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Dia Nacional do Livro Infantil: ‘O maravilhoso serve de contrapeso ao real’

Escritora e professora da UFRJ Georgina Martins estuda a fantasia na literatura
A escritora e professora da UFRJ Georgina Martins Foto: Acervo pessoal
A escritora e professora da UFRJ Georgina Martins Foto: Acervo pessoal

RIO — Um universo do qual a realidade não dá conta. Seres do folclore, objetos mágicos, lugares únicos. O maravilhoso na literatura é objeto de estudo da escritora, professora da UFRJ e especialista em teoria e crítica da literatura infantil e juvenil Georgina Martins .

Como nasceu a literatura do maravilhoso?

A palavra “maravilhoso” vem do grego thaumásios , e quer dizer “admirável”, “espantoso”. Não é sinônimo de belo, mas sim de tudo aquilo que não pode ser explicado à luz da racionalidade, como os seres que não têm suas existências comprovadas pela ciência. São personagens de contos de fadas, contos populares, autorais, de assombração, de terror... As fábulas, por exemplo, em que os animais falam, não pertencem a essa categoria, pois o fato de os animais falarem funciona como metáfora de uma realidade que se quer representar.

Qual seria a “função” dessa literatura?

O maravilhoso serve de contrapeso à banalidade e à regularidade do cotidiano, como disse o historiador francês Jacques le Goff; ou seja, os personagens e os objetos entram nas narrativas ficcionais e operam eventos espantosos no cotidiano: a abóbora é transformada em carruagem, tapetes voam, sapo vira príncipe, lâmpadas realizam desejos. O mundo fica de ponta-cabeça, e os personagens se apropriam daquilo que não podem ter na realidade.

Como localizar nas livrarias as nossas maravilhas literárias?

Procurando livros do Câmara Cascudo, livros sobre mitologia indígena, mitologia africana, lendas urbanas...

O que os pequenos leitores ganham quando apresentados à metalinguagem contida nas mitologias?

Prazer na leitura, com grande importância cultural. As histórias evocam comportamentos éticos, falam de valores morais, coragem, perseverança e solidariedade.