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Em cartaz nos cinemas brasileiros deste quinta-feira (11), “O sabor da vida” abre com uma longa e detalhada sequência em que Eugénie (Juliette Binoche) e Dodin (Benoît Magimel), dois cozinheiros de mão-cheia, preparam um suntuoso banquete na cozinha de um castelo francês do Vale do Loire, no século XIX. Um belo e silencioso balé culinário no qual legumes, verduras, carnes, temperos e utensílios de cobre funcionam como coadjuvantes de uma história de companheirismo e sedução.

Para chegar a esse nível de harmonia entre os protagonistas, no entanto, o diretor vietnamita naturalizado francês Tran Anh Hung, conhecido por filmes premiados como “O cheiro do papaia verde” (1993) e “As luzes de um verão” (2000), precisou vencer a tensão que recaía sobre o passado em comum de seus dois intérpretes famosos: Juliette e Benoît se conheceram durante as filmagens de “Os filhos do século” (1999), de Diane Kurys, tiveram uma filha, Hana, e se separaram em 2003, sem nunca terem se casado oficialmente. Desde a separação, eles não mantinham uma relação próxima, familiar, social ou profissional.

Juliette foi escalada por Anh Hung primeiro, e soube por ele que o papel do gourmet Dodin seria oferecido a Benoît.

— Na época, meu agente me perguntou se não havia problema em entregar o roteiro a Benoît. Eu disse que não teria problema algum, até pensando que ele não aceitaria o papel. Quando ele concordou em fazer o filme, fiquei um pouco preocupada, mas também surpresa por ele se atrever a atuar comigo num filme que fala de um relacionamento conjugal duradouro — lembrou a atriz durante o evento Rendez-Vous do Cinema Francês, em janeiro, em Paris.

Benoît e Juliette em cena: “um presente” para sua filha, diz a atriz — Foto: Divulgação
Benoît e Juliette em cena: “um presente” para sua filha, diz a atriz — Foto: Divulgação

Ameaça de sair do projeto

Os primeiros dias de filmagem refletiram o clima do reencontro também profissional entre os dois, já que eles não trabalham juntos há mais de 20 anos.

— Eles estavam tensos no início — confirmou Anh Hung. — O chef Pierre Gagnaire, consultor para o filme, havia me dito que seria impossível para Eugénie cozinhar sozinha todos aqueles pratos para a sequência de abertura, como previa o roteiro. Então dividi a tarefa entre os dois e mais uma ajudante. Juliette percebeu que Benoît participava demais no preparo da comida, e assim ninguém saberia que ela era a cozinheira da história, e ela estava certa. Avisei ao Benoît que iria diminuir a participação dele na cena e ele não gostou, ameaçou sair do projeto. Consegui convencê-lo, mas, antes de ele aceitar, Juliette conversou seriamente come ele. E o resultado é o que vemos no filme.

Apesar das turbulências iniciais, “O sabor da vida”, que saiu do Festival de Cannes do ano passado com o prêmio de direção e representou a França na corrida ao Oscar de melhor filme internacional, será também lembrado pelas conciliações que promoveu.

— Houve muitas coisas não ditas ao longo dessas duas décadas, e já estávamos separados há muito tempo — observou Juliette. — Para mim, trabalhar junto com Benoît nesse filme foi uma forma de dizer o quanto eu o amo, aconteça o que acontecer. E também foi um jeito de dar à nossa filha, Hana, um grande presente, uma grande piscadela de olho sugerindo que a vida é mais forte, o amor é mais forte, não importa o que aconteça conosco.

Livremente inspirado no livro “La vie et la passion de Dodin-Bouffant, gourmet”, do suíço Marcel Rouff, o filme descreve a relação entre o dono de um restaurante e sua cozinheira. Eles trabalham juntos há mais de 20 anos, criam pratos deliciosos e requintados que atraem clientes de todo o mundo. O amor pela comida os aproximou, inspirou sentimentos mais profundos mas, amante da liberdade, Eugénie sempre resistiu aos pedidos de casamento de Dodin.

— Na verdade, esse filme é mais feminista do que as pessoas possam imaginar à primeira vista. É um aspecto que está meio escondido na trama, esse desejo da parte de Tran de retratar a mulher da forma correta, em seu status correto — elogiou Juliette. — Encontrar seu próprio caminho, sua própria voz na vida, é uma questão muito importante no filme. Precisamos encontrar nosso lugar de direito, é por isso que a vida vale a pena ser vivida, porque você progride, evolui. Eugénie sabe que é uma cozinheira fantástica e isso lhe dá a clareza de propósito, mas não a detém de amar e ser amada.

Apelidado de “o Napoleão das artes culinárias”, Dodin-Bouffant é um perfeccionista que deve muito aos atributos de sua cozinheira e braço direito. Em meados do século XIX, o poderoso chef tinha como filosofia que “a descoberta de um prato é muito mais importante do que a descoberta de uma estrela”. O mais recente desafio culinário é impressionar uma grande figura da realeza da época com uma simples receita de pot-au-feu, tradicional guisado de carne considerado um dos pratos mais celebrados da cozinha francesa. Em momento de fragilidade física de Eugénie, Dodin decide demonstrar seu amor cozinhando para ela.

— O que é dito por intermédio da comida é precisamente o que não pode ser dito em palavras. No filme, há uma metáfora muito clara sobre o fato de Dodin já ter tentado de tudo para convencer Eugénie a se casar com ele, mas ela sempre ter recusado. E seu último recurso é a comida, ele vai tentar convencê-la com isso, cozinhando para ela. Então, o que é belo aqui é esse mistério que não está nas palavras — explicou Anh Hung.

Juliette Binoche e Benît Magimel em cena de "O sabor da vida" — Foto: Divulgação
Juliette Binoche e Benît Magimel em cena de "O sabor da vida" — Foto: Divulgação

‘Carta de amor à França’

“O sabor da vida” é uma história de amor contada entre inúmeras visitas a uma cozinha de pedra forrada com panelas reluzentes, na qual são preparadas refeições de encher os olhos. O filme promove uma imersão na culinária francesa daquele século, que celebra os prazeres em torno de uma mesa, filmado nos mínimos detalhes pelo diretor, com a ajuda do diretor de fotografia, Jonathan Ricquebourg.

— Vejo o filme como um hino à beleza, à vida e, portanto, ao amor, porque a natureza é generosa, mas olha o que estamos fazendo com ela — resumiu Juliette, empossada, mês passado, como presidente da Academia Europeia de Cinema, em substituição à cineasta polonesa Agnieszka Holland. — Temos a escolha de continuar o gesto da natureza, e fazer ainda mais beleza, criação. Porque cozinhar também é uma forma de criação, ela nos transforma, nos dá energia, a energia para amar, a energia para viver.

Para a atriz, o filme é também uma declaração sobre a França:

— Anh Hung adotou a França como seu país, que em troca o adotou também. Para nós, franceses nativos, é muito comovente ver este amor pelo requinte francês, que também nós tendemos a esquecer em casa. Este filme é uma carta de amor dele à França.

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