Cultura Livros Flip

Ciclo da FlipZona dá visibilidade a poetas à margem da programação oficial

Escritores querem aumentar troca de experiências com outros artistas independentes
Casa de Cultura Camara Torres onde acontece a FlipZona. Foto Alexandre Cassiano / Agência O Globo. Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Casa de Cultura Camara Torres onde acontece a FlipZona. Foto Alexandre Cassiano / Agência O Globo. Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

PARATY - “A fotografia do meu antigo amor dançando tango”, “A solidão é um Deus bêbado dando ré num trator” e “Meu coração é um bar vazio tocando Belchior” são alguns dos vários livros publicados pelo amazonense Diego Moraes, de 33 anos. Por outro lado, o sergipano Márcio Du Coqueiral, também de 33, ainda aguarda para ver seus microcontos, escritos e “distribuídos” nos saquinhos de pão da padaria onde trabalhava, oficialmente publicados.

Já seu conterrâneo, Allan Jonnes, de 26 anos, não prioriza a palavra escrita: ele espalha sua mensagem em saraus e slams de poesia (uma espécie de competição entre poetas). Com trajetórias diferentes, os três terão suas vozes amplificadas no ciclo gratuito “Páginas anônimas”, da FlipZona em parceria com a TV Globo, realizado nesta quinta e sexta-feira (Allan fala às 12h de hoje, enquanto Diego e Márcio dividem mesa sexta, no mesmo horário) na Casa da Cultura de Paraty.

Os três foram descobertos pelo escritor Marcelino Freire, entre 2014 e 2015, durante uma caravana por capitais fora do eixo Rio-SP em busca de novos autores. Para ser lido, Márcio espalhava seus textos por baixo das portas das pessoas, em Coqueiral, no Sergipe, e foi várias vezes confundido com um ladrão. Ele acabou atingindo seu objetivo de forma ainda mais criativa (e menos invasiva): passou a escrever seus microcontos à caneta esferográfica nos saquinhos de pão, “publicando” um capítulo por dia. Hoje, está construindo uma biblioteca comunitária.

— No começo, os fregueses achavam esquisito, mas voltavam no dia seguinte para comprar mais — conta Márcio.

Quem viveu como andarilho durante um período de sua vida foi o “lírico sujo” (como ele mesmo se define) Diego Moraes. De volta à sua Manaus natal, começou a transformar as ideias e anotações de quando vagava pelas ruas de São Paulo em literatura. Foi na capital amazonense que fundou a Flipobre, festival literário realizado via internet, com autores independentes de estados distantes que não encontram espaço na programação oficial do primo rico paratiense. Ao qual, aliás, é extremamente crítico.

— Aos poucos vamos consertando o defeito de acharmos que a literatura boa só é editada por grandes editoras — aconselha.

É o que faz Allan, que está ansioso para conhecer gente, especialmente escritores independentes como ele. — Acho essa troca ainda mais importante que a questão da visibilidade.