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Por , Do New York Times

Distopias raramente são tão sombrias ou tão estimulantes quanto no ciclo “Mad Max”, de George Miller. Há décadas, o diretor australiano vem impressionando os espectadores com imagens alucinantes de um mundo violento e devastado — parecido o suficiente com o nosso a ponto de gerar arrepios. No entanto, por mais familiar que seu universo alternativo possa parecer, sua exuberância cinematográfica é tamanha que sempre foi fácil se encantar com o espetáculo. "Apocalipse? Legal!"

A questão é que o apocalipse começou a parecer menos legal porque, nos anos que se passaram desde a estreia do “Mad Max” original, em 1979, a distância entre a terra arrasada de Miller e a nossa diminuiu. Ambientado “em um futuro próximo”, o primeiro filme acompanha Max Rockatansky (Mel Gibson), um policial rodoviário que tem uma vida aparentemente normal, com esposa e filho. Mas a sensação de normalidade é logo dissipada pelas perseguições e colisões que se seguem, com motores em disparada e pelas gargalhadas loucas.

O último e quinto filme de Miller no ciclo, “Furiosa: uma saga Mad Max”, é basicamente uma história de origem que narra a vida e os tempos brutais e desumanos da jovem Furiosa (Anya Taylor-Joy), a motorista de caminhão durona interpretada por Charlize Theron no quarto filme, “Mad Max: estrada da fúria” (2015). A obra-prima de Miller e um dos melhores filmes da última década, “Estrada da Fúria” é ao mesmo tempo a apoteose de seu gênio cinematográfico e um desvio narrativo e tonal em relação aos filmes anteriores. Em “Fúria”, Max ainda é o protagonista nominal (com Tom Hardy substituindo Gibson), mas o peso dramático e emocional do filme recai sobre Furiosa.

Mitos modernos

Como convém a um mito de criação, "Furiosa" acompanha a personagem desde a infância até a idade adulta, uma espiral descendente que a leva da liberdade ao cativeiro e, com o tempo, à uma soberania limitada. O filme começa com a protagonista ainda com 10 anos (Alyla Browne), procurando alimentos em uma floresta próxima a um oásis paradisíaco chamado Local Verde de Muitas Mães. No momento em que ela está pegando um pêssego maduro, de forma divertida e metafórica, seu idílio é interrompido por uma gangue de motoqueiros com dentes arreganhados. Logo eles estão atravessando o deserto com Furiosa amarrada a uma de suas motos, com sua mãe (Charlee Fraser) e outra mulher a cavalo, em uma perseguição que pressagia a luta que se seguirá.

A odisseia de Furiosa se torna ainda mais sinistra quando ela é entregue ao líder dos motoqueiros, Warlord Dementus (um Chris Hemsworth vampirizado), um volúvel exibicionista que supervisiona um bando de nômades, em sua maioria homens. Usando uma capa branca esvoaçante, Dementus viaja em uma carruagem puxada por motocicletas. Ele é uma figura ridícula, e Miller e Hemsworth se inclinam para o absurdo do personagem com uma apresentação física estranha.

O poder dos filmes “Mad Max” deriva, em parte, da forma como Miller sobrecarrega os tipos de histórias que são passadas de família para família, de tribo para tribo, de cultura para cultura, aquelas que estão embutidas em nossas cabeças e traçam nossos caminhos, quer saibamos disso ou não. No entanto, embora Miller seja um criador de mitos moderno, ele permanece ligado ao mundo — as maquinações e conflagrações nos filmes às vezes espelham estranhamente as nossas.

O filme muda de direção quando, depois de algumas jogadas de poder e de uma narrativa complicada, Furiosa chega à Cidadela, a fortaleza fortemente vigiada da qual a personagem fugiu em “Estrada da fúria”. Lá, ela é reunida com algumas jovens enclausuradas, servas cuja única função é gerar filhos para Immortan Joe (Lachy Hulme), o líder da Citadel. É também lá que Furiosa, ainda criança (e ainda interpretada por Browne), chama a atenção de um dos descendentes de Immortan Joe, um predador corpulento cujos planos para ela levam a história a um registro diferente e perturbador. Miller, de forma inteligente, não exagera nessa seção, mas ainda assim é um choque.

O choque perdura e escurece a história precipitadamente. Para sobreviver, Furiosa escapa de seu possível molestador, ocultando sua identidade e juntando-se às fileiras dos trabalhadores da Cidadela. Ela se funde com a multidão, e os anos passam à medida que as cenas se misturam e uma Taylor-Joy determinada e simpática assume o papel. Há mais, muito mais: Furiosa raspa a cabeça e encontra um mentor em um motorista, Praetorian Jack (Tom Burke). Juntos, eles e exércitos de lacaios viajam para batalhas onde Miller deslumbra com sua pirotecnia habitual, enquanto coloca as peças — incluindo Immortan Joe e Dementus — no lugar.

Cena por cena, “Furiosa” é um complemento de “Estrada da Fúria”, mas o novo filme nunca se destaca totalmente como o anterior. No fim das contas, uma coisa é assistir a um filme sobre guerreiros que pegam a "estrada para lugar nenhum". Outra coisa completamente diferente é assistir a uma mulher lutando para sobreviver em um mundo que devora seus jovens e todos os outros também. Miller é um cineasta tão inventivo que é fácil esquecer que ele continua fazendo filmes sobre o fim da vida como a conhecemos. É muito divertido ver seus personagens lutando por petróleo, água e mulheres, mas, embora há muito tempo eu o considere um grande cineasta, foi somente com “Furiosa” que entendi: ele também é um profeta.

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