Na faculdade, Lily Gladstone estudou a história dos atores indígenas dos EUA em Hollywood. Agora, está fazendo história. A atriz de 37 anos foi a primeira indígena a vencer o Globo de Ouro de melhor atriz por seu trabalho em “Assassinos da lua das flores”, drama de época dirigido por Martin Scorsese. No longa, ela interpreta Mollie Burkhart, membro do povo osage, de Oklahoma, Sul dos EUA, cujos parentes são sistematicamente assassinados em uma tentativa de confiscar suas terras ricas em petróleo.
Gladstone é o centro de gravidade do filme: mesmo quando compartilha cenas com celebridades como Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, o filme se curva a ela.
Também premiada pelo Círculo de Críticos de Cinema de Nova York, indicada ao Critics Choice Awards e provável nomeada no Screen Actors Guild e no Oscar, Gladstone tem sido muito procurada para mesas-redondas e eventos. Nessas ocasiões, tem se saído tão bem — aproveitando para divulgar a causa dos povos originários e amplificar outras vozes indígenas — que nem se imagina que, durante muito tempo, ela evitou Hollywood.
— É como se eu tivesse sido disparada de um canhão — diz Gladstone, traçando o longo caminho que a levou a todas estas cerimônias. — Meu pai é caldeireiro, minha mãe era professora. Fui criada em uma reserva indígena, estudei em escola pública, tive uma criação de classe trabalhadora.
Vencedores do Globo de Ouro 2024
Quando criança, crescendo na Reserva Blackfeet, no noroeste de Montana, Gladstone ansiava por uma semana durante todo o ano: aquela em que o Teatro Infantil Missoula chegaria em um pequeno caminhão vermelho, construiria um cenário com tubos de PVC e tecido e escalaria crianças locais para uma produção que toda a comunidade iria ver. —Fui muito tímida quando era criança. Mas aquela semana por ano era quando eu estava bem.
Lily tem um olhar penetrante e um senso de humor irônico, vislumbrado em alguns dos momentos mais leves do filme de Scorsese, e uma habilidade de pontuar suas conversas (e seus discursos nesta temporada de premiações) com um domínio da História.
— Lily é uma grande nerd, — diz a diretora Erica Tremblay, cujo filme “Fancy Dance” foi estrelado por Gladstone. — Se você estiver em um jantar com Lily, você se verá falando sobre física e abelhas.
Climão? Apresentador do Globo de Ouro faz piada com Taylor Swift e reação da cantora repercute nas redes
Para DiCaprio, a parceira de tela merece todos os elogios.
— Ela está à altura dessa ocasião. Além disso, é formidável a maneira como compreende a indústria do cinema e a história dos indígenas dos EUA — diz ele, reconhecendo que, por causa de Lily, está indo a uma série de eventos que normalmente evitaria. — Estou muito feliz por estar ao lado dela.
Gladstone reconhece que, às vezes, a intensidade dos holofotes da temporada de premiações pode parecer esmagadora. Ao mesmo tempo, quer aproveitar este período para chamar atenção para sua comunidade:
— Sei que toda a atenção que recebo neste momento não pode ficar restrita apenas a mim.
Em outras palavras, não espere que Gladstone saia dessa experiência transformada em uma exigente diva de Hollywood, como tanta gente fez antes dela. A atriz não é do tipo influenciável, na tela ou fora dela.
— Conversei com muitas pessoas que conhecem Lily Gladstone e são amigas dela há muito tempo. Ela é muito firme em sua essência — diz Tremblay. — Acho que ela será exatamente igual. Mas com roupas mais chiques.