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Afetada pela pandemia, indústria editorial encolhe 8,8% em 2020 e se torna mais dependente da Amazon

E-commerce aumentou em 84% sua participação no faturamento das editoras, enquanto livrarias físicas tiveram redução de 32%
Segundo a pesquisa, as livrarias físicas tiveram sua participação reduzida em 32%, no comparativo com 2019. Na foto, uma das lojas da rede de livraria mineira Leitura. Foto: Divulgação
Segundo a pesquisa, as livrarias físicas tiveram sua participação reduzida em 32%, no comparativo com 2019. Na foto, uma das lojas da rede de livraria mineira Leitura. Foto: Divulgação

O impacto da pandemia no mercado editorial em 2020 foi duro, com um decréscimo de 8,8% em comparação ao ano anterior. E a queda só não foi maior graças ao crescimento expressivo das livrarias exclusivamente virtuais (que aumentaram em 84% sua participação no faturamento das editoras). Os números estão no balanço realizado pela Nielsen Book, com coordenação da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Segundo a pesquisa, divulgada nesta terça-feira, o mercado editorial faturou R$ 5,2 bilhões em 2020.

— Quando as livrarias fecharam, cheguei a temer uma queda de 20% — Vitor Tavares, presidente da CBL e empresário do setor. — A criatividade do livreiro e dos editores salvou. Podemos dizer que fomos herois em um segmento que tem sofrido ameaça de tudo quanto é lado. Desde a concorrência brigando por preço final a queda do poder aquisitivo dos consumidos, passando pela dificuldade enfrentada pelas livrarias físicas.

A pesquisa confirma o que as editoras já haviam apontando ao longo de 2020: a predominância do e-commerce no mercado . Na pandemia, os selos suspenderam os lançamentos e apostaram nas redes sociais — e nas vendas on-line. O lado ruim é que ficaram dependentes do e-commerce e, principalmente, da Amazon .

Segundo a pesquisa, as livrarias físicas tiveram sua participação reduzida em 32%, no comparativo com 2019. Para reverter a tendência, as editoras estão multiplicando campanhas de apoio às livrarias físicas . Vale lembrar que, antes da pandemia, o mercado começava recém a se recuperar do fechamento de mega redes como Saraiva e Cultura, que havia levado o setor a uma queda real de 4,5%.

— O varejo do livro já vinha numa mudança significativa. A crise na Saraiva e na Cultura deixou muitas editoras com um passivo até hoje, e passivo maior é perder os pontos de venda. O mercado começou a mudar. Muitas livrarias passaram a vender pela internet. A têndencia é ter um varejo híbrido. Muitas livrarias investiram em tecnologia pra vender pela internet, acho que isso veio pra ficar — diz Tavares.

Para o presidente da SNEL, Marcos da Veiga Pereira, o desafio das livrarias fisicas passa pelo conhecimento do seu público consumidor.

— A livraria é lugar de encontrar amigos, cheirar os livros, um lugar das descobertas. Se você sabe o livro que vai comprar, é muito fácil comprar on-line. Mas na livraria física tem o bom livreiro, a experiência toda. É fundamental que as livrarias físicas entendam quem são seus consumidores. Na internet, os algoritmos sabem quem é você. E por que a pessoa volta na livraria física? Porque ela encontra novidades, é bem atendida, o lugar é charmoso, tem um café... — observa Marcos da Veiga Pereira.

A pesquisa também apresentou dados inesperados. Único subsetor com resultado positivo nos últimos 14 anos, o de Religiosos foi agora o mais afetado em termos de faturamento, apresentando uma queda de 14,2%. O único subsetor que registrou aumento nominal no faturamento com vendas ao mercado foi o de Obras Gerais, fechando 2020 com R$ 1,3 bilhão, 3,8% a mais do que no ano passado, em termos nominais.

A pandemia afetou fortemente o lançamento de títulos  (11.295 no total) ,  caindo 17,4% no comparativo com 2019. Em 2020, as editoras brasileiras produziram 46 mil títulos – desse total, só 24% são lançamentos (novos ISBNs), enquanto 76% são reimpressões.