Cultura

Inhotim supera quarentenas, põe as contas em ordem e inaugura obras

Maior museu a céu aberto do mundo, instituto mineiro apresenta trabalhos de Aleksandra Mir, Rommulo Vieira Conceição e Lucia Koch
Inaugurada no sábado (28), obra de Rommulo Vieira Conceição leva o nome de “O espaço físico pode ser um lugar abstrato, complexo e em construção”. Foto: Divulgação
Inaugurada no sábado (28), obra de Rommulo Vieira Conceição leva o nome de “O espaço físico pode ser um lugar abstrato, complexo e em construção”. Foto: Divulgação

BRUMADINHO (MG) - Quando o novo coronavírus obrigou museus do mundo todo a fechar as portas, em março de 2020, o Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), se preparou para sua terceira quarentena em três anos. Em 2018, o governo de Minas orientou a instituição a suspender a visitação devido a um surto de febre amarela na região. Inhotim continuou aberto, mas passou a funcionar com distribuição de repelentes e exigência de atestado de vacinação para entrar. No início de 2019, o rompimento da barragem Córrego do Feijão, da Vale, matou 259 pessoas em Brumadinho, provocou um desastre ambiental gigantesco e forçou o instituto a permanecer fechado até fevereiro. Após a reabertura, a visitação despencou 40%.

Arte: Inhotim inaugura trabalhos que levam a reflexão sobre território

Não bastassem a febre e a lama, o grupo Itaminas, mantenedor do instituto, enfrentou processos judiciais por dívidas tributárias. Apenas recentemente, em abril e junho, o grupo conseguiu fechar acordos com a União e o governo mineiro para quitar dívidas de R$ 1,4 bilhão. Inhotim, porém, se mostrou resiliente e, em novembro de 2019, em clima de esperança, inaugurou uma obra monumental, composta por estruturas de concreto, aço e vidro, do artista americano Robert Irwin. Poucos meses depois, veio a pandemia e o maior museu a céu aberto do mundo permaneceu fechado de março a novembro.

Com o agravamento da pandemia, em março deste ano, Inhotim voltou a fechar as portas. Reabriu de vez no dia 7 de maio e recebe no máximo 1.000 visitantes por dia, 20% de sua capacidade (o governo mineiro autoriza instituições culturais a funcionar com metade de sua lotação). No sábado, inaugurou obras de Aleksandra Mir, Rommulo Vieira Conceição e Lucia Koch.

Sem aglomerações

A reabertura foi feita com cautela, seguindo protocolos sugeridos pelo infectologista Carlos Starling, consultor contratado pelo instituto.

— Nossa reabertura ocorre num momento em que as pessoas estão sentindo a necessidade de ter um lugar como Inhotim, onde é possível entrar em contato com a natureza e com a arte em segurança, sem a aglomeração dos grandes museus. Poucos lugares têm esse atrativo — diz Antonio Grassi, diretor-presidente de Inhotim, ex-secretário de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e ator da série “Bom dia, Verônica” e de novelas da TV Globo.

Um dos objetivos de Grassi é botar Inhotim na rota do turismo internacional pós-pandemia. No esforço de diversificar as fontes de renda do instituto, a direção pretende atrair visitantes e investimentos estrangeiros. Além de incluir o Inhotim em catálogos turísticos, Grassi busca o financiamento junto a fundações e editais internacionais voltados, principalmente, a projetos educativos e de preservação do meio ambiente. Inhotim, lembra Grassi, é também um jardim botânico: possuiu um acervo de mais de 4 mil espécies de plantas, laboratório de sementes e estufas de mudas.

Arte de fazer contas

Atualmente, a bilheteria corresponde a cerca de 17% do orçamento anual do instituto, que gira em torno de R$ 35 milhões. Antes do coronavírus, essa fatia era um pouco maior: 20%. A pandemia obrigou Inhotim a apertar os cintos. Durante a terceira quarentena, no ano passado, jornadas e salários foram reduzidos, de acordo com a Medida Provisória 936, e 84 funcionários foram dispensados. Segundo Grassi, a maioria deles eram recém-contratados, muitos ainda período de experiência, e boa parte foi já foi reincorporada. Cerca de 70% dos trabalhadores de Inhotim moram em Brumadinho.

Uma consultoria contratada pela Vale, patrocinadora máster que injetou R$ 11 milhões no instituto em 2020, ajudou a botar as contas em ordem. As diretorias artística, botânica e executiva foram extintas. Além do apoio de empresas como a Itaminas, a Vale e o Banco Itaú, Inhotim capta recursos via Lei Federal de Incentivo à Cultura e conta com um programa de patronos que dá direito a múltiplos de artistas comissionados pelo instituto, como Laura Vinci, Luiz Zerbini e Claudia Andujar.

O repórter viajou a convite do Instituto Inhotim.