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Por , Em The New York Times

Chorar durante uma atuação é algo comum, e isso Emma Stone faz muito bem. O que ela não queria era chorar no meio de uma entrevista, mas acabou sucumbindo.

— Sou uma atriz. O que há de errado comigo? — perguntou, cheia de lágrimas.

A cena aconteceu em meados de novembro, durante um almoço com Yorgos Lanthimos, diretor com quem Stone trabalhou em comédias excêntricas, como “A favorita”, e, mais recentemente, “Pobres criaturas”, que ganhou o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza e é visto como um dos favoritos ao Oscar.

O filme, que chega aos cinemas brasileiros em 1º de fevereiro, é baseado no romance de Alasdair Gray e tem uma história surpreendente. Bella Baxter (Emma Stone), grávida e presa em um casamento infeliz, se joga de uma ponte, sendo recolhida por um cientista à la Frankenstein (Willem Dafoe), que a ressuscita e troca seu cérebro pelo de seu bebê ainda não nascido.

Stone faz a festa ao interpretar essa mulher adulta com mente de criança. À medida que Baxter adquire consciência, embarca em um despertar sexual e político, passa a lutar por sua independência e atrai pretendentes desafortunados, interpretados por nomes como Mark Ruffalo e Ramy Youssef.

É uma personagem que significou muito para Stone. Enquanto tentava rir mas acabava chorando ao falar do filme, declarou: “Eu a amo demais”, referindo-se a Baxter, e depois tentava justificar, dizendo: “Estou cansada, é só isso.”

Lanthimos, de 50 anos, e Stone, de 35, também trabalharam em conjunto no curta-metragem “Bleat”, e em “And”, antologia cômica que será lançada ano que vem.

— Obviamente, confio plenamente nele e de forma muito intensa. Como atriz, é a melhor sensação de todas, porque é muito incomum você sentir que, faça o que fizer, está protegida por seu diretor — disse ela sobre Lanthimos.

Ele facilita essa confiança com longos períodos de ensaio, que têm mais em comum com a comédia de improviso do que se poderia esperar. Nestes processos, os atores recitam suas falas enquanto dão voltas, andam para trás ou estão com os olhos fechados.

— Nunca ensaiamos na linha: “OK, você vai fazer a cena assim”. É mais a criação de uma atmosfera de camaradagem, de diversão, de nos conhecermos para que possamos nos sentir à vontade para nos ridicularizarmos — explicou o diretor.

O diretor Yorgos Lanthimos e a atriz Emma Stone — Foto: NYT
O diretor Yorgos Lanthimos e a atriz Emma Stone — Foto: NYT

Alguns atores criam um relacionamento duradouro com autores que exigem o sacrifício daquilo que, às vezes, foi o que os transformou em estrelas de cinema. Para chegar a um patamar de mais prestígio, comediantes franzem a testa, beldades se embrenham na sujeira e ídolos adolescentes afirmam se torturar em nome de uma cena. Mas, com Lanthimos, Stone não precisou renunciar a seus maiores talentos: o timing de comédia e a empatia inata. Em vez disso, usa-os de maneira inovadora e ousada, sob o olhar único do diretor.

Mesmo assim, a parceria frutífera forma uma dupla incomum: enquanto Lanthimos é um homem inabalável e de poucas palavras, sua protagonista tem olhos curiosos, é calorosa e ansiosa para se comunicar. Ou como Stone colocou:

— Sou uma garota do Arizona e ele é um cara de Atenas. Não sei como isso funcionou, porque minha personalidade não poderia ser mais diferente da dele, mas é incrível.

Aqui estão trechos editados da conversa.

Quando vocês dois se conheceram?

Stone: Foi em junho de 2015, em um café. Eu estava ensaiando para “La La Land — Cantando estações” e nos encontramos para falar sobre “A favorita”. Pensei que ele seria realmente assustador e perturbador, o que não é o caso. Nós nos demos bem imediatamente, a conversa fluiu e foi muito confortável.

Você achou que ele teria uma presença mais intimidadora?

Stone: Tendo visto os filmes que ele tinha feito até aquele momento, sim.

Lanthimos: Mas que clichê.

Stone: Eu tinha 26 anos! Era só uma garota. Mas, depois disso, mantivemos contato. Quando estávamos filmando “A favorita”, já tínhamos uma amizade. No fim das filmagens, começamos a falar sobre “Pobres criaturas”.

Lanthimos, o que estava acontecendo em sua vida quando você leu “Pobres criaturas” pela primeira vez?

Lanthimos: Eu tinha acabado de me mudar para Londres e estava começando a conhecer pessoas para projetos em língua inglesa. Foi depois que “Dente canino” foi indicado ao Oscar, em 2010, e as pessoas começaram a se interessar.

Stone: (brincando) Indicado ao Oscar. Todo mundo ficou tipo: “Uau, esse cara é incrível!”

Lanthimos: Mas, quando comecei a mostrar “Pobres criaturas” para as pessoas, o projeto de desenvolvimento do filme foi rejeitado muitas vezes.

Qual foi a justificativa?

Lanthimos: “É muito estranho, muito incomum.” Naquela época, existia a ideia de que “vamos conseguir que um cineasta europeu ou não americano faça algo convencional, mas que dê seu toque autoral”.

Stone: Isso ainda acontece.

Lanthimos: Pois é, foi bem decepcionante, porque eu era muito ingênuo. Conhecia pessoas que falavam: “Meu Deus, ‘Dente canino’ é incrível, queremos trabalhar com você”. E então eu mostrava “O lagosta”, de 2016, e eles diziam: “Ah, não. Não estamos falando de algo assim. Você não quer fazer algo mais normal?”

