do Memorial Getúlio Vargas, na Glória, no Rio, ele faz a pré-estreia gratuita de “Nação” — que estreia, com ingressos à venda, dia 12, às 13h, numa das salas de cinema do Bangu Shopping. É a maior vitória até agora na vida de Rafael, morador de Senador Camará, na Zona Oeste carioca, que conseguiu viabilizar o filme com a ajuda de amigos e atores conhecidos como Taís Araújo (produção), Milhem Cortaz e Arieta Corrêa (que atuam de graça no filme).
— Na adolescência, eu ia ao Bangu Shopping e sonhava com o dia em que um filme meu ia ser exibido ali — conta o diretor, produtor e roteirista. — Enviei um e-mail para o cinema e me responderam no dia seguinte. Por enquanto, é uma sessão só. Gostaria que “Nação” passasse uma semana inteira e entrasse no circuito... Mas é caro, né?
O caminho para chegar até Bangu foi mais longo do que se possa imaginar. Nascido em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, Rafael perdeu o pai, funcionário da Comlurb, assassinado pelo tráfico. Já na comunidade do Caçapava, no Andaraí, aos 9 anos, com a ajuda (e a câmera) do padrasto, começou seus primeiros filmes, distribuídos em DVD e pelo YouTube. Sua inspiração eram “Cidade de Deus” e “Tropa de elite”.
Depois de um filme mais elaborado (“Exumação”) e um curso de cinema pago com a ajuda de um amigo, o garoto pôs na cabeça que tinha que conhecer a TV Globo. Mandou mensagens para os nomes que via nos créditos das novelas — e teve uma resposta, de Lamartine Ferreira, o Lama: diretor assistente revelado em “Cidade de Deus”. Lama conseguiu que ele fosse estagiar no set da novela “Amor de mãe”.
— Dava pra perceber que também iríamos aprender com ele — elogia Taís.
Para Lama, Rafael Silva pode ainda não ter técnica, mas aprende rápido e tem a força de vontade para chegar lá:
— E o banco de atores dele é sensacional.
Parte dos atores de “Nação” foram arregimentados em comunidades e treinados por Rafa para um filme que tem cenas com drones, figurinos verossímeis e tiroteios com bom uso de efeitos especiais.