RIO - Todo dia (das Bruxas) ele faz tudo sempre igual: ressurge, vai atrás dela e promove uma carnificina pelo caminho.
Há quatro décadas, o primeiro “Halloween” chegou aos cinemas aterrorizando plateias pelo mundo. Dirigido por John Carpenter, trazia o psicopata mascarado Michael Myers tentando assassinar a todo custo a babá badass Laurie, imortalizada por Jamie Lee Curtis.
Desde então, dez filmes da saga já foram feitos. E o 11º estreia na próxima quinta-feira. A premissa é a mesma, claro. Ainda assim, a produção chega ao circuito cercada de expectativa e elogios — segundo a crítica, é o melhor da série desde o original. Quarenta anos depois, para espanto de muita gente, a franquia segue firme como exemplar da cultura pop.
Pesquise as razões por trás disso e você encontrará várias teorias: a presença de uma personagem feminina forte em meio ao terror; o inesquecível pianinho ágil pontuado pelo sintetizador sinistro da trilha sonora , composta pelo próprio Carpenter; o suspense e o excesso de sangue; e por aí vai.
São explicações válidas, mas há uma que nos atinge de forma dilacerante.
— “Halloween” colocou o horror dentro das nossas casas — avalia Carlos Primati, pesquisador do gênero. — O inimigo deixou de ser o vampiro ou o lobisomem, ou o sobrenatural. Também não está numa mansão mal-assombrada distante de tudo. Ao contrário: a ameaça vem de um homem comum, que poderia ser da sua família. A noção de um ambiente seguro, seja o subúrbio americano ou um condomínio fechado, desaba.
Carpenter sabia muito bem como essa ideia soava aterrorizante. Passou o recado já na cena de abertura do “Halloween” original, quando um Michael Myers mirim matava a irmã a facadas — sua primeira vítima.
E O MISTÉRIO SEGUE
Mas por que ele comete tamanhas atrocidades? Esse é um mistério até hoje debatido, e outro aspecto que dá medo.
— A ideia de um assassino sem motivação aparente é angustiante, para não dizer fascinante — diz o produtor e curador Breno Lira Gomes, responsável pela mostra de filmes Monstros no Cinema, exibida mês passado no CCBB. — Neste novo “Halloween”, fica claro que não há gatilho por trás. Ele é a verdadeira personificação do Mal.
Algumas sequências da história até tentaram flertar com uma explicação para o impulso sanguinário de Myers. Sobretudo os remakes de Rob Zombie, “Halloween: O início” (2007) e “Halloween II” (2009). Bullying na escola e uma família problemática estariam na raiz da psicopatia. Mas a releitura não agradou aos fãs nem à crítica.
Como resultado, o novo filme, dirigido por David Gordon Green (de “Segurando as pontas”), ignora completamente todas as continuações e parte de onde o clássico de Carpenter parou. Na trama, Laurie é uma mulher paranoica e traumatizada com os eventos ocorridos na juventude. Vive trancada num sítio cravado numa floresta e acredita que, um dia, Meyers voltará para atormentá-la.
MALUCOS MASCARADOS
Para a surpresa de ninguém, é exatamente isso o que acontece. O psicopata escapa do hospital psiquiátrico onde está internado há anos e inicia um jogo de gato e rato com Laurie, matando todos que se metem no meio. Com direito a muito sangue na tela — marca registrada da franquia que foi precursora do slasher , subgênero do terror caracterizado pela violência explícita, normalmente perpetrada por um maluco mascarado (vide “Sexta-feira 13” e “Pânico”).
Fique de olho também nos vários easter eggs , as gracinhas ocultas, e nas referências ao filme original, além de uma atmosfera retrô e minimalista.
— Mike é um ícone do horror: é humano o suficiente para suas ações parecerem reais, mas também desumano num nível desorientador e imprevisível — analisa Anthony McGlynn, do site especializado “Screenrant”. — Será que alguém vai detê-lo um dia? Talvez não, mas é exatamente isso que faz a gente querer voltar à cidadezinha de Haddonsfield de novo e de novo.