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Por que ‘La la land’ se tornou o grande vitorioso do Globo de Ouro e uma das principais apostas do Oscar

Estrelado por Ryan Gosling e Emma Stone, musical estreia no Brasil no dia 19

Ryan Gosling em cena do filme "La La Land: Cantando Estações"
Foto: Divulgação/Dale Robinette /
Divulgação/Dale Robinette
Ryan Gosling em cena do filme "La La Land: Cantando Estações" Foto: Divulgação/Dale Robinette / Divulgação/Dale Robinette

TORONTO — Você pode dizer que Ryan Gosling não sabe cantar. Que Emma Stone, dançando, é uma boa atriz. Que não há um único personagem gay em um musical passado na Los Angeles atual. E apontar a aparente contradição de um filme assumidamente saudoso da era do jazz rechear a trilha sonora com um punhado de baladas-chiclete. Você tem carradas de razão, mas também pode, é claro, ser um chato de galochas. Grande vencedor do Globo de Ouro no último domingo , quando levou todos os prêmios a que concorria na categoria comédia ou musical (melhor filme, direção, roteiro, ator, atriz), além de canção original e trilha sonora, “La la land: cantando estações” chega aos cinemas brasileiros em pré-estreia nesta quinta (e oficialmente no dia 19), com pinta de favorito ao Oscar e lugar cativo nos corações de público e crítica dos EUA, onde estreou no mês passado.

Tributo à Los Angeles contemporânea e aos musicais clássicos de Hollywood, a história de amor criada por Damien Chazelle tem sido vista como antídoto exato ao pessimismo que tomou de assalto os grandes centros urbanos americanos após a vitória de Donald Trump.

— Decidi abrir o filme com a cena de um engarrafamento típico de Los Angeles especialmente porque, ali, é um momento “dá ou desce”: as pessoas começam a cantar e dançar, é a liberação da ditadura do tráfego. Mas também é a oportunidade que dou para o público: gente, é um musical. Ryan, Emma e o elenco de apoio vão tocar piano, cantar e dançar. Se você quiser escapar, faça como aqueles personagens que deixam os carros para trás e corra já no começo — diz o diretor, meio de brincadeira, mas muito a sério.

Foi mais ou menos assim, ele conta, sua apresentação do esboço do filme para executivos dos principais estúdios americanos, há seis anos. Muita gente torceu o nariz. E o sinal verde só foi dado depois da explosão de seu segundo longa, “Whiplash: em busca da perfeição”, que venceu os Oscars de melhor ator coadjuvante (para JK Simmons), edição e mixagem de som, na cerimônia de 2015.

A princípio, o casal central de “La la land” (uma brincadeira com a abreviação de Los Angeles, L.A.) seria formado pelo protagonista de “Whiplash”, Miles Teller, e pela Hermione da franquia “Harry Potter”, a inglesa Emma Watson. Teller teria pedido bem mais do que o salário oferecido pelos produtores, e estes acabaram optando por bisar o duo Ryan Gosling e Emma Stone, já testado na comedia “Amor a toda prova” (2011), quando fizeram uma hilária performance repetindo a cena mais icônica de um dos musicais-símbolo dos anos 1980, “Dirty dancing — Ritmo quente”.

Curiosamente, o longa protagonizado por Patrick Swayze e Jennifer Grey foi lançado em 1987, dois anos após Chazelle nascer. Pois era aquela a química que o diretor de 31 anos buscava para contar a história de Sebastian e Mia. Agora encarnados por atores mais maduros do que Teller e Emma Watson, eles convencem na pele de personagens que cultuam o passado ao mesmo tempo que sonham com transformações radicais em suas vidas profissionais e amorosas. Ele é um músico idealista decidido a abrir um clube de jazz e a reapresentar aos ouvintes o ritmo dado como morto. Ela é uma atriz que vive de bicos, interessada em provar que a mágica do cinema não morreu com a massificação da indústria cultural americana. O amor dos dois, tão imperfeito quanto os talentos artísticos da dupla, é o toque humano que faz do filme, premiado nos festivais de Veneza (melhor atriz para Emma) e Toronto (melhor filme no voto popular), um produto singular na atual safra de Hollywood.

— A ambição do projeto me deixou de boca aberta — diz Emma. — Damien queria fazer um musical contemporâneo, porém filmado tal qual um clássico da MGM dos anos 1950, inclusive com a abertura em Cinemascope e com cenas como a dos dois flutuando no planetário do Observatório Griffith. Mas os personagens, ele enfatizou desde o início, não cantam como estrelas da Broadway. A cena em que cantarolamos juntos “City of stars”, a canção-tema, na casa de Sebastian, com Ryan ao piano, foi filmada ao vivo. E eu propositadamente rio no meio da música, como se perdesse uma nota. É que buscamos a imperfeição da emoção, algo romântico, mas igualmente realista.

“SONHAR AINDA É POSSÍVEL”, DIZ GOSLING

E o Sebastian de Gosling canta, não por acaso, com a economia cool dos crooners do West Coast jazz dos anos 1950:

— Foram três meses para aprender a tocar piano e a cantar, do meu jeito, de um modo que refletisse as angústias e alegrias de Sebastian com sua vida e com a cidade que escolheu para chamar de sua. O filme me fez pensar que há muitas Américas, muitas Los Angeles. É esta sensação de esperança no imperfeito que te deixa com o coração quente no fim de “La la land”, ou, deveria dizer eu, nos finais, porque até ali Damien brinca com a ilusão e a realidade. Sonhar ainda é possível.