"Não existe alternativa à paz" entre israelenses e palestinos, afirmou nesta segunda-feira (19) o cineasta Amos Gitaï, cujo filme mais recente, apresentado no Festival de Belim, é um apelo contra a política do governo de primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Este é o único longa do país selecionado para a competição e, segundo o jornal "Jerusalem Post", após a exibição, "o público aplaudiu respeitosamente e cerca de 20 pessoas até aplaudiram de pé o diretor quando ele foi apresentado antes da estreia". Não houve nenhum protesto nas imediações do cinema, como os rumores dos últimos dias levavam a crer.
- De Luciano Huck a Susan Sarandon: Personalidades da cultura reagem às falas de Lula sobre Israel
"Shikun", seu longa-metragem estreado na Berlinale, foi concluído em janeiro de 2023, muito antes do ataque a Israel perpetrado pelo movimento palestino islamista Hamas, em 7 de outubro. Amos Gitaï, uma figura proeminente do cinema israelense, afirmou que "esperava (surgir) dessa terrível tragédia a ideia de um modus vivendi entre israelenses e palestinos".
Protagonizado pela atriz francesa Irène Jacob, o filme é uma adaptação da peça "Rinoceronte", de Eugène Ionesco, uma alegoria sobre a ascensão do totalitarismo. No complexo habitacional israelense "Shikun", é retratado o surgimento do pensamento autoritário, onde algumas pessoas se transformam em rinocerontes, enquanto outras decidem resistir.
Guerra em Gaza completa 100 dias
A ideia para o filme surgiu durante a polêmica reforma do sistema judicial realizada pelo governo de Netanyahu, que desencadeou enormes manifestações da sociedade civil. O diretor, de 74 anos, considera isso um plano para transformar Israel em "um regime autocrático e autoritário".
O Tribunal Supremo de Israel anulou no início de janeiro uma disposição-chave da reforma.
Construção de pontes
Arquiteto de formação e com inclinações de esquerda, o cineasta é crítico da política de Netanyahu. "Como arquiteto, gosto de construir pontes e não queimá-las", disse ele na estreia, segundo o "Jerusalem Post".
Ainda segundo o jornal, numa coletiva após a exibição do filme, uma pessoa perguntou, para o cineasta e para a Comissária do Governo Federal para Cultura e Mídia, Claudia Roth, que estava no evento, se a Alemanha não devia cortar relações com Israel por causa do "genocídio em andamento" em Gaza. Amos Gitaï se limitou a dizer: "Nós vamos lutar para preservar Israel que amamos" por meio do diálogo. Uma pessoa da plateia gritou "cessar-fogo agora", ao que outro respondeu "libertemos reféns".
Apesar das poucas manifestações do público dentro e fora das salas de exibição durante o filme de Amos Gitaï, o festival precisou lidar com um protesto por escrito de cerca de 50 trabalhadores da organização demandando uma posição mais enérgica do evento em relação a um cessar-fogo em Gaza. Em janeiro, o videoartista canadense John Greyson, o cineasta indiano-americano Suneil Sanzgiri e Ayo Tsalithaba, um artista visual de Gana e Lesoto, retiraram seus trabalhos da seção Fórum Expandido da Berlinale.
Carlo Chatrian, diretor artístico do festival, disse em uma entrevista à "Variety", na época, que entendia se algus cineastas não quisessem participar do festival, mas “ainda acreditamos que é um ótimo local de diálogo e queremos mantê-lo como um local de diálogo.”
Inscreva-se na Newsletter: Seriais