RIO — O
Nobel conquistado nesta terça-feira
coloca Bob Dylan numa posição única. Além de ser o primeiro compositor popular a vencer o prêmio de literatura, ele passa também a ser o único artista homenageado com o Nobel, o Pulitzer, o Oscar, o Grammy e o Globo de Ouro. Fora isso, não é qualquer compositor que tem suas letras citadas com frequência em decisões judiciais.
As cortes muitas vezes deixam de lado o testemunho de especialistas quando o assunto é de conhecimento comum. Tanto a corte estadual quanto a federal na Califórnia
citaram Dylan para explicar isso
: “You don’t need a weatherman to know which way the wind blows.”
Fraude contra consumidores
Em vez apresentar qualquer documentação para apoiar sua argumentação, como provar que seus veículos estavam em outro lugar naquele momento, o
réu prefere usar o apelo "It ain't me, Babe"
.
Discriminação sexual
O Ato de Direitos Civis de 1964 foi o ponto final em décadas de debates e manobras políticas sobre várias propostas. Foi nessa época que Dylan alertou, “Come senators, congressmen, please heed the call. Don’t stand in the doorway, don’t block up the hall.”
Direito administrativo
Demandantes não podem alegar um prejuízo
para os seus interesses de visualização de ursos se eles não acreditam haver ursos na área. “If you’ve got nothing, you’ve got nothing to lose.” B. Dylan, “Like a Rolling Stone,” on “Highway 61 Revisited” (Columbia Records, 1965).
Antitruste
A seguinte letra, que coloca o status de um indíviduo no universo em contexto, pode ser
facilmente aplicada ao universo legal
: “You may be a state trooper, you might be a young Turk/You may be the head of some big TV network/But you’re gonna have to serve somebody.”
O maior número de premiações veio, é claro, na área da música: são 11 Grammys na carreira, sendo o primeiro conquistado em 1980, como melhor vocalista de rock, por "Gotta serve somebody". No mesmo ano, ele dividiu o prêmio de "Álbum do ano" pelo disco "Concerto para Bangladesh".
Dez anos depois, ele voltaria a ser premiado com o Grammy como melhor grupo vocal de rock pelo trabalho com os Travelling Willburys — supergrupo que reunia Dylan, George Harrison, Jeff Lynne, Roy Orbison e Tom Petty.
Em 1991, ele receberia o Grammy pelo conjunto a obra. Em 1995, veio o prêmio de melhor disco folk por "World gone wrong". Em 1998 foram três prêmios, álbum do ano e álbum folk, por "Time out of mind", e performance vocal de rock, por "Cold irons bound".
"Love and theft" rendeu mais um grammy de álbum de folk, em 2002. Cinco anos depois viram os prêmios de performance vocal de rock, pela canção "Somebody babe", e disco de folk, por "Modern times". E por fim, em 2016 ele foi premiado por "The Bootleg Series Vol. 11: The Basement Tapes Complete", como melhor álbum histórico.
O Oscar veio em 2001, pela canção "Things have changed", da trilha sonora do filme "Garotos incríveis". Ele apresentou a música e agradeceu o prêmio via satélite, pois estava em turnê na Austrália na época. A mesma canção rendeu a ele o Globo de Ouro. Desde que ganhou o Oscar, Dylan passou a levar a estátua consigo em turnês, colocando-a sobre seu amplificador nos shows.
Em 2008, Dylan foi agraciado com o Prêmio Pulitzer por seu "profundo impacto na música popular e na cultura americana, marcado por composições líricas de extraordinária força poética". Um ano antes, sua importância para a cultura mundial havia sido reconhecida na Espanha, com o Prêmio Príncipe das Astúrias.
Além disso, Dylan faz parte do Hall da Fama do Rock and Roll Hall, dos Compositores de Nashville e dos Compositores. Ele recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade em 2012 e a Légion d'Honneur francesa, em 2013.
Justificando o Nobel, Sara Danils, secretária permanente da Academia Sueca, descreveu Dylan como um "grande amostrador. E há 54 anos ele tem se reinventado. A começar por 'Blonde on blonde', um exemplo extraordinário de sua maneira brilhante de rimar, juntando refrãos, e de sua maneira brilhante de pensar".
A canção que transformou o cantor folk Bob Dylan em um astro de rock. Mais que um sucesso pop, tornou-se o hino de uma geração que começava a se libertar das amarras da sociedade. Em 1995, 30 anos depois de ser lançada, foi gravada pelos Rolling Stones (que não têm nenhuma relação com a letra).
Tangled up in blue
Canção cubista que Dylan lançou no disco "Blood on the tracks", de 1975. O jornal "The Telegraph" a definiu certa vez como "a letra mais deslumbrante já escrita, uma narrativa abstrata de relacionamentos feita em uma mistura amorfa de primeira e terceira pessoa, juntando passado, presente e futuro".
Jokerman
De volta ao mundo secular depois de uma conversão ao Cristianismo, Bob Dylan gravou em 1983 o álbum "Infidels", com produção de Mark Knopfler, discípulo seu e guitarrista dos Dire Straits. "Jokerman" é uma das grandes canções políticas de Dylan, mirando os populistas que engambelam a população.
Love sick
Música do disco "Time out of mind" (1997), considerado a volta de Bob Dylan aos bons tempos depois de uma conturbada década de 80, "Love sick" foi escolhida pelo artista como o número a ser apresentado na festa de Grammy de 1998. Um pedaço sombrio da personalidade de Dylan, então já bem na entrada dos tempos da velhice.
Mississippi
Canção que Bob Dylan fez nas sessões de "Time out of mind", mas só gravou depois, em 2001, no disco "Love and theft". A revista "Rolling Stone" a elegeu a 17ª melhor música da década e a descreveu como "uma canção de amor que parece resumir toda a carreira de Dylan, e um clássico que está pau a pau com 'Tangled up in blue'".
Tá certo que, nos anos 2010, Bob Dylan lançou apenas um álbum de inéditas, "Tempest", em 2012. Mas esse aceno ao saudosismo (fala de um velho serviço de trens), meio rockabilly, que abriu os trabalhos do disco tem lá seu valor. "Ouça o apito do Duquesne / soando como se fosse varrer o meu mundo pra longe", canta ele.