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Criador do Superman, artista tem história e tragédia pessoal contada em graphic novel

'A história de Joe Shuster', que chega ao Brasil no próximo mês, tem roteiro de Julian Voloj e arte de Thomas Campi
Desenho representando Joe Shuster, por Thomas Campi Foto: Reprodução
Desenho representando Joe Shuster, por Thomas Campi Foto: Reprodução

SÃO PAULO — Nos anos 1930, dois garotos judeus de Cleveland, nos Estados Unidos, tiveram uma ideia maluca para incrementar a renda de suas famílias, ambas de imigrantes do Leste Europeu. Os amigos de colégio criaram a história de um jovem alienígena que, ao chegar na Terra, ganha superpoderes e combate toda a sorte de maldades.

Depois de levar muitas portas na cara, Joe Shuster (1914-1992) e Jerry Siegel (1914-1996) eventualmente emplacariam o Superman na All-American Comics, editora que lançou o personagem em 1938, no número 1 da revista “Action Comics”. A graphic novel “A história de Joe Shuster: O homem por trás do Superman” (Aleph), que será lançada no próximo mês no Brasil, conta tudo isso sob o ponto de vista do artista que deu forma a um dos super-heróis mais populares do mundo.

Com roteiro de Julian Voloj e arte de Thomas Campi, o álbum mostra também a luta judicial de quase quatro décadas de Shuster e de Siegel para reaver os direitos do Superman e o reconhecimento da autoria do personagem. Tudo porque os amigos venderam o copyright para aquela que se tornaria a DC Comics por apenas US$ 130 — só o cheque que receberam foi leiloado em 2012 por US$ 160 mil.

Superman em imagem da graphic-novel 'A história de Joe Shuster' Foto: Reprodução
Superman em imagem da graphic-novel 'A história de Joe Shuster' Foto: Reprodução

Narrador externo

Em entrevista ao GLOBO, Voloj, que capitaneou o projeto, conta que sua intenção inicial era contar a história dos dois como se fosse um narrador externo.

— Isso mudou quase por acaso — conta o autor, que assina também o roteiro de “Ghetto Brother — Uma lenda do Bronx” (Veneta), com arte de Claudia Ahlering. — Em 2014, fiquei sabendo que a universidade de Columbia recebera uma caixa com correspondências de Shuster. Entrei em contato com eles e, para minha surpresa, me concederam acesso à papelada antes mesmo de começarem a catalogação.

Julian Voloj, roteirista da graphic-novel 'A história de Joe Shuster' Foto: Divulgação
Julian Voloj, roteirista da graphic-novel 'A história de Joe Shuster' Foto: Divulgação

O que Voloj descobriu mudou sua percepção de Shuster e da história por trás do homem que inventou o figurino do Superman, o famoso colante azul, com shorts vermelho por cima e a capa esvoaçante da mesma cor — além, é claro, do famoso escudo com o “S” estilizado. Notoriamente mais reservado do que Siegel, o artista relatava em suas próprias palavras a perda progressiva da visão, o acúmulo das contas com médicos e a ameaça crescente de despejo.

— Fiquei fascinado com tudo aquilo — diz ele, que tem entre suas referências obras como “As incríveis aventuras de Kavalier & Clay”, romance de Michael Chabon inspirado nos dois amigos. — A maior parte dessas cartas foi escrita nos anos 1960, quando ele estava vivendo na penúria, ao mesmo tempo que a DC faturava com o personagem e o cinema preparava uma de tantas superproduções inspiradas em suas histórias.

Jerry Siegel, à esquerda, e Joe Shuster na graphic-novel 'A história de Joe Shuster' Foto: Reprodução
Jerry Siegel, à esquerda, e Joe Shuster na graphic-novel 'A história de Joe Shuster' Foto: Reprodução

Indústria crescente

Ao acompanhar a trajetória de um dos criadores de Superman, “A história de Joe Shuster” também mostra a expansão da indústria americana dos quadrinhos, um mercado até então incipiente e pouco rentável. O Homem de Aço, na visão de Voloj e de muitos historiadores, foi fundamental para popularizar o formado das revistas de HQ e, principalmente, os super-heróis:

— Eles absorveram a cultura popular da época, misturaram tudo e criaram algo completamente novo — entusiasma-se Voloj, que trabalha na pesquisa de uma nova graphic novel, agora sobre o artista americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988). — É uma ficção científica que se passa no presente, ambientada numa cidade inventada no meio dos Estados Unidos, protagonizada por um herói de dupla identidade e que na vida civil é um simples repórter de jornal popular.

“Eles absorveram a cultura popular da época, misturaram tudo e criaram algo completamente novo”

Julian Voloj
Jornalista, escritor e roteirista

Jornalista de formação, Voloj rejeita o rótulo de “jornalismo em quadrinhos” — uma vertente criada por Joe Sacco — para definir o seu trabalho. O autor diz ser atraído por boas histórias, independentemente de temas ou personagens. Isso explica o fato de ter em seu currículo livros sobre rap, quadrinhos e, agora, artes. Na sua lista de espera está um novo projeto com um artista brasileiro, o carioca André Diniz, que hoje mora em Portugal.

Capa de 'A história de joe Shuster', de Julian Voloj e Thomas Campi Foto: Reprodução
Capa de 'A história de joe Shuster', de Julian Voloj e Thomas Campi Foto: Reprodução

"A História de Joe Shuster: o homem por trás do Superman"

Autores: Julian Voloj (roteiro) e Thomas Campi (arte). Tradução: Marcia Men. Páginas: 192. Preço: R$ 59,90.