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Por — Rio de Janeiro

Tempos atrás, um tuíte de internauta brasileira viralizou com um pedido: “Eu apoio 100% a criação de um botão ‘pular cena de sexo’ em todos os streamings no estilo daquele de ‘pular abertura’”. A publicação recebeu muitas críticas, mas também encontrou inúmeras pessoas que pensavam da mesma forma, ecoando um debate que sempre volta às redes sociais: cenas de sexo de filmes e séries são necessárias?

O tópico voltou na última semana. Após a estreia da série “Enxame”, cenas de nudez envolvendo os personagens de Chlöe Bailey e Rory Culkin trouxeram nova discussão sobre a necessidade deste tipo de sequência. Muitos consideraram a cena uma violência contra a atriz — mesmo com Chlöe afirmando que recebeu todo o cuidado na gravação do trecho de poucos segundos.

O curioso é que esta reação surge num período em que muitas produções oferecem coordenadores de intimidade e em que realizadores estão mais atentos a questões como a objetificação da mulher, a erotização da violência sexual e o olhar masculino da imagem.

— O sexo é parte importante da vida das pessoas. Claro que temos o lado ruim do sexo sendo hiper explorado de forma vil na pornografia, mas daí a abolir o sexo do cinema é algo que acho lamentável. Não podemos entrar numa onda moralista que finge que o sexo não existe — defende Sérgio Machado, diretor de filmes como “Cidade Baixa” e “O rio do desejo”, em que a sexualidade é parte importante da história. — Sexo nos meus filmes nunca é doença, é sempre sinônimo de felicidade. Foi algo que aprendi com Jorge Amado. O que é doença é a repressão.

Hollywood mais pudica

O fato é que o cinema mainstream de Hollywood parece sim ter deixado o sexo de lado nos últimos tempos. Dos dez filmes de maior bilheteria em 2022, nenhum tem cena de sexo. Em 2021, um artigo da escritora Raquel S. Benedict, no site “Blood knife”, chamou a atenção com o título “Everyone is beautiful and no one is horny” (“Todo mundo é bonito e ninguém sente tesão”, na tradução livre). O texto fala sobre como os blockbusters de super-heróis tinham o costume de fetichizar corpos mas dessexualizar as tramas.

Chris Hemsworth em 'Thor: O mundo sombrio' Divulgação — Foto: Divulgação
Chris Hemsworth em 'Thor: O mundo sombrio' Divulgação — Foto: Divulgação

“Os atores estão mais fisicamente perfeitos do que nunca: impossivelmente magros, incrivelmente musculosos, com cabelos magnificamente penteados, maçãs do rosto salientes, aprimoramentos cirúrgicos precisos ​​e pele impecável, todos exibidos em trajes de super-heróis com a cena obrigatória sem camisa para mostrar o abdômen definido. (...) Mesmo os vilões (frequentemente vestidos com maquiagens monstruosas) são interpretados por artistas convencionalmente atraentes. Ninguém é feio. Ninguém está fora de forma. Todos são bonitos. E, no entanto, ninguém sente tesão”, diz o texto de Benedict.

Uma análise geral dos filmes da Marvel mostra bem isso. O sexo estava presente no primeiro filme (“Homem de Ferro”, de 2008), mas é ignorado nos projetos atuais — mesmo com vários heróis tendo filhos pelo caminho.

— Nos últimos anos, os maiores blockbusters extirparam a sexualidade dos personagens. Existe a representação de corpos nos padrões mais limitados de beleza e esses corpos não desejam — destaca Isabel Wittmann, antropóloga e crítica de cinema que pesquisa gênero e sexualidade no cinema através de uma perspectiva feminista e queer. — Vejo algumas pessoas culpando o movimento Me Too, mas acho isso extremamente problemático. Colocar a culpa da representação da sexualidade não existir no cinema mainstream contemporâneo em um movimento de cunho feminista que denunciou as aproximações de cunho sexual inadequadas na indústria, mostra que as pessoas que estão fazendo essas escolhas não sabem diferenciar o que é uma sexualidade consentida e o que é um assédio.

Wittmann lembra que algumas pesquisas indicam que a geração Z (formada por pessoas nascidas entre 1995 e 2010) engaja menos em atividades sexuais em comparação às anteriores. Ela acredita existir uma relação na ausência de um contato íntimo com outra pessoa com a forma como esses jovens se relacionam com a presença do sexo em obras audiovisuais.

Onda conservadora

No início de fevereiro, durante a divulgação para a estreia da quarta temporada de “Você”, o ator Penn Badgley deu uma entrevista ao podcast “The Radio Times” informando que teria pedido aos produtores da série que evitassem cenas de sexo para seu personagem, como forma de reforçar sua fidelidade à esposa. Mais uma vez, a internet foi tomada de pessoas argumentando que ele estaria certo e que o sexo não deveria estar nas telas.

Psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP, Daniel Kupermann acredita que o incômodo com a sexualidade nas telas está associado com o conservadorismo atual.

— A sexualidade na arte tende a ser um elemento perturbador dos valores. Toda manifestação sexual, especialmente quando não convencional, é repudiada. Temos uma onda conservadora que é política, mas também dos costumes, e que afeta toda a sociedade, como vemos nos ataques ao próprio carnaval — aponta Kupermann. — A obra de arte nos remete às experiências eróticas do amor e do prazer, elas provocam questionamentos. A pessoa vê aquilo e não fica incólume. O erotismo mostra que nossa vida tem um potencial gigantesco e nos faz questionar: "será que estamos utilizando este potencial?" O erotismo provoca um questionamento existencial que nem todo mundo sabe lidar.

No elenco de “Todas as flores” e em cartaz nos cinemas com “A porta ao lado”, dois projetos em que atua em cenas de sexo, a atriz Letícia Colin também acredita em uma onda conservadora que “se propõe a nos distanciar dos nossos desejos”. Ela defende que a sexualidade em cena também é importante para reconstruir um olhar tradicionalmente masculino.

Cena de  ‘A porta ao lado’  — Foto: divulgação
Cena de ‘A porta ao lado’ — Foto: divulgação

— Acho que nós temos que ser encorajados a nos aproximar dos nossos desejos e lembrar que isso não é uma coisa ruim. O sexo, o tesão, são manifestação de vida, manifestação do que a gente tem de poderoso — conta Colin, que acha que faz parte do trabalho do ator saber separar o sexo nas telas da vida pessoal. — Sabemos que nossos corpos enquanto ator ou atriz são instrumentos de emoções e do trabalho, e nós somos extremamente respeitosos. Isso é o nosso trabalho, quando a gente está ali, a gente está a serviço daqueles personagens. Isso não diz respeito aos casamentos ou relações dos atores.

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