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Daniela Arbex acusa Geração Editorial de comercializar seus livros sem autorização

Editora nega que estaria reimprimindo exemplares do livro 'Holocausto brasileiro', hoje na Intrínseca
A escritora Daniela Arbex Foto: Fernando Priamo / Divulgação
A escritora Daniela Arbex Foto: Fernando Priamo / Divulgação

RIO —Uma das principais autoras de não ficção do país, Daniela Arbex alega que seus livros estão sendo publicados sem autorização pela Geração Editorial, sua ex-editora. Em um post publicado em seu perfil de Instagram na quarta-feira, 5, ela afirmou que tomou medidas judiciais contra supostas edições “piratas” e “desatualizadas” de títulos como “Holocausto Brasileiro” e “Cova 312”.

Em 2018, a escritora rompeu seu contrato com a Geração por divergências em relação a pagamentos de direitos autorais e, no ano seguinte, passou a ter todas as suas obras publicadas pela Intrínseca. Porém, segundo ela, a Geração teria continuado a vender antigas edições de seus livros, mesmo com a proibição da justiça. Além disso, Arbex também supõe que a editora esteja reimprimindo exemplares de seus títulos já esgotados.

Proprietário da Geração, Luiz Fernando Emediato disse ao GLOBO que, desde o rescisão do contrato, as obras não tiveram novas tiragens.

— Nosso sistema está aberto para a justiça verificar se imprimimos algum livro dela desde 2018 — diz o editor.

De acordo com Mauricio Lopes de Oliveira, advogado de Arbex, essa verificação será feita pelo perito do Juízo.

— Uma gráfica, devidamente intimada pelo Poder Judiciário, pronunciou-se já nos autos declarando ter impresso 50 mil exemplares — diz ele ao GLOBO.

A Geração Editorial reitera que jamais imprimiu “Holocausto brasileiro” após o litigio com a autora, por quebra indevida de contrato, em 2018. De acordo com a editora, os 50 mil exemplares alegados por Oliveira seriam, na verdade, 55.860 exemplares, impressos no ano do lançamento da obra, 2013, conforme declaração da própria grafica, por solicitação da justiça.

Ainda segundo a editora, o juiz interpelou diversas gráficas que imprimiram o livro. Apenas uma, a Vida e Consciencia, teria respondido, informando a tiragem e as datas de impressão.

— O advogado da autora age de má fé, ao manipular essa informação, dando a entender que foram impressões pós-2018 — afirma a editora.

Arbex ganhou projeção nacional com a publicação de "Holocausto brasileiro" (2013), que teve 21 edições pela Geração, com 130 mil livros impressos e vendidos. Emediato afirma que o livro está esgotado em seu estoque e que a editora retirou o e-book do mercado.

Porém, admite que o mesmo não acontece com “Cova 312”. Lançado na esteira do sucesso de "Holocausto Brasileiro", o livro decepcionou comercialmente e acabou não esgotando a sua única impressão de 20 mil exemplares. O editor assegura que tem direitos contratuais de continuar vendendo a obra até o estoque se esgotar.

Emediato diz ainda que o fato de antigas impressões de "Holocausto" estarem circulando no mercado não significa que "seja a editora a vender o livro".

— Daniela Arbex é uma autora experiente e deveria saber que as livrarias fazem consignações e compras dos livros, e ao longo dos anos vai vendendo estas edições. Tem exemplar da Geração do "Holocausto" em livraria? Tem. Se uma livraria comprou 300 livro há três anos atrás e não vendeu, continua lá.

Arbex e a Geração Editorial começaram a ter atritos depois que a editora atrasou pagamentos de direitos autorais e a escritora passou a suspeitar da sua prestação de contas. Após a ruptura definitiva, a Geração parou de pagar Arbex. Emediato explica que a editora aguarda decisão judicial para o caso e conta que envia prestações atualizadas judicialmente.

Já Lopes de Oliveira estima que Arbex tem mais de 200 mil reais a receber em direitos autorais que não lhe foram pagos.

— Há uma ação de exibir contas e um perito foi nomeado pelo juiz para apurar o valor devido — explica.

Na quinta-feira, 6, Emediato publicou um post no Facebook em que se diz "decepcionado" com a autora que ele teria "revelado" ao mercado. Segundo ele, Arbex  teria começado a se queixar da prestação de contas da editora em 2015.  "Descontente com o fracasso de seu segundo livro, Daniela Arbex passou a reclamar da editora. Pior: desconfiou das prestações de contas, sentiu-se "roubada", mesmo tendo o direito de vasculhar nossa contabilidade - poucas editoras permitem isso - para verificar na fonte quantos exemplares tinham sido impressos e quantos vendidos". O texto foi republicado pelo blog de Afonso Borges, no site do GLOBO .

Arbex respondeu em uma carta aberta enviado ao GLOBO, na qual afirma que "Holocausto Brasileiro" teria rendido mais de R$ 6 milhões aos cofres da editora. Ela diz ter e-mails que comprovam a falta de pagamento e em que o editor admite a dívida.

"Li absolutamente, perplexa, um texto misógino, mentiroso e baixo publicado pelo dono da GERAÇÃO EDITORIAL na coluna de AFONSO BORGES em O GLOBO. Nele, Luiz Fernando Emediato, dono da Geração Editorial, me chama de MENTIROSA E DESONESTA porque estou cobrando na justiça os direitos autorais que ele não me pagou. Não preciso me defender e nem falar do meu caráter, porque a minha trajetória fala por si só. Mas está para nascer um sujeito que vai me chamar de desonesta. Vamos aos fatos:

Emediato se gaba de ter 'me revelado'. Essa é boa. Quando ele me procurou em 2012 – e não o contrário -, sugerindo que publicássemos o Holocausto brasileiro pela editora dele eu já tinha uma carreira mais do que consolidada: três prêmios Esso, prêmio de Melhor Investigação Jornalística da América Latina, prêmio nos Estados Unidos e na Europa.

Então, ele não me revelou. Meu trabalho já era nacionalmente reconhecido. Após o imenso sucesso de Holocausto brasileiro, que rendeu a editora mais de R$ 6 milhões aos cofres da editora, conforme ele mesmo declarou a justiça, ele passou a não me pagar em dia desde 2015.".