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Cultura

Flip nega que tenha convidado Jair Bolsonaro para a próxima edição

Boato de que o presidente abriria a festa em Paraty foi impulsionado por site nesta terça-feira
O presidente Jair Bolsonaro não foi convidado para a Flip 2020 Foto: Sergio Lima / AFP
O presidente Jair Bolsonaro não foi convidado para a Flip 2020 Foto: Sergio Lima / AFP

RIO — A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) precisou divulgar uma nota nesta terça-feira negando que teria convidado o presidente Jair Bolsonaro para a edição de 2020. O evento está marcado para acontecer entre os dias 29 de julho e 2 de agosto, e terá a poeta americana Elizabeth Bishop como homenageada .

"A Flip nega que Jair Bolsonaro tenha sido convidado ou vá participar da Festa da Literatura Internacional de Paraty de 2020. As fake news que circulam pelas redes sociais anunciando a presença do presidente no evento não têm nenhum fundamento", garante a produção.

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No Twitter, as primeiras mensagens que juntam as palavras "Flip" e "Bolsonaro" vêm de usuários que divulgam o link de uma notícia publicada pelo site "Brasil 247" às 15h32. O texto diz apenas que "Jair Bolsonaro anunciou que fará a abertura da feira", sem identificar a situação ou meio em que o presidente fez o anúncio.

O site aponta ainda que "Elizabeth Bishop apoiou o golpe de 1964". A indicação da americana, a primeira autora estrangeira homenageada pela Flip, gerou indignação e debate no meio literário nesta terça. Autores lamentaram o fato de Bishop, que viveu durante 20 anos no Brasil, ter declarado apoio ao golpe militar de 1964 e feito comentários negativos e preconceituosos sobre o o país.

“Manuel Bandeira é delicado e musical e tudo o mais — nada parece sólido ou realmente ‘criado’ — é tudo pessoal e tendendo para o frívolo. Um bom poema de Dylan Thomas vale mais do que toda a poesia sul-americana que já vi, com a exceção, possivelmente, de Pablo Neruda”, escreveu a autora em carta ao poeta americano Robert Lowell, para quem resumiu o golpe de 1964 como “uma revolução rápida e bonita, debaixo de chuva — tudo terminado em menos de 48 horas”. À crítica literária Anne Stevenson, ela afirmou “nunca, antes de vir para cá, sonhei por um minuto que algum dia eu gostaria de ver um exército tomar o poder”.

Para o poeta, crítico e ensaísta Antonio Carlos Secchin, membro da Academia Brasileira de Letras, a autora falava “mal de praticamente todos os brasileiros” e “reduziu a quase nada a poesia de Manuel Bandeira, além da de toda a América do Sul”. Secchin também questiona o momento para a homenagem à escritora americana.

— Não me pareceu adequada, até pelo quadro político atual, em que sabemos que a cultura e a literatura não estão entre as prioridades, para dizer pouco — afirma.

Curadora da Flip, a jornalista e editora Fernanda Diamant defendeu a homenagem a Bishop:

— Resolvi, em comum acordo com a direção da Flip, enfrentar o desafio de homenagear uma grande autora que, além de estrangeira, manifestou, principalmente em cartas (que são obviamente de foro íntimo em sua origem), muitas opiniões polêmicas, contraditórias e, por que não, retrospectivamente equivocadas e desinformadas. Como com Euclides da Cunha, grande autor homenageado de forma crítica e atualizada, a minha intenção é fazer o mesmo em 2020.