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Cultura TV

Listamos as melhores séries internacionais de 2019

Baseadas em fatos reais ou expandindo universos alternativos, as narrativas imperdíveis do ano
Regina King em 'Watchmen' Foto: Divulgação
Regina King em 'Watchmen' Foto: Divulgação

RIO - De um lado, realidades paralelas à nossa, mas aterrorizantes pelo que carregam em comum com o que vivemos em 2019. Do outro, dramas históricos com reconstituições de época minuciosas que nos fizeram refletir sobre o tanto que ainda precisamos avançar. No primeiro ano da "guerra do streaming", a televisão internacional investiu em produções cada vez mais ambiciosas, com estrelas do primeiro escalão de Hollywood. Não deu certo em todos os casos. Por outro lado, surpresas cativantes conseguiram conquistar a audiência mesmo em um meio cada vez mais competitivo.

Abaixo, a lista dos melhores séries internacionais de 2019. As escolhas foram feitas pela colunista Patrícia Kogut, o editor-assistente Emiliano Urbim e a repórter Luiza Barros. Confira, também, a lista das melhores produções da TV brasileira em 2019.

'Watchmen'

Regina King em 'Watchmen' Foto: Divulgação
Regina King em 'Watchmen' Foto: Divulgação

A proposta era das mais arriscadas e podia dar muito errado: pegar uma das séries mais louvadas dos quadrinhos e retomar seu universo décadas após o fim da história original, criada por Alan Moore e Dave Gibbons em 1986. Mas Damon Lindelof (a mente por trás de “Lost” e “The leftovers”) conseguiu — e fez talvez a melhor série do ano. Ao unir uma estética ousada com um roteiro de pontas que se ligam aos poucos, a produção da HBO conseguiu manter o espírito da obra original ao mesmo tempo em que alargou seu universo sem cerimônias. Ao unir a nada saudável obsessão dos americanos por super-heróis às raízes do conflito racial que persiste nos Estados Unidos contemporâneo, “Watchmen” é tão perturbadora e louca quanto adequada para este fim de década. O final, exibido no domingo passado, dividiu os críticos, mas deu um encerramento justo à série, que foi outra esnobada inexplicável nas indicações ao Globo de Ouro de 2020. No que depender de Lindelof, não haverá segunda temporada. Resta combinar com os fãs, ávidos por ver mais de Regina King como a policial mascarada Angela Abar e de Jeremy Irons como Adrian Veidt, o Ozymandias.

'A very English scandal'

Cena de 'A very english scandal' Foto: Divulgação
Cena de 'A very english scandal' Foto: Divulgação

Destaque no Globo de Ouro em janeiro passado, a minissérie da BBC “A very english scandal” chegou apenas este ano ao Brasil, via Globoplay. Ainda bem, porque a produção, dirigida com humor e inteligência por Stephen Frears e com texto de Russell T. Davies, é imperdível. Com grandes atuações de Hugh Grant e Ben Whishaw, a trama se debruça sobre a história real de Jeremy Thorpe, político que, nos anos 1960, tentou matar seu amante, o jovem Norman Scott, para esconder sua homossexualidade. O resultado é um irresistível estudo de caso sobre a hipocrisia.

'Years and years'

Emma Thompson na série britânica 'Years and Years' Foto: Divulgação
Emma Thompson na série britânica 'Years and Years' Foto: Divulgação

Uma estreia que foi feita sem alardes, a parceria da BBC com a HBO virou uma das produções mais comentadas no mundo ao mostrar um futuro próximo, catastrófico e totalmente plausível. Ascensão de líderes populistas (representados por uma Emma Thompson que faria Boris Johnson corar), desemprego em massa, caos tecnológico, desastres ambientais: o showrunner Russell T. Davies despejou todas as ansiedades contemporâneas em um só pacote e as apresentou do ponto de vista de uma família diversa e carismática. Impossível de não se identificar — e, ao mesmo tempo, se apavorar.

'The crown'

The Crown Foto: Netflix / Divulgação
The Crown Foto: Netflix / Divulgação

Era um desafio e tanto: após duas temporadas eletrizantes com uma jovem rainha, vivida por Claire Foy, Olivia Colman assumiu a coroa de Elizabeth II na série da Netflix que reconstitui o reinado mais longevo da história da Inglaterra. Colman deu conta do recado, e a série conseguiu manter a monarquia interessante ao lançar luz sobre Charles (Josh O'Connor), eterno próximo rei, e histórias ainda pouco conhecidas (mesmo que muito dramatizadas) sobre a família mais famosa do mundo. Ficou a expectativa de ver como será a chegada de Diana à trama em 2020.

