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A performance “Cinema Orly”, em cartaz no Teatro Glaucio Gill, em Copacabana, resulta de uma mistura de tempos. É a transposição para o palco, neste momento, do livro publicado em 1999 por Luís Capucho a partir das próprias experiências como frequentador, no início da década de 1990, do Orly, sala do Centro do Rio voltada para a exibição de filmes pornográficos.

— Vejo o livro atravessar uma geração. Os artistas que estão levando agora o meu texto para o teatro estão na mesma faixa etária em que eu me encontrava na época em que escrevi — diz Capucho, referindo-se ao diretor Diogo Liberano e ao ator Teo Pasquini.

Sexo via aplicativo

A prática de sexualidades não confinadas em padrões convencionais e preestabelecidos mudou ao longo dos anos. Os espaços públicos e, de certa forma, clandestinos dos cinemas pornôs não deixaram de existir, mas perderam terreno para recursos mais individualizados, como os aplicativos destinados à busca por sexo imediato.

Capucho faz uma avaliação positiva das transições ocorridas nas últimas décadas.

— O que era subterrâneo se tornou visível na superfície. A caretice ficou exposta — diz.

Os olhares de Capucho, Pasquini, Liberano e do dramaturgo Gustavo Colombini se fundiram na adaptação de “Cinema Orly” para a cena. Sem se afastarem da narrativa crua de Capucho, de natureza autobiográfica, eles se colocaram, em alguma medida, diante das questões suscitadas no livro, que já teve tradução para o espanhol, a cargo do músico Tive Martinez, e agora ganha nova edição no Brasil.

— A dramaturgia da encenação representa o nosso posicionamento em relação ao livro. Mas é um posicionamento amoroso. Não quis simplesmente ajustar o depoimento do Capucho à luz do homem gay de 2023. Nem falar o que me parece mais importante, desconsiderando o texto original — observa Liberano.

Para se aproximar do universo descortinado por Capucho, Pasquini visitou o Rex, outro cinema pornô, nas imediações do Orly, e espaços propícios à interação sexual.

— Foi bom ver ao vivo aquilo que é descrito no livro. Também conversei com pessoas que me contaram sobre suas jornadas no campo do erotismo — relata Pasquini.

Pesquisa de campo. “Foi bom ver ao vivo aquilo que é descrito no livro”, diz o ator Teo Pasquini — Foto: Divulgação/Thaís Grechi
Pesquisa de campo. “Foi bom ver ao vivo aquilo que é descrito no livro”, diz o ator Teo Pasquini — Foto: Divulgação/Thaís Grechi

Liberano e Pasquini tentaram, mas não conseguiram entrar no Orly, que está fechado, ao contrário do Rex e do Íris — todos eles no Centro do Rio. O impedimento afastou a ideia inicial de fazer a performance no cinema. A realização do trabalho num teatro, porém, não evitou obstáculos diversos. Determinado a investir numa cena intimista, Liberano decidiu deslocar o público para cima do palco. Nessa configuração daria para reunir apenas 24 espectadores por sessão.

— A administração da Funarj disse que teríamos que pagar uma multa pelos 77 lugares que não disponibilizaríamos a cada noite — conta Liberano.

Como arcar com essa multa seria inviável, ele encontrou uma solução criativa. Dividiu os espectadores entre plateia-corpo (os 24 que ficam no palco com Pasquini) e plateia-projeção (os 77 que permanecem na plateia do teatro e veem o ator em instantes específicos, mas passam a maior parte da apresentação ouvindo a sua voz e uma partitura sonora diante da cortina fechada).

— A proposta em relação à plateia-projeção estimula a imaginação. É como ler um livro. Uma imersão bonita e, por outro lado, árida — diz Liberano.

Seja no palco, seja na plateia do Glaucio Gill (depois desta temporada, a encenação seguirá para o Dulcina, que fica justamente no edifício que abriga o Orly no subsolo), a performance traz à tona o passado da Cinelândia, marcado pela concentração de cinemas pornôs — os mencionados Orly e Rex e mais o Vitória.

— A Cinelândia era um lugar com uma grande população flutuante, com destaque para a circulação de trabalhadores de baixa renda. Os cinemas ofereciam programas duplos com ingressos baratos. Quando o Orly e o Rex migraram da película para o vídeo, o custo reduziu ainda mais — diz Hernani Heffner, gerente da Cinemateca do MAM.

Trabalhadores na plateia

A história do Orly é antiga. Surgiu em 14 de novembro de 1935, batizado de Cine Teatro Rio. O nome foi alterado algumas vezes — virou Cine OK, Cine São Carlos, Cine Rivoli e, em 23 de dezembro de 1974, Orly. Muito antes de se tornar cinema pornô, exibiu, em fases distintas, produções hollywoodianas, independentes e de teor político para uma faixa de público popular, intelectualizada ou engajada. Vale lembrar que os filmes pornográficos só se impuseram no mercado comercial, em salas de cinema tradicionais, a partir do começo da década de 1980, com “Coisas eróticas” (1981), de Raffaele Rossi.

— O Orly ficou nas mãos da família Valansi, que tinha conexão com a França. Por isso, os pornôs franceses costumavam ser priorizados por lá. Mas, quando o cinema aderiu ao VHS, passou a exibir fitas norte-americanas — detalha Heffner.

Em 2013, o Orly fechou as portas. O encerramento pode ser atribuído a fatores interligados: a crise enfrentada pelos cinemas de rua e a derrocada da produção pornográfica.

— A dinâmica de mercado de filme pornô está atrelada à sala de rua, tendo em vista que o público não assiste a esse gênero num cinema de shopping — lembra Heffner.

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