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‘Antipoeta’ Nicanor Parra completa 100 anos e recebe homenagens no Chile e no mundo

Recluso em povoado no litoral do país, escritor ganha celebração pública em frente ao Palácio La Moneda, em Santiago

O poeta chileno Nicanor Parra, que completa 100 anos nesta sexta-feira, dia 5
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El Mercurio
O poeta chileno Nicanor Parra, que completa 100 anos nesta sexta-feira, dia 5 Foto: / El Mercurio

Ganhador do Prêmio Cervantes em 2011 e um dos mais inventivos escritores da língua espanhola, o chileno Nicanor Parra, criador da “antipoesia”, completa 100 anos nesta sexta-feira. A data será festejada em várias partes do Chile e do mundo, com recitais, exposições, debates, lançamentos de livros e uma celebração pública em frente ao Palácio La Moneda, sede do governo federal, em Santiago.

Avesso à vida literária mas ainda escrevendo, como disse em entrevista ao GLOBO publicada em junho , Parra deve passar o dia em sua casa em Las Cruces, povoado de 2 mil habitantes no litoral chileno, a 100 km da capital. Mas os fãs ainda torcem por uma manifestação do poeta que sempre fez piada com homenagens desse tipo: “Sem estátua me sinto miserável/ Mas por favor que seja de barro/ Para que dure o menos possível”, ele disse num discurso em forma de versos, em 1996.

O marco dos festejos nesta sexta será uma leitura simultânea, ao meio-dia, em mais de 20 cidades chilenas, do poema “ O homem imaginário ”, um dos mais populares de Parra. A presidente Michele Bachelet confirmou participação no evento, que vai mobilizar milhares de pessoas, entre leitores, artistas e políticos.

À noite, o neto de Parra, Cristóbal Ugarte, fará um concerto de piano na Praça da Constituição, em frente ao Palácio La Moneda. Ele será acompanhado por gravações do avô lendo trechos de alguns de seus principais poemas e por uma projeção de fotos do arquivo do escritor na fachada do edifício.

LANÇAMENTOS E EXPOSIÇÕES

Algumas destas fotos estão na recém-inaugurada exposição “Parra 100”, em cartaz no Centro Gabriela Mistral (GAM), em Santiago, que atraiu 16 mil visitantes em duas semanas. A mostra também reúne gravações em áudio de Parra, incluindo uma entrevista inédita de 1983, e documentários sobre ele. No dia 9, o GAM recebe um seminário internacional sobre a obra do antipoeta e o lançamento do livro “Nicanor Parra ou a arte da demolição”, do crítico e poeta inglês Nial Binns.

Ainda em Santiago, a Biblioteca Nicanor Parra, na Universidade Diego Portales (UDP), promove a exposição audiovisual “Vou e volto”, com imagens e gravações do escritor. A editora da universidade publicou em agosto o livro “Temporal”, com um longo poema dos anos 1980 que permanecia inédito, sobre as grandes inundações que atingiram Santiago na época. Lançou ainda uma edição comemorativa de “Poemas e antipoemas” (1954), um de seus maiores clássicos.

BAILE POPULAR EM LAS CRUCES

Os habitantes de Las Cruces também prepararam uma homenagem ao vizinho poeta. Na rua onde ele mora, a partir de meio-dia, haverá um grande baile de cueca , a música tradicional chilena que é uma das paixões de Parra (ele foi o maior incentivador de sua irmã, a cantora e compositora Violeta Parra, morta em 1967). Além disso, será aberta uma exposição de alguns de seus poemas na praia de Las Cruces.

No povoado de San Fabián de Alico, onde Parra nasceu, em 1914, a programação inclui a inauguração de um mural em sua homenagem e de uma estátua do poeta - não se sabe se para desgosto ou diversão do autor dos versos “a pedra mais horrível/ é superior/ à estátua mais bela”.