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Por Lucas Salgado — Rio de Janeiro

“Sou ator para viver outras vidas.” Foi assim que Paulo Miklos respondeu ao diretor Iberê Carvalho após ser sondado para o papel de um roqueiro dos anos 1980 que está iniciando uma turnê de reencontro com sua banda. O eterno Titã — que se tornou conhecido pelo grupo que coincidentemente vive uma turnê de reencontro neste momento — não queria saber de interpretar um personagem tão próximo de sua realidade, mas aceitou conversar com o diretor e acabou se apaixonando pelo projeto.

O filme em questão é “O homem cordial”, que chega hoje aos cinemas após conquistar dois Kikitos no Festival de Gramado de 2019, incluindo melhor ator para Miklos. A produção tinha estreia prevista para 2020, mas acabou adiada em razão da pandemia. Na trama, no dia em que a banda de rock que tem Aurélio (Miklos) como vocalista está voltando aos palcos, o músico é flagrado num vídeo que viralizou na internet que envolveu a morte de um policial. A partir daí, ele passa a ser alvo de ataques e perseguição ao longo de uma noite sem fim.

— É um filme que traz a nossa realidade estampada na tela. Estamos discutindo fake news, linchamento, cultura do cancelamento — diz Miklos, de 64 anos. — Quisemos discutir a rapidez e o descontrole do efeito manada nas redes sociais. Hoje em dia, vemos uma imagem de três segundos, lemos duas palavras e já temos um conceito formado sobre qualquer assunto. Não existe mais profundidade ou checagem dos fatos. É um perigo muito grande.

Paulo Miklos em cena de "O homem cordial" — Foto: Marcelo Vittorino/Divulgação
Paulo Miklos em cena de "O homem cordial" — Foto: Marcelo Vittorino/Divulgação

O artista lembra que o “cordial” do título é uma referência ao conceito criado por Sérgio Buarque de Holanda no livro “Raízes do Brasil” (1936), em que a palavra está associada à sua origem no latim, em que “cordis” significa “coração”. Assim, o “homem cordial” é aquela figura passional, cuja paixão acaba se confundindo com violência.

O roteiro de Carvalho e Pablo Stoll conversa com algumas das canções mais políticas dos Titãs, conhecidos por versos como “polícia para quem precisa / polícia para quem precisa de polícia”, “não sei se existe mais justiça / nem quando é pelas próprias mãos” ou “a televisão me deixou burro, muito burro demais / agora todas coisas que eu penso me parecem iguais”. Miklos se surpreende com o fato de as canções da banda permanecerem atuais após décadas.

— Vivemos um Brasil conturbado, com problemas sem solução. Estamos cantando um repertório de mais de 30 anos, mas que soa muito atual. Parece que fizemos essas canções pro Brasil de hoje. Isso é uma felicidade por um lado, mas por outro é bastante preocupante — diz o músico, que comemora o resultado da turnê Titãs Encontro. — É uma grande felicidade reencontrar meus companheiros. É um conjunto que se admira e se gosta muito por uma vida inteira. Tem sido muito bacana ver a reação das pessoas diante da nossa cumplicidade.

Turnê com Titãs

Miklos conta que ficou surpreso ao ver a procura do público por ingressos para a turnê dos Titãs. A banda tem se apresentado em espaços grandes e com lotação esgotada. No repertório, clássicos como “Homem primata”, “Epitáfio”, “É preciso saber viver” e “Sonífera ilha”.

Responsável pelas próprias redes sociais, Miklos está atento ao debate sobre fake news e defende a necessidade de transformar as redes num espaço mais seguro.

— A internet não pode ser terra de ninguém. Temos que ter a garantia de liberdade para transitar pelas redes com segurança.

Titãs em turnê de reencontro — Foto: Lucas Tavares
Titãs em turnê de reencontro — Foto: Lucas Tavares

Pai de Manoela, de 40 anos, fruto da relação com Rachel Salem, e padrasto dos jovens Max e Rosa, de 16 e 13 anos, filhos de Renata Galvão, com quem é casado, Miklos diz aprender muito com as “crianças”. A filha lhe dá broncas se adota uma conduta que possa parecer machista. Já a enteada foi responsável por lhe inserir no novo mundo do Tik Tok.

Miklos e Galvão, produtora conhecida por filmes como “Chega de saudade”, se casaram em novembro de 2019. Pouco depois, com a pandemia, se viram obrigados a permanecer em isolamento, e o artista transformou seu sentimento no disco solo “Do amor não vai sobrar ninguém”.

— É um disco em que todas as letras e músicas são minhas. Nos prendemos em casa para viver uma lua de mel de dois anos e meio, numa intimidade familiar muito intensa — lembra. — Foi um período esquisito para todos nós. Foi muito difícil estar longe dos amigos, longe da minha banda, longe do público. Foi um período muito complicado para nós da arte, fomos os primeiros a parar e os últimos a voltar. Mas o meu disco não reflete esse sofrimento. É leve e deseja um mundo diferente. Falei sobre amizade, liberdade e amor.

Dois lados de um artista

Apesar de ainda ser mais reconhecido pela carreira musical, Paulo Miklos comemora sua sólida trajetória como ator, que já soma 22 anos e mais de 30 trabalhos para cinema, TV, streaming e teatro. Só em 2023, ele já rodou dois filmes: “Saudosa maloca”, de Pedro Serrano, em que interpreta o compositor Adoniran Barbosa; e o suspense psicológico “Carcaça”, de André Borelli, no qual contracena com a atriz e influenciadora Carol Bresolin.

Paulo Miklos como Adoniran Barbosa  — Foto: Divulgação
Paulo Miklos como Adoniran Barbosa — Foto: Divulgação

— O cinema foi um amor à primeira vista. “O invasor” (2001) descortinou para mim toda uma possibilidade de realização artística nova. Quando me dei conta, quando assisti na tela grande ao personagem que tinha criado instintivamente, falei: “Eu quero mais”. Comecei a abraçar os convites e me preparei mais para isso. Hoje, estou realmente dividido entre essas duas atividades.

Melhor momento

Realizado com a carreira solo, o reencontro dos Titãs, a vida familiar e a trajetória como ator, Paulo Miklos celebra por estar vivendo um dos “melhores momentos da vida”. Ele espera, no futuro, ter a oportunidade de trabalhar como ator numa produção de Renata Galvão para os cinemas. Mas não tem pressa, afinal, mesmo que não oficialmente, ela está envolvida em sua vida profissional.

— A Renata é um farol na minha vida. Ela me ajuda e eu abuso dela demais como parceira, como empresária, como articuladora, como estrategista. É uma parceria muito profunda e intensa.

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