Cultura

Indústria de games no Brasil cresce 30% e já chega a quase mil títulos

Entre as produções, há vencedores de prêmios internacionais como 'Horizon Chase'
O game Horizon Chade Turbo
O game Horizon Chade Turbo

RIO - Apoiado no avanço tecnológico e graças à engenhosidade dos desenvolvedores brasileiros, o game nacional derrubou barreiras planeta afora, deu um nocaute na escassez de investimentos, avançou na estrada do reconhecimento e chega no fim desta década à fase da maturidade, com a indústria crescendo quase 30% ao ano, segundo o último censo do setor, divulgado há seis meses pelo Ministério da Cultura.

Segundo o levantamento, de 2016 para 2017 pulou de 754 para 956 o número de jogos eletrônicos produzidos no Brasil. Hoje, somos o 13º país com maior mercado consumidor de games e temos mais de um smartphone ativo por habitante — o volume supera 306 milhões de aparelhos, estimou no ano passado a Fundação Getúlio Vargas. De 2014 a 2018, as empresas desenvolvedoras foram de 142 a 375.

Sem a barreira linguística que impacta outros produtos culturais, games como “Horizon Chase”, “Dandara” e a série “Knights of Pen and Paper” vêm amealhando prêmios e multiplicando diariamente seus lucros pelo mundo.

— É todo um ecossistema que cresce, com cursos específicos de formação e núcleos fortes no Recife, em Brasília e em Porto Alegre, e não só no Rio e em São Paulo — diz Sandro Manfredini, presidente da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais.

O bom momento se fez claro em março, quando 40 empresas fincaram a bandeira verde e amarela no maior evento da indústria, em São Francisco, nos EUA. No fim de junho, centenas de profissionais se reúnem no BIG Festival, em São Paulo, um dos mais importantes da América Latina voltados a jogos independentes. Na edição de 2018, com 53 países representados, foram gerados negócios de mais de US$ 50 milhões (R$ 202 milhões).

No estúdio de Manfredini, o Aquiris, nasceu o “Horizon Chase”, que integrou a lista dos 25 melhores games formulada pela Apple, e que conta 12 milhões de downloads pelo planeta. O “Horizon Chase Turbo”, de maio de 2018, foi eleito o melhor jogo de corrida do mundo para Nintendo Switch pelo site “Metacritic”, que compila críticas especializadas.

Alerta contra a violência

Outro que conquistou láureas por aí foi o “Dandara”, do estúdio mineiro Long Hat, pinçado pela revista “Time” para o rol dos dez melhores do ano passado. Desenhada a partir da guerreira negra do período colonial Dandara dos Palmares, a personagem central luta contra seus inimigos com a força ancestral de sua inspiradora.

A partir de 2017, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) fez investimentos recordes no setor, com a liberação de cerca de R$ 45 milhões em linhas de financiamento para games. Agora, com a crise no órgão, existe o temor de que o fomento não passe a uma nova fase.

Seja produto brasileiro ou de fora, quando se trata de jogos infantis, o alerta aos pais é: crianças na primeira infância (até seis anos) não devem ter este tipo de estímulo, de acordo com especialistas. Se tiverem, não devem jogar mais do que uma hora ao dia. E nada de games violentos (a classificação indicativa é feita pelo Ministério da Justiça).

— Pesquisas mostram que o uso excessivo pode gerar ansiedade e depressão, mesmo em crianças pequenininhas, porque tira a oportunidade de se relacionarem com o outro e aprender a lidar com as dificuldades da vida — explica a psicóloga infantil Rosane Voltolini, da Associação pela saúde emocional de crianças.

— O bom desenvolvedor faz bons jogos, aqueles que geram prazer e entretenimento. O mau, jogos viciantes, com mecanismos de recompensa dos quais não se consegue desvencilhar — pondera Saulo Camarotti, da Behold Studios.