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Por El País — Paris

É o colapso de uma das faces mais conhecidas do cinema francês, tanto na França como no cenário internacional. Gérard Depardieu, aclamado e onipresente nas telas há décadas, está no centro da tempestade. O recente vazamento de um vídeo inédito em que o ator faz comentários misóginos e obscenos soma-se a dezenas de acusações de violência sexual e a duas denúncias, uma delas por estupro. O caso Depardieu também abriu uma reflexão sobre o conluio da sociedade com o que costumava ser um dos seus orgulhos nacionais no meio do silêncio da grande maioria do cinema francês.

Ator francês Gérard Depardieu se defende de acusações de estupro e diz sofrer "linchamento midiático". Sua imagem está manchada há muito tempo. Pelo seu exílio fiscal, pela obtenção da cidadania russa, por conviver com o presidente Vladimir Putin ou com o líder checheno Ramzan Kadirov. Mas nas últimas semanas, o intérprete voltou a estar sob os holofotes, principalmente depois de sua aparição em um vídeo, divulgado no dia 7 de dezembro. As gravações, que nunca vieram à tona, mostram o astro novamente sem filtros, durante uma visita à Coreia do Norte, em 2018. Nesse mesmo ano, a atriz francesa Charlotte Arnould denunciou o ator por agressão sexual e dois estupros.

“As mulheres adoram andar a cavalo. O clitóris deles roça na sela (...) Elas gostam muito. Elas são vadias”, disse o ator enquanto visitava um centro hípico. Pouco depois, ele sexualiza uma menina de cerca de 10 anos que pratica o esporte. As imagens, que geraram uma onda de indignação, fazem parte de um documentário inédito do escritor e diretor Yann Moix, acusado de declarações machistas. Em outra cena, o artista indica que pesa 124 kg. E ele diz para uma mulher, enquanto toca seu ombro esquerdo: “Espere, não estou ereto agora. Quando ereto peso 126 kg ″. Estes são apenas dois momentos do vídeo divulgado pela Complément d’Enquête, que exibiu as sequências no canal público France 2. O mito do cinema francês é mostrado sem filtros, fazendo comentários sexistas e inapropriados sem parar.

A reportagem também ofereceu o depoimento de quatro mulheres que acusam o ator de violência sexual. Uma delas, a atriz Hélène Darras, apresentou outra queixa contra Depardieu em setembro por agressão sexual cometida durante filmagens em 2007. A notícia foi divulgada um dia antes de a transmissão ir ao ar. Uma semana depois de sua transmissão, o artista também foi afetado pela abertura de uma investigação sobre a morte da atriz Emmanuelle Debever, que pulou de uma ponte no Sena. A intérprete de 60 anos acusou Depardieu de agressão sexual em 2019.

Gerard Depardieu em Niterói, em 2016 — Foto: Ana Branco / Agencia O Globo
Gerard Depardieu em Niterói, em 2016 — Foto: Ana Branco / Agencia O Globo

O comportamento de Depardieu “constrange” a França, reagiu a ministra da Cultura, Rima Abdul Malak. Na sexta-feira, ela anunciou que consideraria retirar a Legião de Honra, a mais alta distinção francesa. Depardieu recebeu a mesma em 1996 do então presidente Jacques Chirac. O ator, que rejeita as acusações contra si, indicou no dia seguinte, através dos seus advogados, que colocava a sua condecoração à disposição da ministra. A França já retirou esta insígnia do presidente sírio, Bashar al-Assad, do ciclista americano Lance Armstrong e do designer britânico John Galliano.

O fim do 'monstro sagrado'

A sucessão de notícias das últimas semanas foi a gota d'água? As imagens têm ressonância particular à luz das acusações contra ele. E causam algum desconforto. Como reagir hoje a esta lenda nacional, conhecida como “monstro sagrado”? As respostas não vieram apenas da ministra da Cultura. No estrangeiro, François Legault, primeiro-ministro de Quebec, província francófona do Canadá, decidiu retirar a medalha de honra ao ícone francês, com mais de 200 filmes e cuja própria presença num filme por vezes permitia o seu financiamento. A cidade belga de Estaimpuis, onde o ator viveu em 2012 para supostamente pagar menos impostos, retirou-lhe o título de cidadão honorário.

“Somos todos um pouco culpados”, reconheceu Marc Missonnier, presidente do sindicato dos produtores de cinema, durante a exibição da reportagem. “Houve uma tolerância [em relação a Depardieu] que foi um erro”, acrescentou. A atriz Anouk Grinberg, por sua vez, observou: “Ele é assim porque todo mundo permite que ele seja assim”. Em entrevista após a transmissão, a intérprete denunciou o “silêncio ensurdecedor” do mundo do cinema. Denúncia que Marine Turchi, jornalista do Mediapart, evidenciou em seus artigos sobre o caso. Em abril, a mídia investigativa revelou que 13 mulheres haviam acusado o intérprete de "Cyrano de Bergerac" (1990) de cometer atos de violência sexual durante filmagens entre 2004 e 2022. Os depoimentos – de atrizes, maquiadores, técnicos, figurantes e estagiários – destacou a falta de reação das equipes. Segundo os depoimentos, procurou-se relativizar a situação com a frase: “Ah, é o Gérard”. Muitos dos acontecimentos ocorreram antes do movimento #MeToo, que surgiu no final de 2017 nos Estados Unidos e terminou com a condenação do produtor de cinema Harvey Weinstein.

Romper essa tolerância leva tempo, principalmente no mundo do cinema, diz a jornalista. “Depois da minha investigação em abril, nenhuma organização do mundo do cinema e nenhuma figura da indústria reagiu, com exceção da Société des réalisateurs de films (SRF) e da atriz Andréa Bescond”, diz Turchi numa troca de mensagens. O ator, garante, que “continua a receber apoio de alguns dos maiores nomes do cinema francês, que afirmaram ser impossível para ele ser um estuprador”. Desde que foram apresentadas acusações contra ele, em 2018, Depardieu trabalhou em 15 filmes. Mas ultimamente a sua presença tornou-se mais discreta. Em abril, foi afastado da campanha promocional do filme "The taste of simple things". E em outubro renunciou à participação num filme do realizador Michel Haznavicius, “por mútuo acordo” com o realizador de "O artista".

O ator saiu do silêncio em outubro passado, por meio de coluna publicada no jornal Le Figaro. Nele, ele denunciou um “linchamento” orquestrado por um “tribunal de mídia” e insistiu: “Nunca, jamais, abusei de uma mulher”. Um tribunal confirmou sua acusação por estupro e agressão sexual em 2022. Na carta aberta, ele reconhece alguns comportamentos provocativos e até “rudes” e pede desculpas por isso. Mas, ao mesmo tempo, lamenta as manifestações que interromperam vários dos seus concertos no verão, durante uma turnê em que interpretou canções de uma icónica cantora francesa.

Sua carreira sofre as primeiras consequências. O diretor Fabien Onteniente disse que não aceitaria mais trabalhar com ele. “Não está nos meus valores, não é possível fechar os olhos a este tipo de comportamento inadmissível”, afirmou na rede Franceinfo. A France Télévisions, a empresa pública de televisão, informou na segunda-feira à agência France Presse que continuará a comprar e transmitir “filmes com Gérard Depardieu”. Manuel Alduy, diretor de desenvolvimento internacional do grupo, disse ao Libération em 11 de dezembro: “Não censuramos obras. Mas fazer um novo filme ‘com o nome’ de Depardieu parece-me muito difícil.”

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