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‘A revolução dos bichos’, de George Orwell, ganha versão em quadrinhos

Adaptado pelo gaúcho Odyr, clássico do autor britânico é condensado em um álbum de 176 páginas
Quadrinho de 'A revolução dos bichos', na versão de Odyr para a obra de George Orwell Foto: Divulgação
Quadrinho de 'A revolução dos bichos', na versão de Odyr para a obra de George Orwell Foto: Divulgação

SÃO PAULO — Libelo contra o totalitarismo e defesa apaixonada da liberdade de expressão, “A revolução dos bichos” ganha uma nova versão em quadrinhos pelas mãos do artista gaúcho Odyr, conhecido pelos álbuns “Copacabana” e “Guadalupe”, e por participar de coletâneas como “Irmãos Grimm em quadrinhos” e “MSP 50 anos”.

Lançado esta semana pelo selo Quadrinhos na Cia, da Companhia das Letras, o álbum condensa o clássico de George Orwell publicado em 1945 numa sequência de 176 páginas pintadas em tinta acrílica. Cada uma delas praticamente se transforma em uma tela, o que confere ao conjunto uma força e personalidade próprias.

— O caráter independente de cada página, essa solidez da imagem, tem a ver com uma realidade que a pintura cria com suas texturas — diz ele, em entrevista por e-mail.

DEFESA DA LIBERDADE

“A revolução dos bichos” em quadrinhos é a segunda de uma série de adaptações para o formato a partir de encomendas da Companhia das Letras a artistas brasileiros. A primeira foi “O idiota”, de Dostoiévski, assinada por André Dini z. Para o futuro, estão programados pelo menos mais dois títulos importantes: “A obscena Senhora D”, de Hilda Hilst (autora homenageada este ano na Festa Literária Internacional de Paraty), por Laura Lanes, e o clássico francês “Os miseráveis”, de Victor Hugo, por Francisco Marcatti.

Autorretrato do artista gaúcho Odyr Foto: Divulgação
Autorretrato do artista gaúcho Odyr Foto: Divulgação

Quando começou a pensar no projeto, Odyr imaginou a adaptação como um livro infantil para adultos. Houve um momento em que imaginou até um álbum só com páginas inteiras pintadas. Eventualmente, no entanto, os quadrinhos acabaram se impondo:

— O resultado ainda é um livro bem aberto, com uma visualização muito simples. Isso é algo que me agrada, parece inclusivo. Ainda tem uma grande parte do público com dificuldade de ler uma página dividida em muitos quadrinhos. Não sabe exatamente como entrar naquilo — explica.

Foi o editor André Conti, hoje na Todavia, que fez o convite para Odyr adaptar “A revolução dos bichos” para o formato. Segundo o artista, a obra tem uma mensagem fundamental, atemporal e universal. Uma advertência que, segundo ele, ganha força no momento em que o país e o mundo testemunham o crescimento do fascismo e de ideias totalitárias:

— Tive zero dúvida a respeito de aceitar o desafio. O livro é uma apaixonada defesa da liberdade de pensamento e da democracia, dois valores ameaçados pela celebração da ignorância e sinistras nostalgias militaristas — conta.

O personagem do velho Major, na adaptação de Odyr do clássico "A revolução dos bichos" Foto: Divulgação
O personagem do velho Major, na adaptação de Odyr do clássico "A revolução dos bichos" Foto: Divulgação

O trabalho de condensação do texto passou por uma seleção do que era fundamental na obra original, identificar quais eram os personagens-chave da história, como o senhor Jones e os porcos napoleão e Bola-de-neve, e eliminar as referências históricas muito complexas para o leitor médio contemporâneo:

— O livro tem a vantagem de ser breve. Então, pude fazer algo que me agrada muito: expandir, abrir espaços. Explico: tem cenas de batalhas ali que duram um parágrafo e, na minha versão, ganham quatro ou cinco páginas. Acabei me concentrando no que é universal e atemporal na história — explica ele, que usou a tradução de Heitor Aquino Ferreira na adaptação.

O artista gaúcho tem plena noção de que nenhuma adaptação ocupa o espaço da obra original. Ele espera, no entanto, que seu trabalho retenha o suficiente do livro de Orwell para ter um efeito transformador nos jovens leitores:

Capa do álbum "A revolução dos bichos", de Odyr, releitura em quadrinhos da obra de George Orwell Foto: Reprodução
Capa do álbum "A revolução dos bichos", de Odyr, releitura em quadrinhos da obra de George Orwell Foto: Reprodução

— Ou seja, inspirar a ideia de que mudar o mundo é possível e necessário. Os jovens leitores são o que mais me anima nesse projeto, o que mais me dá a sensação de ter feito algo significativo no mundo. Plantar uma semente de empatia, transformação, pensamento crítico e apreciação da democracia — diz.

Na sequência, Odyr lança outro livro com a mesma Companhia das Letras. Será, segundo ele, um livro de cartuns sequenciais:

— Vai se chamar “No fundo do poço tem uma piada” e será sobre como o humor salva o mundo. O humor como a última linha de defesa do ser humano contra os horrores do mundo — diz.

A revolução dos bichos”

Editora: Quadrinhos na Cia (Companhia das Letras). Adaptação para HQ: Odyr. Tradução: Heitor Aquino Ferreira. Páginas: 176. Preço: R$ 69,90.