José Eduardo Agualusa
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A OpenAI apresentou há poucos dias um novo sistema de inteligência artificial, chamado Sora, capaz de gerar vídeos curtos a partir de meia dúzia de instruções por escrito.

Fui espreitar. Os exercícios divulgados pela empresa de Sam Altman pareceram-me impressionantes. Sem surpresa, voltaram a ouvir-se vozes alertando para o perigo deste novo instrumento ser utilizado para criar e disseminar mentiras. Hoje, diz-se deepfakes, ou fake news, como se a mentira fosse uma doença tão recente que só pudesse exprimir-se em língua inglesa.

Os seres humanos mentem bem em qualquer língua. Aliás, a mentira é muito mais antiga do que a Humanidade. É tão antiga quanto a vida. Uma borboleta abre as asas, onde estão desenhados dois olhos enormes e redondos, e logo se transforma numa coruja. Com esta mentira, extraordinariamente realista, a borboleta afugenta os pássaros que a iriam comer. Também existem muitas plantas e animais que fazem o oposto: mentem para atrair comida. Talvez a mentira tenha começado por ser apenas uma estratégia de sobrevivência — e depois aperfeiçoou-se.

Ao longo dos séculos, as mentiras foram-se adaptando e sofisticando, servindo-se das tecnologias de cada época e de cada civilização para melhor se propagarem. Em todos os tempos e em todas as culturas sempre existiram pessoas mais céticas, e pessoas mais ingênuas.

Deve acontecer algo semelhante entre os pássaros. Uns fugirão da borboleta, acreditando que é uma coruja. Outros comerão a borboleta.

Acreditando em Darwin, os pássaros céticos, alimentando-se melhor, possuiriam alguma vantagem evolutiva. Ou seja, ao fim de vários séculos deveriam existir apenas pássaros céticos, e seria o fim das borboletas mentirosas. Não estou certo de que isso se verifique, ao menos na nossa espécie. Muito provavelmente, a percentagem de pessoas que acreditam em mentiras de fundo político, em logros e rumores, tem-se mantido constante ao longo da História; a percentagem de mitômanos também.

Os vídeos falsos, produzidos com recurso aos novos sistemas de inteligência artificial, poderão enganar muitas pessoas ao longo dos próximos anos. Contudo, rapidamente nos habituaremos a distingui-los dos autênticos. A inteligência artificial e todos os instrumentos gerados por ela não ameaçam a Humanidade. O que ameaça a humanidade é a Humanidade. A estupidez humana.

Entre os diversos exemplos daquilo que o Sora pode fazer os mais convincentes nem sequer são os que simulam a realidade — são os de bonecos animados (a bem dizer, todos os vídeos são animações, incluindo os hiper-realistas).

Os longas de animação que utilizam técnicas tradicionais tendem a ser incrivelmente caros, envolvendo dezenas de desenhistas e de outros profissionais, e levando por vezes muitos anos para serem concluídos. No imediato, acredito que o Sora possa vir a ser usado sobretudo para produzir cinema de animação não realista ao preço da chuva. Em qualquer caso haverá sempre uma inteligência humana — uma verdadeira inteligência! — por detrás de todo esse processo.

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