'Succession'

Brian Cox como Logan Roy em 'Succession' Foto: Divulgação
Brian Cox como Logan Roy em 'Succession' Foto: Divulgação

Se a primeira temporada de “Succession” foi apenas boa, a segunda fez da série de Jesse Armstrong para a HBO uma das melhores produções no ar. Ao retratar a disputa familiar dentro de um conglomerado de mídia, o drama expôs, com pitadas de humor mordaz, a desconexão dos 1% mais ricos com o resto do mundo, com direito a uma virada eletrizante no final. Vagamente inspirado no magnata australiano Rupert Murdoch, Logan Roy (Brian Cox) e sua prole podem se tratar de seres humanos horríveis, mas é certamente um deleite acompanhar suas desventuras.

'Chernobyl'

'Chernobyl': produção da HBO com o canal britânico Sky já é uma das melhores séries de TV de 2019 Foto: Divulgação
'Chernobyl': produção da HBO com o canal britânico Sky já é uma das melhores séries de TV de 2019 Foto: Divulgação

Antes um roteirista de comédias como “Se beber não case parte II”, o americano Craig Mazin surpreendeu ao criar provavelmente a produção mais instigante do ano com “Chernobyl” , minissérie dramática da HBO em parceria com o canal britânico Sky. Sem sotaques caricatos, Jared Harris, Stellan Skarsgård e Emily Watson revivem o drama humano e o caos político por trás do desastre nuclear ocorrido em 1986 na União Soviética. Com uma reconstituição de época minuciosa, a produção evidencia como poucas as consequências perversas da desinformação e da burocracia.

'The ABC murders'

John Malkovich no set de 'The ABC murders', da BBC Foto: Ben Blackall
John Malkovich no set de 'The ABC murders', da BBC Foto: Ben Blackall

Dirigida pelo brasileiro Alex Gabassi, “The ABC murders” é mais uma produção de excelência da televisão britânica que chegou ao Brasil pelo Globoplay. Nesta versão para o clássico de Agatha Christie, quem se encarrega de viver o detetive belga Hercule Poirot é o americano John Malkovich . Em mais uma grande interpretação, Malkovich tira Poirot da caricatura à qual o personagem foi confinado em outras ocasiões e revela um fato surpreendente sobre o passado dele. A minissérie ainda atualiza a trama ao abordar a xenofobia, que segue rondando a Inglaterra do Brexit.

'Olhos que condenam'

'Olhos que condenam': série teve indicações de peso no Emmy 2019, mas foi esnobada pelo Globo de Ouro Foto: Reprodução
'Olhos que condenam': série teve indicações de peso no Emmy 2019, mas foi esnobada pelo Globo de Ouro Foto: Reprodução

Não é fácil assistir à minissérie de Ava DuVernay (diretora também de “Selma” e “A 13ª emenda”) para a Netflix. Não pela falta de qualidade — ao contrário, a produção é impecável. Mas sim porque o caso real dos cinco meninos negros e latinos, condenados injustamente por um estupro no Central Park em 1989, evidencia a crueldade do racismo estrutural — e quão pouco avançamos desde então. Com atuações impressionantes como a de Jharrel Jerome como Korey Wise, é de saltar os olhos que a série tenha sido esnobada nas indicações ao Globo de Ouro de 2020.

'Boneca russa'

Russian Doll Foto: Divulgação
Russian Doll Foto: Divulgação

A designer de videogames nova-iorquina Nadia Vulvokov morre durante a festa de seus 36 anos. E está viva na cena seguinte, de volta ao banheiro onde estava quando o capítulo começou. Essa dinâmica se repete ao longo de oito capítulos movimentados e progressivamente intrigantes, nos quais Nadia busca entender o que está acontecendo — e acaba tendo revelações importantes sobre sua(s) vida(s). Co-criadora da série com a comediante Amy Poehler, a atriz Natasha Lyonne (“Orange is the new black”) dá um show no papel da protagonista, neurótica, irônica e, como ela admite, romântica.

'Fleabag'

'Fleabag', série protagonizada e criada por Phoebe Waller-Bridge Foto: Divulgação
'Fleabag', série protagonizada e criada por Phoebe Waller-Bridge Foto: Divulgação

Com a segunda temporada (e, até onde sabemos, a última) de “Fleabag”, do Amazon Prime Video, Phoebe Waller-Bridge consolidou seu lugar como uma das criadoras mais originais da televisão (ela também está por trás de “Killing Eve” , fenômeno da BBC America estrelado por Sandra Oh). Ao fazer do telespectador seu cúmplice, Waller-Bridge compartilha os dramas de uma jovem mulher que não pede desculpas por ser quem é. Com seus olhares diretos ao telespectador, ela não apenas quebra a chamada “quarta parede” — e sim nos faz de cúmplice, nos divertindo e emocionando no meio do caminho.