José Eduardo Agualusa
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Nos últimos anos, sob a presidência de João Lourenço, os angolanos inventaram e desenvolveram um novo tipo de regime político — a ditadura privada.

A oposição perdeu o medo. A sociedade civil também. Vários motivos explicam isto. Nas últimas eleições, em agosto de 2022, a oposição, reunida numa Frente Patriótica Unida, conquistou mais de 62% dos votos na capital. A vitória da oposição em Luanda é extraordinária, sabendo-se que o Movimento Popular para a Libertação de Angola, MPLA, partido no poder, recorreu, como sempre, aos meios do Estado para alimentar a sua campanha eleitoral, e a todo tipo de artifícios, pressões e irregularidades durante a votação e a contagem dos votos.

O MPLA encontra-se dividido e enfraquecido. Ao propor-se combater a grande corrupção, logo no início do seu primeiro mandato, em 2017, João Lourenço declarou guerra contra um vasto e poderoso setor do seu próprio partido. Decorridos seis anos, o atual presidente angolano não só está longe de ganhar essa guerra, como ainda perdeu o apoio popular que obtivera com o início desse combate.

Não se pode dizer que em Angola exista uma democracia plena, primeiro porque, com as estruturas do Estado capturadas pelo MPLA, as eleições não podem ser consideradas justas; segundo, porque nunca ocorreram eleições para o poder local, promessa sempre adiada. Não obstante, as organizações da sociedade civil mostram-se mais livres e aguerridas, existe um pensamento crítico e, regra geral, vive-se num ambiente de ampla liberdade de expressão. Nas ruas, nos transportes públicos, nas festas, nos eventos sociais, ninguém demonstra o menor receio por criticar o presidente, o governo ou o MPLA. A maioria dos jornais, rádios privadas independentes e outros meios de comunicação social expressam essas mesmas críticas de forma explícita e muitíssimo feroz.

Quem vive com medo são os governantes, assim como todos os altos dirigentes do partido no poder. Têm medo uns dos outros, medo do presidente, medo do partido, medo dos jornais e da oposição. Muitos evitam entrevistas. Nas festas, distinguem-se dos restantes convidados porque falam em surdina, olhando para todos os lados, e mudando rapidamente de assunto quando alguém começa a criticar o governo.

O partido no poder privatizou a ditadura. Agora, em Angola, a ditadura é um clube exclusivo, destinado a vigiar e a oprimir, em primeiro lugar, os governantes e militantes do partido da situação. O MPLA ergueu uma gaiola dourada na capital do país, e fechou-se dentro dela. Os governantes angolanos vivem com todo o fausto, é verdade, mas dormem mal, atormentados pelo medo. Do lado de fora, o povo sobrevive com carências e dificuldades de todo tipo. Contudo, respira-se um perfume de liberdade. As pessoas discutem livremente.

Na quinta-feira passada, o presidente João Lourenço foi recebido na Casa Branca por Joe Biden. O interesse das autoridades americanas por Angola tem vindo a aumentar, à medida que a África do Sul se distancia das posições ocidentais, em questões como a Ucrânia ou Gaza. Seria bom que esta aproximação contribuísse para a democratização do país.

O maior desafio da oposição, em conjunto com a sociedade civil, é ajudar o MPLA a democratizar-se, despartidarizando a estrutura do Estado e organizando eleições livres e justas.

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