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Bienal começa sexta-feira apostando em diversidade e temas do momento

Evento literário busca atrair diferentes faixas etárias com nomes conhecidos e debates quentes
O Riocentro durante a 18ª Bienal do Livro, em 2017, por onde passaram 640 mil visitantes . Este ano, o evento ocupa o mesmo lugar, mas com programação que busca ampliar a diversidade de ideias e nomes
Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo
O Riocentro durante a 18ª Bienal do Livro, em 2017, por onde passaram 640 mil visitantes . Este ano, o evento ocupa o mesmo lugar, mas com programação que busca ampliar a diversidade de ideias e nomes Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo

RIO — Se há uma expressão em latim para tudo, a que resume a Bienal do Livro de 2019 bem que poderia ser totus in antithesi — “o conjunto está nos contrastes”. Se nas últimas edições o evento virou ponto de encontro entre autores e fãs do gênero Young Adult , este ano tem de tudo um pouco. Youtubers e acadêmicos, poetas e instapoetas, médicos e mentalistas, esquerdistas e direitistas, atrações nacionais e internacionais, Maísa e Luis Fernando Verissimo estão na Bienal que começa nesta sexta, 31, e vai até 8 de setembro, no Riocentro.

LEIA TAMBÉM: Veja a programação completa da Bienal do Livro do Rio 2019

Até mesmo a Arena #SemFiltro, espaço que debate temas relevantes da juventude, promete não se restringir aos mais jovens.

— Percebemos na edição passada que o público da nossa arena era diverso, adultos também se interessavam pelos temas — lembra Rosane Svartman, cocuradora da Arena #SemFiltro, que terá desde referências da literatura teen (como a it girl Pam Gonçalves e o poeta do Instagram Akapoeta) a escritores veteranos como o pensador Mário Sérgio Cortella. — Então pensamos em fazer algo atraente para eles também. Brinco, inclusive, que são mesas para jovens de todas as idades.

As expectativas da organização são altas, assim como os números do evento. Só os dois palcos de debates da Bienal (Arena #SemFiltro e Café Literário) já reúnem 72 mesas. Juntando os outros espaços (Encontro entre Autores e Auditório Madureira) serão ao todo 300 autores e 520 expositores.

Os organizadores aguardam 600 mil visitantes — na última edição, em 2017, passaram pelos pavilhões 640 mil pessoas, e 5,5 milhões de livros foram vendidos.

— Nosso festival é consagrado como o maior evento literário do país, dá voz a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser — afirma Tatiana Zaccaro, diretora da GL Events, responsável pela Bienal.

Curadora do Café Literário, a jornalista Mànya Millen, destaca a atualidade dos temas debatidos na programação, que “vão além da literatura stricto sensu ”.

— Os assuntos são os temas quentes do momento, como feminismo, racismo e a Amazônia — diz Mànya. — O Café reflete demandas da sociedade. Se há livros publicados sobre esses assuntos, é porque as pessoas estão querendo ler e conversar sobre eles.

Pastor Henrique Vieira (“Um encontro sobre fé, diversidade e amor”, dia 5, às 17h) e Monja Cohen (“Esperança, fé e juventude na atualidade”, sábado, às 15h30m)

O jornalista Laurentino Gomes na Porta do Não Retorno, localizada na Ilha de Goréia, local de embarque de escravos em que partia da atual Dacar (capital do Senegal) Foto: Carmen Gomes / Divulgação
O jornalista Laurentino Gomes na Porta do Não Retorno, localizada na Ilha de Goréia, local de embarque de escravos em que partia da atual Dacar (capital do Senegal) Foto: Carmen Gomes / Divulgação

BIENAL DE CONTRASTES

Passado e presente: Laurentino Gomes (Conversa com Flávia Oliveira no sábado, às 15h) e Mário Magalhães (“Um longo olhar sobre o Brasil”, dia 8, às 19h). Dois jornalistas, duas épocas, duas feridas ainda abertas. Enquanto Laurentino Gomes lança o primeiro volume de sua trilogia histórica “Escravidão”, Mario Magalhães falará sobre sua “biografia” do ano de 2018, “Sobre lutas e lágrimas”.

