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Por Carlos Helí de Almeida, Especial Para O GLOBO — Cannes, França

É o próprio Wim Wenders que descreve o protagonista de “Perfect days”, exibido na competição do 76º Festival de Cannes, como “um anjo”. O novo filme do diretor alemão é centrado no cotidiano de Hirayama (Koji Yakusho, um dos atores favoritos do diretor japonês Akira Kurosawa), faxineiro de meia-idade que limpa os banheiros públicos de Tóquio, um sujeito caladão e aparentemente feliz com o seu trabalho e o estilo de vida simples que leva.

— Poucas pessoas o veem, ou prestam atenção a ele. Para muitos, Hirayama é invisível, como os anjos — comparou o autor do cultuado “Asas do desejo” (1987), ganhador da Palma de Ouro, e sua continuação, “Tão perto, tão longe” (1993), que lhe rendeu o Grande Prêmio do Júri, sobre anjos que perdem suas asas quando se juntam aos mortais. — De alguma forma, estamos em território semelhante (ao de “Asas do desejo”). Mas não voltaria à ideia de anjos. Esse é o mais próximo deles que consigo chegar novamente.

A ideia para “Perfect day” nasceu de uma encomenda da municipalidade da capital japonesa de uma série de fotos dos banheiros japoneses. O material poderia, no futuro, servir para um curta-metragem ou outro tipo de projeto audiovisual. Os banheiros japoneses são conhecidos pelo design, pela eficiência e pelos dispositivos high tech. Em vez de rodar o curta sobre as “belezas” que encontrou, o diretor construiu uma ficção em torno do dia a dia de um funcionário responsável pela manutenção dos aparelhos sanitários públicos.

— Vieram me perguntar: “Você viria a Tóquio para observar esses lugares incríveis?” Não preciso ser convidado mais de uma vez para ir a Tóquio — contou o cineasta, admirador da cultura japonesa e autor de “Tokyo-Ga” (1985), documentário sobre o realizador japonês Yasujiro Ozu (1903-1963). — É impossível fazer um filme em Tóquio sem pensar em Ozu. Ele é o meu professor espiritual. Espero que “Perfect days” esteja à altura da obra dele, que observava a evolução da sociedade japonesa.

A função é banal, mas Hirayama é um personagem simples só na superfície. Ele é meticuloso em sua rotina diária e perfeccionista na execução de seu trabalho — luvas, escovas, esfregões e borrifadores de material de limpeza sempre à mão. Em sua van, ouve rock e pop tirados de velhas fitas cassetes, com preferência pelas músicas de Lou Reed e Patti Smith; em casa, distrai-se com livros de grandes autores japoneses e estrangeiros. No intervalo do almoço, lê e tira fotos de suas árvores preferidas, e sorri para o mundo à volta. O único a desafiar a calma zen de Hirayama é seu jovem e imaturo assistente.

— Este é um filme muito espiritual para mim. Veio do fundo da minha alma — diz Wenders, que escreveu o roteiro de “Perfect day” com o diretor e roteirista japonês Tauma Takasaki. — Hirayama é um personagem inteiramente inspirado em Yakusho, que é um dos meus atores favoritos. Ele tem tanta humanidade que tocou a minha alma.

“Perfect days” é um filme melancólico e poético sobre um homem em busca da felicidade, segundo o diretor. Um oásis de tranquilidade e otimismo dentro da programação de filmes de Cannes, abarrotada de crises e conflitos.

— O que queria contar com esse filme é que existe uma riqueza enorme em uma vida mais simples. Basta vivenciar o dia a dia, o momento. A capacidade de viver o momento é algo que está se tornando cada vez mais difícil, raro. Todos nós temos coisas demais, entretenimento demais, truques demais, mensagens demais — defendeu o veterano realizador, que também exibiu em Cannes o documentário “Anselmo”, fora de competição. — Viver o momento, apenas ler um livro, ouvir uma música de que você gosta, estar na frente de alguém é essencial. Mesmo tendo um trabalho rotineiro, Hirayama começa todos os dias como se fosse uma experiência nova, um dia novo.

Aos poucos, outros personagens são introduzidos, oferecendo um vislumbre sobre o passado do protagonista. Yakusho não precisou de muitas explicações para compreender a cabeça e o mundo do personagem:

— Bastava estar no set de Wenders e sentir o lugar onde Hirayama mora, os problemas que ele enfrenta. Tive uma boa noção do que ele sente porque a história foi muito bem ambientada — comentou o ator, que já trabalhou em diversas produções internacionais, como “Babel” (2006), de Alejandro Gonzalez Iñárritu. — Não sei dizer se me tornei muito próximo do personagem, mas queria muito ser uma pessoa como ele, que não tem interesses materiais, só quer ler os livros de que gosta e ir para a cama todos os dias com a ideia de que se divertiu e tem uma vida plena.

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