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'Com lei do preço fixo, livro pode ficar mais barato', diz novo presidente do sindicato dos editores

Dante José Alexandre Cid promete aumentar a interlocução com os livreiros e promover a integração internacional do setor
Dante Cid, o novo presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros Foto: Divulgação
Dante Cid, o novo presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros Foto: Divulgação

O Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), uma das principais entidades do mercado editorial brasileiro, responsável pela realização da Bienal Internacional do Livro do Rio , já tem novo presidente. No dia 1º de janeiro, após sete anos à frente do SNEL, Marcos da Veiga Pereira , sócio da Sextante, passa a faixa para Dante José Alexandre Cid, engenheiro da computação e vice-presidente de Relações Institucionais para a América Latina da Elsevier, editora especializada em títulos técnicos e científicos. ele assume a presidência em meio às celebrações dos 80 anos do SNEL, completos em 22 de novembro. A festa será na próxima quarta-feira, no Gávea Golf Club. Em sua primeira entrevista à imprensa, Cid diz que a Lei do Preço Fixo, bandeira dos livreiros para enfrentar a concorrência desleal da Amazon , pode resultar na redução do preço do livro.

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Oos últimos presidentes do SNEL eram de editoras comerciais, mas você vem da área de livros técnicos e científicos, setor que encolheu 55% entre 2014 e 2019. De que maneira o SNEL pode ajudar?

Quero que um dos pilares do meu mandato seja o aumento da integração do SNEL com associações internacionais do setor editorial. Faço parte de dois comitês da International Publisher’s Association (Associação Internacional de Editores) e pretendo trazer um pouco das melhores práticas internacionais, facilitar o intercâmbio de tecnologia e firmar convênios com associações de outros países.

Em que pé está a luta contra a tributação do livro, incluída na proposta de reforma tributária enviada pelo governo ao Congresso?

Nossa luta é para que não haja obstáculos ao acesso à leitura, mas a situação política fez essa questão ser deixada de lado. Vamos esperar as três propostas de reforma tributária — da Câmara, do Senado e do Ministério da Economia. Alguns projetos são mais simplificados, o que facilita a luta pela manutenção da isenção tributária do livro. A diferença entre imposto, taxa e contribuição dificulta a elaboração da legislação. Projetos como o do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que prevê a isenção do livro, são anteparos importantes.

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A participação do e-commerce no faturamento das editoras cresceu 84% em 2020. As livrarias, por outro lado, estão em dificuldades. Como anda a interlocução do SNEL com os livreiros?

Minha intenção é promover uma maior interlocução com as livrarias, físicas e virtuais. O patamar de vendas on-line deve se manter , porque a pandemia estimulou o brasileiro a adotar a compra virtual. Mas nada se compara a experiência de ir à livraria, manusear os livros e conversar com o livreiro. Torcemos para que o vazio deixado pela Saraiva e pela Cultura seja rapidamente preenchido por outras redes.

Uma demanda dos livreiros é a Lei do Preço Fixo, que limita a 10% os descontos sobre livros no primeiro ano de lançamento, o que tornaria mais justa a competição com os e-commerces. Há chances dessa discussão avançar?

Essa discussão andou adormecida por conta da pandemia, mas deve voltar. A experiência de países que adotaram leis similares é positiva. A Lei do Preço Fixo é fundamental para garantir equilíbrio na oferta. O problema é que o Brasil é escaldado com tentativas de regulamentação de preço. No passado, isso não deu certo. Temos que garantir uma concorrência equilibrada, especialmente nos lançamentos, para evitar a canibalização do preço por plataformas que não têm o livro como produto principal. É fundamental garantir que não haja abusos e que comerciantes que dependem exclusivamente do livro não saiam no prejuízo.

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Os leitores vão aceitar a Lei do Preço Fixo? Isso não vai aumentar o preço do livro?

Vai haver uma reacomodação da precificação. Quando você sabe que o seu produto será vendido com descontos de até 40%, 50%, é natural aumentar o preço final para compensar os custos da cadeia produtiva. Se não houver mais descontos de 50%, ninguém vai precificar acima da capacidade de pagamento das pessoas. Todo mundo já entendeu que é melhor que o livro seja acessível a todos do que cobrar caro e vender pouco. Com a Lei do Preço Fixo, o livro pode ficar mais barato, não mais caro. Ninguém quer que ele seja um produto elitizado.

O que você gosta de ler?

Meu autor preferido é Umberto Eco (1932-2016). Quando ele se foi, lamentei muito que não íamos ter históricas como “O nome da rosa”. Normalmente, quem lê Eco tem aversão a Dan Brown . Eu adoro Dan Brown! Gosto de tudo que mistura mistério e História. Também gosto muito do Ken Follet .