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Por — Rio de Janeiro

Em 2007, após sete indicações e várias esnobadas, Martin Scorsese recebeu seu Oscar de melhor diretor. O realizador de clássicos como “Taxi driver”, “Touro indomável”e “Os bons companheiros” foi premiado por uma obra mais modesta, “Os infiltrados”, mas com o aval em pleno palco dos colegas de profissão Steven Spielberg, George Lucas e Francis Ford Coppola — que esta semana chamou o amigo, que completa 81 anos em novembro, de “maior cineasta vivo”.

Muitos apostaram que a vitória “pelo conjunto da obra” faria Scorsese sossegar. Que nada. Dez filmes e 16 anos depois, ele volta aos cinemas com “Assassinos da lua das flores”, filme que pode lhe trazer outro Oscar de diretor (desde 2007, foram três indicações).

Trata-se de uma adaptação do best-seller de não ficção que David Grann escreveu sobre a criação do FBI e o misterioso assassinato de membros da tribo Osage nos Estados Unidos dos anos 1920. O longa estreia nos cinemas quinta-feira e depois chegará ao streaming da AppleTV+.

Na trama, Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio) retorna da guerra para morar com o tio William Hale (Robert De Niro) na região dos Osage, que graças ao petróleo ali descoberto se tornaram ricos, invejados e ameaçados. Neste contexto, Ernest começa uma relação com Mollie Kyle (Lily Gladstone), indígena herdeira de importantes terras. Jesse Plemons, John Lithgow, Brendan Fraser e William Belleau completam o elenco principal.

Há duas semanas, em videoconferência com veículos selecionados, sendo O GLOBO o único do Brasil, Scorsese falou do novo projeto, da longa duração de seus filmes, de sua luta pelo cinema (gostaria que o público visse “Assassinos da lua das flores” na telona) e da situação da indústria audiovisual (ele chegou a comparar filmes de super-herói a parques de diversão, mas curtiu o fenômeno Barbenheimer).

Mudança na direção

“Por alguns anos trabalhei na história de ‘Assassinos da lua das flores’ como ela é descrita belamente no livro de David Grann, mas comecei a sentir que iria acabar fazendo um filme policial procedural. Não falo isso de forma negativa, gosto de assistir a estes filmes, mas não sei se gostaria de fazer um. Comecei a me aprofundar na cultura Osage e a conviver mais com a nação de Oklahoma. Uma coisa que queria, além da autenticidade, é apresentar uma compaixão e tratar o povo Osage como pessoas. Percebi que a trama de Mollie e Ernest era antes de tudo uma história de amor, e que esse era o coração da obra. Retrabalhamos todo o roteiro. Foi uma mudança completa de direção.”

Martin Scorsese durante as filmagens de "Assassinos da Lua das Flores" — Foto: Divulgação/AppleTV+
Martin Scorsese durante as filmagens de "Assassinos da Lua das Flores" — Foto: Divulgação/AppleTV+

Olhar estrangeiro

“Crescendo, assisti a vários filmes passados na Índia de diretores europeus e americanos. Jean Renoir fez o lindo ‘O rio sagrado’. Um dia assisti a ‘A canção da estrada’ (filme indiano dirigido por Satyajit Ray) na TV e percebi que aquelas pessoas que eu via no fundo dos filmes americanos estavam em primeiro plano. Lembro de pensar: ‘qual a diferença aqui?’ A diferença é que este filme foi feito por eles. Estava sendo introduzido às pessoas reais, a uma nova cultura, uma nova forma de pensar. Os outros filmes eram bons, mas traziam um olhar de fora. Depois disso, o cinema abriu para mim outros mundos. Comecei a me interessar por outras culturas e outras formas de ver o mundo. Fico imaginando como teria sido ser uma pessoa colonizada, parte de um povo oprimido. Algo que aconteceu aqui, nos Estados Unidos, e ainda acontece. Quis usar a história dos Osage para representar todos os indígenas do mundo. Contar a história do ponto de vista dos Osage, o máximo possível, tornou a experiência muito especial.”

Longa duração

“As pessoas reclamam: ‘ah, tem três horas, isso ou aquilo’. Mas, fala sério, você senta na frente de uma TV e consegue ver algo por mais de cinco horas. Eu mesmo já fiz isso. E muitas pessoas vão ao teatro e assistem a uma peça por 3h30. Ali, temos atores no palco, você não pode se levantar e ficar andando. Você respeita o teatro. Dê um pouco de respeito ao cinema.”

“Com ‘O lobo de Wall Street’ (3h de duração), ‘Silêncio’ (2h41), ‘O irlandês’ (3h29) e, agora, ‘Assassinos da lua das flores’ (3h26) tenho sentido a necessidade de dar tempo aos filmes para contarem suas histórias.”

