Filmes
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Por Carlos Helí de Almeida; Especial Para O GLOBO — Nyon

O post em rede social no qual Kleber Mendonça Filho informou aos fãs, no início de abril, a notícia da escalação de “Retratos fantasmas” para a seleção do 76º Festival de Cannes — onde o filme será exibido sexta-feira — recebeu quase duas mil curtidas e centenas de mensagens de congratulações. Mas houve quem não atentasse para a liberdade criativa do autor e, fazendo o gênero apegado, manifestasse certa contrariedade com o diretor de “Aquarius” (2016) e “Bacurau”, ganhador do prêmio do júri da edição de 2019 da mostra francesa, por supostamente ter abandonado uma sequência de “filmes de gênero com questões extremamente brasileiras” para fazer “um documentário sobre os cinemas antigos de sua cidade”.

— As pessoas se apegam aos filmes que você faz e cada uma desenvolve um jeito de se relacionar com eles. Diria que 100% dos admiradores reagem com amor, mas sempre tem alguém que espera ver um “Aquarius 2”ou “Bacurau 2”. Para esses, recomendo esperar para assistir a “Retratos fantasmas”. Porque cada filme que faço abre mais um mapa da cidade, do Brasil; é uma forma de descobrir um lugar novo, a que não dávamos atenção — reagiu, com bom humor, o realizador em conversa durante a 54ª edição do festival Visions du Réel de documentários, onde participou do júri da competição internacional.

Até porque, para o diretor, é quase impossível fazer um filme brasileiro sem mostrar uma faceta do Brasil:

— É até engraçado. Basta falar algo do país com uma certa contundência que te rotulam de militante. Mas é tão trabalhoso esterilizar um filme brasileiro de Brasil, passar água sanitária na trama, como que querendo afirmar: “Não vai ter Brasil nenhum aqui nessa história!” — diz o realizador, que já tangenciou temas como especulação imobiliária e opressão social em seus filmes anteriores. — Acho muito mais difícil higienizar uma história do que falar de coisas que são tão comuns no nosso país. É praticamente impossível contar um caso brasileiro sem falar sobre o que acontece no país.

O novo longa-metragem de Kleber, o primeiro documentário do realizador pernambucano desde “Crítico” (2008), recupera o legado arquitetônico e afetivo dos antigos cinemas do Recife, sua cidade natal, dos quais restam apenas vestígios. A ideia é recuperar a memória de um modo muito particular de se assistir a filmes e resgatar o papel dos grandes palácios de cinema na vida social. O ponto de partida é o Cine São Luiz, inaugurado em 1952 e única sala de rua do centro do Recife que sobreviveu à chegada dos multiplexes. Ele é a última joia de um circuito que incluía os igualmente luxuosos Boa Vista (hoje um supermercado), Moderno (loja de eletrodomésticos) e o Veneza (shopping popular).

— É um filme sobre a nossa relação com as cidades, nossa percepção dos processos de transformação, da metamorfose do lugar em que moramos. Os jovens, os adolescentes não veem isso, mas, para alguém mais velho, como eu, que já cheguei aos 50 anos, a gente vê isso acontecer na nossa frente, no dia a dia — explica o diretor de 54 anos. — Mas “Retratos fantasmas” não é um filme saudosista, do tipo “ah, como tudo era lindo naquele tempo”. Não julgo esse processo de mudanças da cidade, que considero quase biológico.

As pesquisas para o documentário começaram há sete anos e envolveram, num primeiro momento, a busca por imagens do arquivo pessoal do diretor e de instituições de preservação de patrimônio histórico, e alguns registros novos pelo Centro do Recife. Mais recentemente, o projeto ganhou contribuição do acervo de moradores da cidade, a partir de uma campanha de Kleber na internet. Mas a paixão pelo tema o acompanha desde os tempos de estudante de jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco. Um dos projetos de fim de curso é o curta-metragem “Um homem de projeção”, sobre “seu” Alexandre, que por décadas operou o projetor do antigo Art Palácio, uma das mais tradicionais salas da cidade. O outro é “Casa de imagem”, curta sobre o fim dos cinemas de bairro do Recife, realizado em parceria com Elissama Cantalice. Ambos são de 1992.

— Tecnicamente falando, é como se eu estivesse fazendo esse filme por 32 anos, desde que comecei acompanhar, com uma câmera, o fechamento do cine Art Palácio e do Trianon — observa o diretor, que espalha referências aos antigos palácios de cinema em seus filmes de ficção desde “O som ao redor” (2013). — O desaparecimento dessas salas comprometeu muito o Centro antigo da cidade, uma região incrível, mas que o mercado não valoriza. Essa foi a cidade passada para mim pelos meus pais, e que agora estou tentando passar para os meus filhos.

“Retratos fantasmas” será exibido na mostra Special Screenings, reservadas a premières especiais, fora da competição oficial pela Palma de Ouro. Mas o filme concorre ao troféu Olho de Ouro, dedicado ao melhor documentário do conjunto de todas as mostras do festival, oficiais ou paralelas. É o retorno de Kleber à seleção do maior festival de cinema do planeta desde o prêmio conquistado por “Bacurau” em 2019:

— Voltamos a Cannes em uma situação muito boa, porque “Retratos fantasmas” é um filme muito pessoal, muito brasileiro e muito sobre cinema também. Sempre desejo que um filme meu saia andando sozinho, com as próprias pernas, se for um bom trabalho. E em Cannes ele terá boa chance de ser visto por profissionais que programam outros festivais, mostras e cinemas, e críticos, pessoas que pensam de alguma maneira em cinema e acompanham o que faço.

Hitchcockiano

A passagem por Cannes será oportunidade também para buscar possíveis parceiros e formas de financiamento para “O agente secreto”, seu próximo projeto de ficção. O roteiro, inspirado em memórias de infância, foi escrito durante a pandemia e já tem um protagonista fechado: Wagner Moura. A trama se passa na segunda metade da década de 1970, e o ator interpretará um professor e chefe de departamento de uma universidade do Recife, um sujeito “massa”, segundo o cineasta. Kleber descreve a trama como “um thriller bem emotivo sobre o Brasil”, no qual o espectador só descobre a verdadeira natureza do protagonista “lá pelos 80 minutos da história, quando o personagem finalmente tira a máscara”.

Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura em encontro na Bahia — Foto: Reprodução
Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura em encontro na Bahia — Foto: Reprodução

— Ele diz muito sobre a atmosfera do Brasil naquela época — diz o diretor, que pretende publicar o roteiro em livro antes de o filme existir, “como uma entidade separada do filme, o que obviamente não é”. — É uma história bem hitchcockiana, que vai ficando mais misteriosa à medida que vamos lendo. “O agente” parte de coisas que eu lembro daquele período, de certos detalhes sobre o Brasil que se perderam, ninguém lembra mais. Existem muitas lógicas no Brasil, e o filme tem algumas dessas lógicas.

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