RIO — O cantor e compositor Bob Dylan, de 75 anos, levou o prêmio Nobel de Literatura em 2016. A surpreendente vitória foi anunciada na manhã desta quinta-feira pela Academia Sueca. Ele é o primeiro compositor musical a ser laureado na história.
"Dylan criou novas expressões poéticas dentro da grande música tradicional americana", diz o comunicado oficial.
Ao longo de sua carreira, que já dura mais de 55 anos, o americano lançou 37 álbuns, sendo o último, "Fallen angels", em maio deste ano. Entre seus principais prêmios estão onze Grammys, um Oscar e um Globo de Ouro.
Sara Danils, secretária permanente da Academia Sueca, descreveu Dylan como um "grande amostrador. E há 54 anos ele tem se reinventado. A começar por 'Blonde on blonde', um exemplo extraordinário de sua maneira brilhante de rimar, juntando refrãos, e de sua maneira brilhante de pensar".
Danils admitiu que a escolha pode parecer surpreendente, mas defendeu-a: "Se você olhar para um passado distante, há 5.000 anos, vai descobrir Homero e Safo. Eles escreveram textos poéticos que foram feitos para a performance, e o mesmo acontece com Bob Dylan. Nós ainda lemos Homero e Safo, e gostamos".
A canção que transformou o cantor folk Bob Dylan em um astro de rock. Mais que um sucesso pop, tornou-se o hino de uma geração que começava a se libertar das amarras da sociedade. Em 1995, 30 anos depois de ser lançada, foi gravada pelos Rolling Stones (que não têm nenhuma relação com a letra).
Tangled up in blue
Canção cubista que Dylan lançou no disco "Blood on the tracks", de 1975. O jornal "The Telegraph" a definiu certa vez como "a letra mais deslumbrante já escrita, uma narrativa abstrata de relacionamentos feita em uma mistura amorfa de primeira e terceira pessoa, juntando passado, presente e futuro".
Jokerman
De volta ao mundo secular depois de uma conversão ao Cristianismo, Bob Dylan gravou em 1983 o álbum "Infidels", com produção de Mark Knopfler, discípulo seu e guitarrista dos Dire Straits. "Jokerman" é uma das grandes canções políticas de Dylan, mirando os populistas que engambelam a população.
Love sick
Música do disco "Time out of mind" (1997), considerado a volta de Bob Dylan aos bons tempos depois de uma conturbada década de 80, "Love sick" foi escolhida pelo artista como o número a ser apresentado na festa de Grammy de 1998. Um pedaço sombrio da personalidade de Dylan, então já bem na entrada dos tempos da velhice.
Mississippi
Canção que Bob Dylan fez nas sessões de "Time out of mind", mas só gravou depois, em 2001, no disco "Love and theft". A revista "Rolling Stone" a elegeu a 17ª melhor música da década e a descreveu como "uma canção de amor que parece resumir toda a carreira de Dylan, e um clássico que está pau a pau com 'Tangled up in blue'".
Tá certo que, nos anos 2010, Bob Dylan lançou apenas um álbum de inéditas, "Tempest", em 2012. Mas esse aceno ao saudosismo (fala de um velho serviço de trens), meio rockabilly, que abriu os trabalhos do disco tem lá seu valor. "Ouça o apito do Duquesne / soando como se fosse varrer o meu mundo pra longe", canta ele.
A primeira incursão de Dylan pela literatura foi com "Tarântula", um livro de poesias experimentais que escreveu entre 1965 e 1966 e lançou em 1971. Em 2004, Dylan liderou listas de mais vendidos com "Crônicas - Vol. 1", a primeira (e até agora única) parte de sua autobiografia. Ele publicou ainda seis livros dedicados a sua arte visual e outros tantos com as letras de músicas que escreveu.
No ano passado, o prêmio foi dado para a bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, que era apontada com grande favorita pelos sites de apostas — em 2016, o japonês Haruki Murakami era o principal candidato para os apostadores, e Dylan sequer aparecia na lista.