A maior tela possível

“A Apple me deu toda a liberdade para fazer o filme e preparou um grande lançamento nos cinemas, como tinha feito com a Netflix (com ‘O irlandês’). Acho que ‘Assassinos da lua das flores’ funciona numa tela menor, mas não tenho dúvida de que, para imergir nessa história, você deve assisti-la na maior tela possível. Gostaria que as pessoas voltassem ao cinema para ver filmes como este.”

Robert De Niro

“Minha relação com Bob começou quando tínhamos 16 anos de idade, viemos do mesmo lugar. Depois, perdemos o contato. Eu não sabia que ele queria ser ator e ele não sabia que eu queria dirigir. Anos depois, fomos reapresentados por Brian de Palma. Com ‘Caminhos perigosos’ e ‘Taxi driver’, descobrimos que tínhamos também interesse nos mesmos temas e nos mesmos conflitos emocionais. Com esses dois filmes, uma confiança nasceu e começamos a circular pelos mesmos projetos. Mesmo quando eu não achava que tal projeto fazia sentido para mim, ele insistia. Resisti ao convite para fazer ‘Touro indomável’ por vários anos, mas ele realmente insistiu que seria bom para mim. Ele é a única pessoa viva agora que sabe de onde venho, quando criança, quando jovem. Então a palavra-chave é confiança, destemor e menos vaidade. Quando ele estava muito poderoso em Hollywood, após conquistar o Oscar por ‘O poderoso chefão: parte 2’, estava trabalhando com nomes como Bernardo Bertolucci e Michael Cimino. Naquela época, sempre que filmava, você corria o risco de o estúdio ‘tomar’ o filme de você. Eu não tinha o corte final naquela época de ‘Taxi driver’. Normalmente, os atores sempre ficavam do lado do estúdio, mas não esse cara. Ele sempre ficou do meu lado e me protegeu.”

Lily Gladstone, Robert De Niro e Leonardo DiCaprio em "Assassinos da Lua das Flores" — Foto: Divulgação/AppleTV+
Lily Gladstone, Robert De Niro e Leonardo DiCaprio em "Assassinos da Lua das Flores" — Foto: Divulgação/AppleTV+

“Foi Bob que me apresentou a Leo. Eles tinham trabalhado juntos em ‘Despertar de um homem’ e Bob me disse: ‘Você tem que conhecer esse garoto’. Fizemos ‘Gangues de Nova York’ e fomos ainda mais longe com ‘O aviador’. Ali, descobri que Leo tem uma sensibilidade parecida com a minha e de Bob. Ele também está disposto a tentar de tudo e deposita no outro uma grande confiança. Depois vieram ‘Os infiltrados’, ‘Ilha do medo’ e ‘O lobo de Wall Street’.”

‘Barbenheirmer’

“A combinação de ‘Barbie’ e ‘Oppenheimer’ foi muito especial. Foi a tempestade perfeita, que aconteceu no melhor momento. O mais importante é que levou as pessoas aos cinemas, o que acho incrível. Ainda não assisti aos filmes. Amo o trabalho de Christopher Nolan e Margot Robbie não preciso nem falar. Ela começou comigo em ‘O lobo de Wall Street’. O encaixe perfeito entre um filme que é puro entretenimento e repleto de cores e outro de muito vigor estético e sobre os perigos do fim da civilização é difícil de explicar. É difícil encontrar dois filmes tão opostos, e eles funcionam em total sintonia. Acho que os filmes oferecem a esperança para que um novo tipo de cinema surja, diferente do que está acontecendo nos últimos 20 anos em Hollywood.”

‘Indie’ irritante

“O que tem me irritado nos últimos anos é que os filmes independentes estão cada vez mais relegados a serem ‘indies’, filmes para poucas pessoas, para serem vistos em uma tela pequenininha em algum lugar. Não fiz ‘Assassinos da lua das flores’ pensando em fazer um blockbuster, mas gostaria que fosse visto na tela grande de um cinema.”

Martin Scorsese dirige Robert De Niro e Jesse Plemons em cena de "Assassinos da Lua das Flores" — Foto: Divulgação/AppleTV+
Martin Scorsese dirige Robert De Niro e Jesse Plemons em cena de "Assassinos da Lua das Flores" — Foto: Divulgação/AppleTV+

Humildade e ignorância

“Uma coisa que aprendi após ‘Touro indomável’ é que você precisa sempre começar de novo. É um exercício de humildade, aprendi que existe uma ignorância. Você nunca sabe exatamente qual a natureza do organismo de um filme. Com cada projeto, tento encontrar uma nova e interessante forma de lidar com a narrativa, de contar uma história. Por vezes, uma história sem um enredo. São coisas diferentes. Gosto de enredos, mas sinto que são entediantes de se criar. Com o passar dos anos, tentei diferentes formas de trabalhar, mas nunca algo pensado e determinado. Foi uma busca visual e oral de como contar uma determinada história através do coração. É sobre como eu me sinto, e como o visual e o som refletem isso. Sempre existe algo a se aprender, mas você não pode querer aprender. É algo que acontece enquanto você faz.” (Lucas Salgado)

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