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Cultura Oscar

'Hair love': favorito ao Oscar nasceu de uma vaquinha online

Curta de animação de Matthew A. Cherry mostra um pai que arruma o cabelo da filha
Cena do curta 'Hair love' Foto: Reprodução
Cena do curta 'Hair love' Foto: Reprodução

LOS ANGELES — Da vaquinha online ao tapete vermelho do Oscar , o diretor Matthew A. Cherry percorreu uma trajetória curiosa para conseguir realizar seu primeiro curta-metragem de animação. Pelo caminho, ainda lançou um livro best-seller baseado no filme. A história é cabeluda, literalmente.

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“Hair love” (amor de cabelo) fala sobre um pai afro-americano que precisa ajudar sua filha a arrumar o cabelo antes de sair de casa para um grande evento. A tarefa não é nada fácil: a pequena tem um cabelão afro generoso e quer um penteado especial.

— Não sou pai, mas vejo meu curta como uma carta de amor para minha futura filha — disse Cherry, 38 anos, num evento nesta semana na sede da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em Beverly Hills, que reuniu todos os indicados de curtas de animação.

Cherry, um ex-jogador de futebol americano, é diretor de dezenas de videoclipes, dois longas-metragens e seriados como “Black-ish”, além de ter atuado como produtor-executivo de “Infiltrado na Klan” (2018), filme de Spike Lee.

“Hair love” é sua estreia na animação. Como havia feito em projetos anteriores, foi ao site de vaquinhas “Kickstarter” em 2017. A ideia inicial era levantar US$ 75 mil, mas o projeto fez tanto sucesso online que acabou com US$ 284 mil (R$ 1,2 milhão) de quase 5 mil apoiadores. O dinheiro extra ajudou a melhorar a qualidade do trabalho, que contou com codireção de Everett Downing e Bruce W. Smith, veteranos da animação.

A inspiração de “Hair love” veio da vontade de Cherry de ver mais negros representados em filmes de animação e também de uma série de vídeos populares que ele achou no YouTube sobre pais negros arrumando o cabelo afro de seus filhos e filhas.

— Os vídeos são tão fofos e graciosos, mas também bem estranhos, não? — questionou. — Muitas vezes as pessoas dão crédito extra aos pais por fazerem as coisas mais normais. Se a mãe estivesse fazendo, bem, seria normal.

Matthew A. Cherry, diretor do curta de animação 'Hair love', durante evento pré-Oscar Foto: MARK RALSTON / AFP
Matthew A. Cherry, diretor do curta de animação 'Hair love', durante evento pré-Oscar Foto: MARK RALSTON / AFP

O diretor comentou que tem muitos amigos negros que são pais e queria poder representá-los numa história positiva, algo raro de se ver no cinema e mais ainda no mundo das animações:

— Queria mostrar personagens que as crianças pudessem se ver nas telas. Porque cinema é algo poderoso. Se você não se vê na tela, não vê personagens com o seu cabelo, o seu nariz, a sua cor, você começa a pensar se é menor que os outros.

“Hair love” também virou livro infantil em 2019, com ilustrações de Vashti Harrison, autora de “Little leaders: Bold women in Black History” e “Sulwe”, feito em parceria com Lupita Nyong’o . Segundo a assessoria do diretor, “Hair love” já tem editora no Brasil e será lançado neste ano.

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Cherry levará seus dreadlocks ao tapete vermelho do Oscar no domingo, acompanhado de um convidado especial. O diretor chamou para a festa um adolescente do Texas que fez manchete por ser banido de uma cerimônia de graduação por conta de seus dreadlocks.

“Hair love”, feito em animação 2D, é um dos favoritos ao Oscar. O tema família aparece em outros dois curtas indicados, criados com a técnica stop-motion: “Dcera” (filha em tcheco), da diretora Daria Kashcheeva, também fala da relação entre pai e filha, embora num tom sombrio.

Já a diretora chinesa Siqi Song criou bonecos de lã para filmar “Irmã”, sobre um garoto e sua irmã mais nova imaginária.

“Kitbull” é o primeiro trabalho feito inteiramente em 2D lançado pela Pixar. Desenhado a mão, o filme conta a história de uma amizade improvável entre um pitbull e um gato de rua. O francês “Memorable” usa stop-motion para entrar no universo de um artista com Alzheimer, com cenas pintadas ao estilo de artistas famosos.