Thriller histórico e contemporâneo: Eliana Alves Cruz e Raphael Montes (ambos participam da mesa “A sedução dos thrillers”, domingo, às 19h). O crime não descansa — seja no Brasil do século XIX, retratado por Eliane, seja no do XXI, cenário costumaz de Raphael. Dois autores policiais que não colocam obstáculos temporais à suas investigações.

A fé tem muitas faces: Monja Cohen (“Esperança, fé e juventude na atualidade”, sábado, às 15h30m) e Pastor Henrique Vieira (“Um encontro sobre fé, diversidade e amor”, dia 5, às 17h). Ela é uma das principais divulgadoras do budismo no Brasil . Ele é ator, ex-vereador e pastor da Igreja Batista do Caminho. Em comum, ambos partilham o respeito à diversidade religiosa, promovida em seus livros e palestras.

Para além das bolhas: Gregorio Duvivier (“Você é o que você lê”, dia 4, às 19h) e Lobão (“Música — A história que a gente canta”, dia 3, às 17h). A polarização política anda agressiva. Mas, na Bienal, duas figuras opostas no espectro político — e bastante visadas por seus adversários — prometem mostrar que talento não tem partido (mesmo que em mesas diferentes).

Gerações poéticas: Ryane Leão e Carpinejar (ambos participam da mesa “Livro de cabeceira”, dia 7, às 15h). Diferentes momentos e estilos da poesia brasileira — mas que, em muitos casos, dividem o mesmo público. Ryane é a voz do empoderamento, poeta do amor e da luta; Carpinejar representa o homem moderno desconstruído.

Geografias: Jarid Arraes (“Escrever para empoderar”, domingo, às 17h) e Márcio Souza (“Amazônia, terra de quem?”, dia 5, às 17h). O Brasil é vasto. E seus contrastes geográficos estarão bem representados. A cordelista e escritora Jarid Arraes trará um pouco do seu Sertão contemporâneo enquanto o jornalista e escritor Márcio Souza fala sobre os desafios da Amazônia.

O escritor americano Mark Manson Foto: Divulgação
O escritor americano Mark Manson Foto: Divulgação

OUTROS DESTAQUES

A volta de Verissimo. Sábado às 19h. Aos 82 anos, o mestre da crônica volta aos pavilhões da Bienal na mesa Clube dos Anjos, com o produtor Angelo Defanti e os atores Otávio Muller e Matheus Natchergaele.

A era do f*da-se. Domingo, às 13h. Maior fenômeno de vendas do Brasil nos últimos anos, o americano Mark Manson, autor de “A sutil arte de ligar o f*da-se”, fala com o roteirista Leo Lanna e os jornalistas Martha Mendonça e Nelito Fernandes.

O best-seller da democracia. Dia 7, 13h. Co-autor do best-seller “Como as democracias morrem”, que vendeu 35 mil cópias no Brasil, o cientista político americano Steven Levitsky encontra a historiadora Lilia Moritz Schwarcz na mesa Sobre Autoritarismos e Democracias. Eles debaterão sobre os desafios da política na era das polarizações extremas.

Machado e as questões raciais. Dia 7, 11h. O pesquisador  Eduardo de Assis Duarte e os escritores Conceição Evaristo e  José Almeida Júnior debatem as relações de Machado de Assis com a cultura e a literatura negra.

SERVIÇO: Onde: RioCentro (Av. Salvador Allende 6.555, Barra — 2441-9100). Quando: Seg a sex, de 9h às 21h. Sáb e dom, de 10h às 22h. De amanhã até 8/09. Quanto :R$ 30. Classificação: Livre.