O cinema francês celebra, nesta sexta-feira (23), a sua gala anual, os Prêmios César, novamente atormentado por denúncias de violência sexual, desta vez de atrizes que eram menores de idade quando foram supostamente vítimas de diretores abusivos. A tempestade do movimento #MeToo não para de crescer na França e a nova onda de acusações é liderada por Judith Godrèche (51 anos) e Isild Le Besco (41).
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Ambas acusam os cineastas Benoît Jacquot e Jacques Doillon de terem exercido sobre elas um autêntico "domínio" psicológico décadas atrás, quando começavam no mundo do cinema. Godrèche tornou-se parceira de Jacquot depois de filmar "Les mendiants" sob sua direção em 1986. A jovem foi morar com ele aos 15 anos, sem que seus pais supostamente se opusessem. Ele tinha 39 anos (atualmente 77).
Essa relação foi vivida durante seis anos diante dos olhos da opinião pública, em particular do cinema e da televisão franceses. Godrèche agora denuncia seu ex-companheiro por "estupro" e por ser um "predador". Ele garante que tudo é falso e que foi ele quem caiu sob seu "poder".
Godréche também trabalhou com Doillon quando ainda era menor de idade, como aconteceu anos depois no caso de Isild Le Besco. Esta atriz também teve um breve relacionamento com Benoît Jacquot quando tinha 16 anos. Jacquot, afirma Isild Le Besco, a chamava de "gorda" e submeteu-a a um relacionamento abusivo e dominador.
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Isild filmou "Sade" com Jacquot em 2000. Na época, aos 17 anos, ela afirma ter rejeitado as "cantadas" de Jacques Doillon (atualmente com 79 anos) — em represália, ele teria negando um papel a ela. Doillon nega as acusações e afirma que ela mentiu e por isso não conseguiu o papel.
Agora Isild Le Besco está "considerando" processar os dois diretores, como já fez Judith Godrèche. As declarações das duas atrizes foram apoiadas por outras colegas, e agora a incógnita é saber se Judith Godrèche comparecerá à gala dos César, que acontece no salão Olympia. Há um ano, a Academia Francesa de Cinema proibiu a participação de qualquer profissional acusado ou condenado por atos violentos.
"Se vou ou não ao César, pouco importa", disse ela esta semana. "Também gosto de ser mimada. Mas o nosso setor sofre em silêncio. As nossas jovens sofrem em silêncio. E mais uma vez, o governo está em silêncio, os atores, os diretores estão em silêncio", denunciou a atriz, que prestará depoimento no Senado francês na semana que vem.
Indicados ao Cesar
"O reino animal", dirigido por Thomas Cailley e estrelado por Romain Duris, lidera as indicações concorrendo em 12 categorias, enquanto que "Anatomia de uma queda", drama de Justine Triet vencedor da Palma de Ouro e indicado a cinco estatuetas do Oscar, veio logo atrás com 11.
Escolhido o representante da França na corrida pelo Oscar de melhor filme internacional, para o qual não ficou na lista final, "O sabor da vida", de Trần Anh Hùng, também obteve pouco destaque no chamado "Oscar do cinema francês". O longa estrelado por Juliette Binoche e Benoît Magimel recebeu somente três indicações em categorias menos relevantes.
Favorito ao Oscar, "Oppenheimer", de Christopher Nolan, não ficou de fora da festa francesa e está na disputa de melhor filme estrangeiro