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Por Carlos Helí de Almeida, Especial Para O GLOBO — Cannes (França)

Logo no início de “A flor do buriti”, coprodução luso-brasileira premiada no Festival de Cannes em maio, Hyjnõ, guardião da porteira que separa o território de sua tribo, os krahô, da cidade, tenta impedir a entrada de um homem branco, que se revela um contrabandista de animais silvestres. Mais adiante na trama, Sonia Guajajara, atual ministra dos Povos Indígenas e que acabou tendo recentemente sua pasta esvaziada por uma medida provisória, discursa contra ataques aos povos originários, em movimento que culminou com protestos de representantes de diversas etnias em Brasília, em abril de 2022.

A luta por terras, a violência contra os indígenas e as diferentes formas de resistência das comunidades do povo krahô, no Tocantins, estão no cerne do longa-metragem dirigido pela brasileira Renée Nader Messora e pelo português João Salaviza. O filme, que navega entre a ficção e o documental e recria histórias e dramas da comunidade, estreou em Cannes uma semana antes da aprovação, pela Câmara dos Deputados, no dia 30 de abril, do projeto de lei do Marco Temporal, que trava o processo de demarcação de terras indígenas.

Renée Messora, diretora de 'A flor do buriti': “Tentaremos perceber como a realidade do momento vai casar com a história” — Foto: Divulgação
Renée Messora, diretora de 'A flor do buriti': “Tentaremos perceber como a realidade do momento vai casar com a história” — Foto: Divulgação

Volta à aldeia em julho

Agora, a proposta será avaliada pelo Senado, em data ainda indefinida. A possibilidade de aprovação do Marco Temporal acrescenta mais camadas à questão indígena, que a dupla já está pensando em incorporar num próximo filme com os krahôs:

— Com certeza trabalharemos com eles novamente, sempre abertos e permeáveis para a realidade do momento. Tem sido assim desde o dia em que a gente pisou na aldeia deles pela primeira vez. O próximo filme com certeza vai trazer coisas que deixamos para trás em “A flor do buriti”, e sabemos bem quais coisas são essas. E tentaremos perceber como a realidade do momento vai casar com a história que a gente pretende contar — diz Renée. — É um processo que a gente já está começando a imaginar, está tudo no ar ainda. Queremos voltar para a aldeia em julho, passar um tempo lá e começar a plantar algumas sementes para trabalhar nesse novo projeto com eles.

Na semana anterior à votação do PL, a equipe de “A flor do buriti”, incluindo os atores krahôs Francisco Hyjnõ e Ilda Patpro, fizera um protesto no tapete vermelho do festival francês, carregando uma faixa em que se lia: “O futuro das terras indígenas no Brasil está sob ameaça. Não ao Marco Temporal”. A conquista do “prix d’ensemble” (algo como prêmio de melhor equipe/elenco) na mostra Um Certo Olhar é uma esperança da equipe em alavancar a trajetória do filme e, com sorte, ampliar a discussão em torno das questões indígenas a partir do caso dos krahôs, um dos muitos povos que lutam pela preservação de sua cultura e de seu território.

— Pretendemos começar a exibir o filme no Brasil o mais breve possível, provavelmente já a partir de julho— diz Renée, coautora, com Salaviza, seu marido, de “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos”, o primeiro longa da dupla inspirado pela realidade dos krahôs e que também saiu laureado de Cannes, como ganhador do prêmio especial do júri em 2018. — A gente deseja também que ele circule fora dos festivais, exibi-lo em universidades e em encontros indígenas, que é um circuito cheio de possibilidades.

João Salaviza, diretor de 'A flor do buriti': na causa junto com Renée, que morou perto do território conhecido como Karolândia — Foto: Divulgação
João Salaviza, diretor de 'A flor do buriti': na causa junto com Renée, que morou perto do território conhecido como Karolândia — Foto: Divulgação

Renée trabalha com a comunidade krahô desde 2009. Alguns anos mais tarde, estabeleceu residência em Itacajá, cidade na fronteira com o território indígena conhecido como Karolândia. Acabou trazendo para a causa o marido, que conhecera quando trabalhara como assistente de direção de Salaviza em “Montanha” (2015). O casal, que ganhou dos krahô os nomes de Patpro (para Renée) e Wyhwy (para Salaviza), divide o ano em temporadas entre Lisboa e Tocantins.

— Acho que “A flor do buriti” é resultado do processo aberto permanentemente disposto a incorporar substâncias e extratos da realidade que aparecem na nossa frente e, por outro lado, da tentativa de dar conta de fatos maiores e antigos, pensar essa memória junto com eles — diz a cineasta paulista. — É importante resgatar essa memória, porque com isso eles têm um significado para o futuro também. A quantidade de passado que trazemos é uma forma de manter essa memória viva, eternamente.

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