RIO - Os caminhos para a formação de leitores são sinuosos e nem sempre têm atalhos. Passam pela necessidade de fomentar a intimidade das crianças com o objeto livro (o que não é trivial num país de maioria sem-estante), atravessam as distrações tecnológicas que lhes roubam a atenção e comprometem a capacidade de concentração e desembocam, enfim, numa realidade em que nem toda página que se vira é ouro.
Em sua 17ª edição, a Flip não tem a pretensão de conseguir plantar o hábito da leitura em solo ainda não fertilizado — o que não faz menos inspiradores os quatro dias de rodas de conversa, oficinas, apresentações artísticas e lançamentos.
A construção do leitor pode ser fomentada tanto pelo encontro com os autores e pela arte da contação de histórias quanto pelas performances de slam. Assim acredita Belita Cermelli, diretora do programa educativo da Flip — ela ressalta que entre os espaços de convivência se destaca a Biblioteca Comunitária Casa Azul, de recorte infantil e juvenil, fundada pela festa em 2005 e localizada na Ilha das Cobras, área fora do centro histórico de Paraty.
“Brinquedos miúdos e graúdos nascidos da barriga da língua portuguesa”. A poeta e ilustradora traz neste livro versos sobre brincadeiras tradicionais brasileiras e encontradas em outros países lusófonos, da peteca brasileira às máscaras feitas de cascas de árvores de Guiné-Bissau. Autora: Selma Maria. Editora: Estrela Cultural. Páginas: 80. Preço: R$ 34,90 Foto: Reprodução
“Mar em mim”. Autora: Cíntia Barreto. Ilustrações: Camilo Martins. Editora: Semente Editorial. Páginas: 28. Preço: R$ 49. “Mar em mim” é um livro-objeto em que as páginas transformam-se em ondas por entre as quais o leitor navega por palavras, ritmos, imagens e sentimentos, oferecendo tanto a experiência intensa de um instante, quanto sua duração no tempo e no espaço desdobrado na imensidão do mar. Foto: Reprodução
Autor: Jonas Ribeiro. Ilustrações: Sandra Jávera. Editora: Editora do Brasil. Páginas: 32. Preço: R$ 47,90. A protagonista deste livro é louca por mapas e fissurada em imaginar como seriam os outros lugares do mundo. Ao longo das páginas, ela vai se deslumbrando com a diversidade, a beleza e as infinitas possibilidades que existem por aí. O mundo lhe parece mágico — assim como este livro Foto: Reprodução
“Que amores de sons!”. Autores: Penélope Martins e Alexandre Honrado. Editora: Editora do Brasil. Páginas: 40. Preço: R$ 50,60. Uma mulher que gosta dos barulhinhos da natureza e se emociona com eles. É nela que se centra esse livro: no seu caminhar, catando folhas, pétalas e raminhos para enfeitar os cabelos; no seu cantar doce; nas lágrimas emocionadas que derrama. Até que a mulher é avistada por um homem que... ama tanto aqueles sons quanto ela Foto: Reprodução
“Pretinha, eu?”. Autor: Júlio Emílio Braz. Editora: Edições do Ogro. Páginas: 53. Preço: R$ 30. O livro do premiado autor Julio Emílio Braz “Pretinha, eu?” aborda racismo e identidade. Uma estudante de colégio particular vê-se confrontada pela dúvida sobre sua cor, quando uma aluna bolsista, negra, entra na escola e começa a ser hostilizada por parte dos alunos. Ela, que até então vivia em uma zona de conforto, vendo-se como “morena”, passa a questionar o mundo de aparências que os pais alimentavam Foto: Reprodução
“Senhora Incerteza”. Autora: Padmini. Ilustrações: Ana Cristina Maciel. Editora: Semente Editorial. Páginas: 68. Preço: R$ 49. Uma história que nos fala das muitas vezes que a incerteza vem dormir em nossa casa, nos abraça de noite, e faz tudo sair do lugar no outro dia. A Senhora Incerteza, ao se deparar com o menino azul, o senhor brincante e a menina colecionadora, tem sua vida transformada por novos sentidos. Eles partem rumo a uma jornada mágica. Foto: Reprodução
“Sol com boca de sal”. Autora: Meg Antunes. Editora: Selo OFF Flip. Ilustrações: Álvaro Omine e Nelson Yamashiro. Páginas: 20. Preço: R$ 20. A história se passa na Vila do Abraão, em Ilha Grande. O menino Ronaldinho não gosta de chuva, pois o impede de brincar na praia. Ele, então, decide fazer uma simpatia: desenha um sol no chão, coloca sal e repete uma frase. No fundo do quintal de sua casa, há um quartinho que esconde um misterioso tesouro. Será que são os segredos do mar? Foto: Reprodução
“Princesa Obá — Uma princesa diferente das outras”. Autoras: Adriana Rolin e Lilian Amancai. Editora: Metanoia. Páginas: 34. Preço: R$ 30. Obá em nada se parece com as princesas frágeis e casadoiras dos contos de fadas. Batizada em homenagem a um “rio de água agitadíssima” da Nigéria, ela é uma menina guerreira, moleca, de beleza natural e espírito desbravador Foto: Reprodução
“A história da Terra em 100 palavras”. Autores: Gilles Eduar e Maria Guimarães. Editora: Companhia das Letrinhas. Páginas: 64. Preço: R$ 59,90. “No início, a Terra era uma bola de magma...” Aí vieram o resfriamento e os oceanos, e há quatro bilhões de anos surgiram as primeiras formas de vida, os antepassados das bactérias. Dos vulcões ao homo erectus, passando pelos mais-que-queridos dinossauros, tudo é encantamento nesse livrão, tão informativo quanto ricamente ilustrado Foto: Reprodução
“Ah, os lugares aonde você irá!”. Autor: Dr Seuss. Tradução: Bruna Beber. Editora: Companhia das Letrinhas. Páginas: 64. Preço: R$ 39,90. As terras encantadas e os bichos esquisitos de Dr Seuss aqui servem de convite à aventura. O livro mostra que o caminho de quem encara a vida com destemor não é fácil, mas é preciso seguir, “sem confundir o pé direito com o pé esquerdo”. E com bom humor. “Você vai conseguir? Eu jamais duvidaria. É 98,8% de garantia”, brinca o autor Foto: Reprodução
Entre os rastilhos para diálogos, pensados de forma a misturar gerações, estão a representatividade feminina e afro-brasileira e o espaço da produção para jovens nos eventos literários.
— São temas que não estão no eixo central da literatura para o homem adulto branco, mas que ajudam a pensar como formar leitores — diz Belita. — Festivais, feiras e bienais não vão mudar o fato de que 30% da população são analfabetos funcionais. Já formamos 400 mediadores em Paraty desde o início da Flip (
em 2003
). São pessoas que aproximam os outros do livro, criam ambiente de afetividade. Para quem é letrado, parece que isso se dá de forma natural. Mas os que não crescem em casas com livros os veem como objetos estranhos, que não são para eles.