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Por Nelson Gobbi


Silvio Tendler e a calopsita Renê, em seu apartamento em Copacabana  — Foto: Leo Martins
Silvio Tendler e a calopsita Renê, em seu apartamento em Copacabana — Foto: Leo Martins

Durante a pandemia, Silvio Tendler permaneceu boa parte do tempo em seu apartamento em Copacabana, Zona Sul do Rio, somente na companhia da mulher, Fabiana Fersasi, e de dois novos bichos de estimação, o cão da raça cane corso Camarada e a calopsita Renê, levados à casa no período da quarentena. Além da atenção com os animais, o cineasta, um dos mais renomados documentaristas do país, não parou de trabalhar. Diante da impossibilidade de levar a câmera à rua, ele decidiu tocar as entrevistas de seus projetos por videoconferência, o que, de início, chegou a ser questionado pela equipe, pelo temor em relação à qualidade das imagens.

— Eram duas opções: fazer por videoconferência ou não fazer — lembra Tendler, de 73 anos. — Foi justamente o que me deu a possibilidade de chegar a entrevistados como o (cineasta inglês) Ken Loach, entre outros. Sem isso, não entrevistaríamos metade das pessoas.

Loach é um dos personagens de seu novo documentário, “O futuro é nosso!”, que terá pré-estreia no Estação Botafogo no dia 26, antes de ser liberado no canal do YouTube de sua produtora, a Caliban (@calibancinema). Da intensa produção dos últimos anos, Tendler também vai lançar dois outros projetos este mês: no próximo sábado, no Sesc Niterói, será inaugurada a exposição “Resistência retiniana”, da qual faz curadoria e participa como fotógrafo. No dia 15, o documentarista estreia como dramaturgo e diretor teatral, com o espetáculo “Olga e Luís Carlos, uma história de amor”, no Sesc Copacabana, baseado na troca de correspondência entre o líder comunista brasileiro e a militante alemã de origem judaica entregue aos nazistas pelo governo Vargas, em 1936.

Autor de mais de 70 filmes, entre curtas, médias e longas — como “Jango” (1984), “Glauber, labirinto do Brasil” (2003), “Utopia e barbárie” (2009) e “Tancredo, a travessia” (2011) — Tendler aborda em “O futuro é nosso!” a precarização do trabalho no Brasil e no mundo, causada por eventos como a transformação tecnológica e a Reforma Trabalhista, por aqui, e seus efeitos agravados pela pandemia. Conhecido como o “o cineasta dos vencidos”, o diretor assina o novo longa como “um filme utópico de Silvio Tendler”, dizendo-se um otimista mesmo quando aborda temas de impacto social.

— O (diplomata) Arnaldo Carrilho, meu amigo, amenizou essa questão dos “vencidos” ao me chamar de “cineasta dos sonhos interrompidos”. Ou seja, tudo recomeça — analisa o diretor. — O título do filme vem da ideia de que, apesar da precarização do trabalho, o movimento sindical não vai desaparecer, e sim se transformar.

Silvio Tendler com sua coleção de obras de arte em seu apartamento em Copacabana  — Foto: Leo Martins
Silvio Tendler com sua coleção de obras de arte em seu apartamento em Copacabana — Foto: Leo Martins

O longa, que termina com a vitória e a posse de Lula, em seu terceiro mandato, traz uma rara cena em que o cineasta se expõe, com a câmera o registrando sendo ajudado a subir as escadas de sua sessão eleitoral, para votar. Desde 2011, ele enfrenta dificuldades de locomoção, depois que um defeito congênito quase o deixou tetraplégico. Operado pelo neurocirurgião Paulo Niemeyer, recuperou parte dos movimentos dos membros superiores, e segue trabalhando desde então.

— Não era obrigado mais a votar pela idade, mas senti que precisava ir e fazer o registro. Sou assumidamente um utopista, acho que a História não se conclui. Como disse o (escritor) Eduardo Galeano citando o (cineasta) Fernando Birri, a utopia existe para que eu não deixe de caminhar — comenta Tendler. — É isso, cada dia é um sobressalto, como aconteceu na votação do Marco Temporal, mas seguimos em frente.

As limitações na locomoção não impediram Tendler de continuar fotografando, só que trocando a câmera pelo celular, em registros que faz nas ruas pela janela do carro. Parte dessa produção estará na exposição “Resistência retiniana”, uma alusão à persistência retiniana, fenômeno que cria no cérebro a ilusão de movimento ao se ver uma sequência de imagens, já que a retina retém por uma fração de segundo cada imagem vista — o que possibilitou a origem do cinema. Curador da mostra, Tendler também selecionou trabalhos dos fotógrafos João Roberto Ripper e Antonio Scorza e da grafiteira e muralista Wira Tini, artista indígena descendente dos kokama.

— No título da exposição, juntei a persistência retiniana com a resistência, que para mim está associada à memória. Além do trabalho desses artistas de que gosto muito, estou apresentando essa série de fotos minhas, que chamei de “Urbanidades” — conta. — Eu era um bom retratista, mas depois de perder os movimentos passei mais a fotografar as cidades com o celular. Gosto de registrar o movimento da cidade e a arte de rua.

A estreia na direção teatral retoma um projeto de Tendler dos anos 1980: filmar a história de amor entre Luís Carlos Prestes e Olga Benário (o diretor guarda até hoje em casa a claquete da produção, datada de 1986, que não foi concretizada). Levada ao cineasta por Anita Leocádia Prestes, a filha que Olga teve em 1936 no campo de concentração de Barnimstrasse, na Alemanha, a correspondência entre os dois deu origem à dramaturgia de “Olga e Luís Carlos”. Com os atores Julio Adrião e Mariana MacNiven interpretando o casal, todo o processo do espetáculo também é filmado por Tendler para virar um documentário.

— Já dirigi atores em filmes, mas no palco é a primeira vez. Chamei a Isabel Cavalcanti, que é de teatro, para codirigir comigo. Os atores também criaram muito. Vai ser um novo desafio, mas são eles que me movem — diz Tendler.

De volta ao Chile

Entre os próximos projetos, o diretor planeja registrar os 50 anos do golpe militar do Chile, onde morou entre 1970 e 1972, após a vitória do socialista Salvador Allende. Em setembro de 1973, já vivendo na França, ele voltou a Santiago de férias e voou para a Europa no dia 11, data em que o presidente foi morto pelas tropas do general Augusto Pinochet.

— Fui para Lima (Peru) no dia 4, e no dia 11 estava voando para Paris. Passei a viagem toda sem saber o que havia acontecido direito, e só lá foram confirmados o golpe e a morte do Allende — lembra. — Estarei no Chile em setembro com outros cem brasileiros que viveram lá. Minha ideia é documentar o que é o Chile hoje e também falar da vida do refugiado.

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