Emma, como Yorgos te apresentou esse projeto?

Stone: Ele me passou uma visão geral da Bella, o que ela passa e como os homens em sua vida experimentam isso como resposta à sua evolução. E eu disse: “Estou dentro.” Meu Deus, ela é, provavelmente, a personagem mais incrível que já tive a oportunidade de interpretar.

O que há nessa personagem que é tão cativante?

Lanthimos: Ela não se parece com ninguém.

Stone: Ela está absorvendo tão intensamente o mundo ao seu redor, de maneira tão única e bela, que sonho em poder fazer o mesmo. Ela é tão inspiradora para mim que vivê-la todo dia durante todo o processo foi um grande presente, a maior alegria que já tive com uma personagem. Cada pessoa que existe acumula muitas experiências que moldam sua vida adulta, e foi interessante descobrir que, quando tudo isso é removido, o que permanece é só a alegria e a curiosidade.

Conhecemos Bella antes de ela passar pela troca de cérebro. Inicialmente, é uma mulher adulta. Depois, é um bebê adulto, impulsivo e infantil. Como foi incorporar essa fase?

Stone: Difícil. Esse foi o período mais complicado para mim, porque é quando ela é mais primitiva. Atuar é inerentemente embaraçoso. Como trabalho, pode fazer com que você se sinta uma completa idiota. Felizmente, com Lanthimos, é muito mais libertador e me sinto segura porque temos a liberdade de, logo de cara, dizer: “Acho que isso não está funcionando, vamos tentar outra coisa.” Com ele, também posso chorar se estiver enlouquecendo com alguma coisa, o que aconteceu muitas vezes. Já fazia anos que estávamos trabalhando nesse projeto, mas começar a filmar é sempre aterrorizante. As duas primeiras semanas de filmagem são sempre muito difíceis, porque você ainda está encontrando seu ritmo e descobrindo o que aquilo significa na prática. Por isso, a primeira semana foi muito desafiadora para que eu conseguisse me entregar e acreditar no processo, e acho que você, Yorgos, sentiu o mesmo que eu.

Lanthimos: Sim.

Stone: Falávamos disso todo dia, e eu questionava: “O que estou fazendo?” Você respondia: “Não sei.” Estávamos os dois tentando descobrir quem ela era.

Como a confiança que vocês têm um no outro influenciou a forma como filmaram o despertar sexual de Bella?

Stone: Isso simplifica tudo. Todas as vezes que filmamos uma cena assim, só tinha quatro pessoas na sala, e mais o ator que participava dela. A equipe presente era composta por Lanthimos; Robbie Ryan, que foi nosso diretor de fotografia e que já me viu nua tantas vezes que olha para mim com a mesma indiferença com que olha para um objeto; Hayley Williams, nossa primeira assistente de direção; e Olga Abramson, primeira assistente de câmera.

Lanthimos: Às vezes, não tinha nem som. Usávamos captadores de microfones quando era possível, mas nem sempre tinha alguém específico para operar um microfone suspenso durante a gravação. Era um momento muito íntimo.

Yorgos, no início da carreira você atuou no filme “Attenberg”, no qual participou de algumas cenas de sexo. Isso, de alguma forma, lhe deu uma perspectiva única para dirigir essas cenas?

Lanthimos: Para mim, nudez e sexo em filmes nunca foram um problema. Nunca entendi o puritanismo em torno disso. Sempre questionei como as pessoas são liberais em relação à violência e como permitem, de muitas formas, que menores de idade experienciem isso, ao mesmo tempo que temos todo esse falso moralismo em relação à sexualidade. A dificuldade de ser ator, no meu caso, era ter de esperar muito. E é por isso que, quando faço filmes, tento ter o menor número possível de elementos: sem luzes, sem equipamento, sem nada. Ninguém vai a lugar nenhum, ninguém vai embora. Não há tempo para fumar um cigarro, porque vamos em frente.

Stone: É por isso que você precisa passar a usar o vaporizador.

Como foi se aproximar do fim de um projeto tão envolvente como “Pobres criaturas”?

Stone: Meu Deus, foi um desastre. Eu estava devastada. Nem conseguia terminar as cenas que estávamos filmando no último dia, de tanto que eu chorava.

Você não queria que acabasse?

Stone: Eu queria terminar porque estávamos exaustos, mas no fundo eu não queria que chegasse ao fim. Foi uma experiência tão importante para mim que fico até triste de pensar nisso agora.

Lanthimos: O último dia foi no estúdio, e filmamos a cena em que ela pula da ponte.

Stone: Estou ficando emocionada. Desculpe, isso é tão bobo. É bizarro. Naquele dia, interpretei o salto que a personagem dá da ponte quando está grávida, e fiquei muito emocionada. Você pode imaginar, se estou aqui sentada chorando, anos após ter filmado aquela cena. Eu disse a Hayley, nossa assistente de direção: “Ah, meu Deus, é tão triste. Estou filmando um suicídio, e é o fim do filme, depois de toda essa experiência alegre.” E ela disse: “Não, este é o nascimento de Bella.” Eu disse: “Verdade, é isso! É o nascimento de Bella.” Foi muito bom terminar assim. (Enxugando os olhos, ironicamente.) Sim. De qualquer forma, foi ótimo. Não foi grande coisa. Filme divertido, nos divertimos. Só me importava o cachê.

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