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Por — Rio de Janeiro

Um homem branco, um homem coreano e uma mulher coreana conversam despreocupadamente em um bar de Nova York. A composição do pequeno grupo chama a atenção dos demais clientes, que especulam sobre a relação entre os três. Os dois coreanos seriam irmãos ou um casal? O branco é amigo, namorado ou marido de um dos coreanos? A cena que abre “Vidas passadas” foi vivenciada pela diretora Celine Song e inspirou o primeiro longa-metragem da jovem dramaturga coreana (naturalizada canadense), que é exibido nesta segunda-feira (9) na programação do Festival do Rio, depois de causar sensação entre os críticos nos festivais de Sundance e Berlim.

— Eu estava com o meu marido, que é americano, e um ex-namorado de infância, também coreano, e percebi os olhares curiosos das pessoas em volta. Pensei comigo mesma: eles não têm a menor ideia de quem somos, de como nos conhecemos, e estão imaginando o que significamos um para outro. E se eu decidisse explicar para eles esse mistério? O filme nasceu desse desejo de satisfazer essa curiosidade, e contar a história por trás daquele trio estranho que deixou todo mundo naquele bar intrigado — contou Celine, de 34 anos, durante o Festival de Berlim, onde “Vidas passadas” competiu pelo Urso de Ouro.

A sequência de abertura abre o caminho para uma história de amor baseado no conceito coreano do in-yeon, que postula sobre os laços que unem duas pessoas ao longo de suas vidas. A trama descreve o caso de Nora, que, aos 12 anos, começa um inocente romance com seu melhor amigo, Hae Sung, mas perde contato com o garoto quando sua família migra para o Canadá. Doze anos mais tarde eles se reencontram, via redes sociais, quando Nora (Greta Lee, da série “Boneca russa”) já está morando em Nova York, tentando se estabelecer como autora, e Sung (Teo Yoo, de “Decisão de partir”, de Park Chan-wook), um estudante de engenharia, está trabalhando na China.

As conversas virtuais entre os dois se tornam uma rotina, até o momento em que Nora decide priorizar o trabalho a manter um possível romance à distância, despede-se novamente de Hae Sung e parte para um retiro para roteiristas e escritores. É lá que ela vem a conhecer Arthur (John Magaro), um judeu americano, a quem Nora apresenta a filosofia do in-yeon e com quem acaba se casando. Mais 12 anos se passam e Hae Sung, agora de volta a Seul, surpreende Nora avisando que irá passar alguns dias em Nova York para visitá-la.

Que afinidades ainda poderiam existir entre aquela garota cuja maior ambição era ganhar o Nobel e o menino que não sabia direito que queria ser quando crescer? Como se comportará Arthur, que desde o primeiro encontro com Nora reconheceu que nunca seria capaz de competir com seu passado ou sua formação cultural, na presença de uma paixão do passado de sua mulher? “Vidas passadas”, no entanto, surpreende ao subverter os clichês das histórias de triângulos amorosos: os dois homens não se colocam como adversários que disputam o amor de uma mulher.

— Desde o início do processo de escrita do roteiro ficou claro para mim que eu estava criando um drama romântico, dentro da estrutura de um triângulo amoroso, mas no qual todos os envolvidos estivessem se esforçando muito para lidar com a situação como adultos, respeitar e amar uns aos outros, e não agir como rivais ciumentos — explicou a realizadora, que estendeu seu esforço no trabalho com os atores. — A performance deles realmente se resume à maneira como cada um aborda seu personagem, é como se eles estivessem realmente tentando ao máximo cuidar um do outro.

Assim como a protagonista de “Vidas passadas”, Celine tem origem no teatro e na televisão. Em seu currículo constam uma montagem de “As gaivotas”, de Tchekhov, e “The endlings”, sobre mulheres pescadoras de uma ilha da Coreia, em óbvia visita a suas raízes, entre outros trabalhos nos palcos off-Broadway. Na TV, ela trabalhou na equipe de roteiristas da série de TV “A roda do tempo”, produzida pela Amazon. O seu primeiro trabalho em cinema combina elementos autobiográficos com suas experiências teatrais. Assim como Nora, Celine adotou um nome ocidental quando migrou para o Canadá.

— Meu nome de batismo era Hayong. A mudança de nome é apenas uma dessas escolhas que os imigrantes fazem quando estão tentando se encaixar numa nova realidade. Faz parte do desejo de pertencer a uma nova sociedade. Não queria que meus professores, por exemplo, falassem errado o meu nome coreano — disse Celine, que casou com o escritor e dramaturgo americano Justin Kuritzkes em 2016. — Mas acho que esse tipo de decisão depende da experiência de cada um, como imigrante.

A dramaturga que virou cineasta afirma que escreveu “Vidas passadas” especialmente para as telas, e que a transição de estilos de escrita foi tranquila.

— O mais importante era saber que o roteiro de um filme tem que estar muito ligado à narrativa visual. É incrível como, às vezes, percebemos o quanto as atuações dos atores e o olhar deles mudam dentro de um set, em comparação com o palco, onde eles têm que falar com o público que está lá no fundo do teatro — comparou Celine, que desejava, mais do que falar sobre um aspecto particular de sua vida, contar um caso de amor adulto. — Ficava pensando: como é manter laços com outras pessoas durante décadas, mesmo depois de tantas mudanças.

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