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Flip 2017: Lima Barreto vai ganhar suíte composta por André Mehmari

Pianista e compositor vai apresentar a sua "Suíte Policarpo" na primeira noite da festa
O pianista e compositor André Mehmari, que escreveu suíte inspirada no romance "O triste fim de Policarpo Quaresma" Foto: Gal Oppido / Divulgação
O pianista e compositor André Mehmari, que escreveu suíte inspirada no romance "O triste fim de Policarpo Quaresma" Foto: Gal Oppido / Divulgação

RIO - O convite para o pianista e compositor André Mehmari partiu da curadora da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a jornalista Joselia Aguiar: criar uma peça inédita inspirada no autor homenageado da edição deste ano, Lima Barreto. Mehmari topou o desafio e se inspirou no romance “O triste fim de Policarpo Quaresma” para compor a sua “Suíte Policarpo”. Com quatro movimentos, a suíte será apresentada ao público pela primeira vez na noite de abertura da Flip, dia 26 de julho, após a sessão de abertura “Lima Barreto: triste visionário”, com a historiadora Lilia Moritz Schwarcz e o ator Lázaro Ramos, com direção de cena de Felipe Hirsch.

É a primeira vez que a festa ganha uma composição inédita. O recital de Mehmari vai marcar também a volta do show de abertura, que no ano passado foi substituído por um sarau de poesia. O pianista explica que a suíte está dividida nos movimentos modinha, valsa, dobrado e maxixe, gêneros relacionados ao período em que Lima Barreto viveu e produziu sua obra. Mehmari conta que sua principal inspiração foi uma passagem de “Policarpo Quaresma” que aborda uma aula de violão. Ele já gravou um CD com a suíte, que será vendido durante a Flip.

— É uma composição que explora muito o piano como instrumento europeu, mas tocando uma música mestiça, como o maxixe e a modinha, mencionados no “Policarpo Quaresma”. Peguei frases do capítulo da aula de violão e usei como ponto de partida, foi uma alavanca criativa — diz ele, que já escreveu peças inspiradas em obras de Cortázar e José Saramago.

Além da “Suíte Policarpo”, Mehmari vai apresentar obras de Ernesto Nazareth, contemporâneo de Lima Barreto. Para o pianista, há uma ponte “lítero-musical” entre o escritor e o compositor.

— Lima Barreto é um escritor negro que o tempo inteiro questiona a identidade do país de forma irônica. Nazareth foi um visionário brasileiro, que também teve no seu instrumento, o piano, um laboratório de gestação de uma música brasileira moderna. Ele partiu de elementos da dança de salão europeia e misturou com a música afro-brasileira, fazendo com que a gente reflita sobre o que nos caracteriza como brasileiros. Essas questões sobre a identidade cultural do país rondavam as cabeças desses dois criadores.