Histórias de família e experiências de ser mãe e escritora foram alguns dos temas da última mesa da quinta-feira da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, com a psiquiatra e escritora paulistana Natalia Timerman e a escritora e jornalista irlandesa Sinéad Gleeson. A mediação foi da editora e crítica literária Rita Palmeira.
Natalia tem quatro livros publicados, o mais recente deles intitulado “As pequenas chances” (Todavia), em que transforma em ficção a experiência da perda real do pai e trata da questão do luto e do passado familiar.
— Muito do que escrevo parte de uma dor pessoal, mas consegue chegar no outro. O vazio instaurado pela morte do meu pai abriu muitas perguntas — falou Natalia. — A partir disso, comecei a pesquisar histórias da minha família e de muito mais gente, dos judeus que migraram para São Paulo. A história de toda família é constituída do que a gente sabe e não sabe. Com a ficção, procurei apontar silêncios.
No livro de ensaios recém-lançado no Brasil, “Constelações” (Relicário), Sinéad também relata experiências pessoais, tipo a vinda para o Brasil depois da eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Mas concentrou-se, na mesa, em compartilhar seu processo de escrita sobre problemas ortopédicos com os quais precisou lidar na adolescência.
— De 13 aos 17 anos, fiquei quase o tempo todo hospitalizada, num momento muito formativo. Mas você leva tempo quando escreve sobre uma coisa que é traumática, precisa de distanciamento. É difícil escrever sobre assuntos difíceis — diz Sinéad.
Duas mães, as palestrantes contaram ter começado a escrever depois da experiência de darem à luz, ao contrário de muitas escritoras que acabam diminuindo o ritmo por obrigações com os filhos. Natalia ainda contou que seu próximo livro trata do tema maternidade, mas olhando para a própria mãe, agora com Alzheimer.
— A vida da minha mãe como eu conhecia terminou. Agora quem cuida dela sou eu — diz Natalia. — Muito diferente de como foi com meu pai, eu não anotei nada. Com o adoecimento dela, comprei um caderno pequeno e vou anotando. É como um diário da perda.