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Flip: Relembre todos os escritores homenageados desde 2003

De Vinicius de Moraes a Euclides da Cunha, histórico conta apenas com nomes brasileiros
Pela primeira vez, em 18 anos, a Flip vai homenagear um nome estrangeiro: decisão polêmica Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Pela primeira vez, em 18 anos, a Flip vai homenagear um nome estrangeiro: decisão polêmica Foto: Leo Martins / Agência O Globo

RIO — A escritora americana Elizabeth Bishop (1911-1979) foi anunciada nesta segunda-feira (25) como autora homenageada da edição de 2020 da Festa Internacional Literária de Paraty (Flip) . Antecipada em outubro na coluna de Ancelmo Gois , a escolha chama atenção por Bishop ser o primeiro nome estrangeiro contemplado pela organização do evento em sua história. A decisão, inclusive, vem gerando indignação por parte de escritores brasileiros .

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Desde 2003, foram 17 homengeados brasileiros pela Flip, entre romancistas, poetas, ensaístas e cronistas. Relembre todos eles na lista abaixo:

Vinicius de Moraes (2003)

O Poetinha faria 90 anos em outubro daquele ano e foi eleito o primeiro nome a ser celebrado pela Flip. Participaram do tributo nomes como Chico Buarque, Ferreira Gullar, a cineasta Susana Moraes, filha de Vinicius, o poeta, filósofo e compositor Antonio Cicero, e Adriana Calcanhoto.

Guimarães Rosa (2004)

O autor homenageado da Flip 2004 enveredou pelos grotões brasileiros para fazer uma literatura sem fronteiras. Naquela edição, foi montada uma programação especial para debater sua vasta obra, especialmente "Grande sertão: Veredas", único romance do autor mineiro.

Clarice Lispector (2005)

Em 2005, foi a hora e a vez de fazer as honras da casa a Clarice Lispector (1920-1977), a narradora que, nascida na Ucrânia, escolheu o Brasil e o português do Brasil como pátria literária. Para comemorar o legado da autora, foi convidado o diretor cênico Naum Alves de Souza para conceber a abertura da Flip: um espetáculo multimídia, conjugando depoimentos, leituras, canções e entrevistas inspiradas na obra de Lispector.

Jorge Amado (2006)

A homenagem a Jorge Amado, em 2006, levou um pedaço da Bahia Paraty. Com direito a participação de Maria Bethânia! Na Tenda dos Autores, no dia em que o escritor completaria 94 anos, 12 de agosto, uma mesa-redonda com Myriam Fraga, Antonio Risério e Eduardo de Assis Duarte foi montada para discutir os caminhos da prosa generosa de Amado.

Nelson Rodrigues (2007)

A edição de 2007 reservou sua homenagem ao tricolor, popular e polêmico Nelson Rodrigues. À época, o diretor de programação da Flip, o jornalista Cassiano Elek Machado, defendeu com veemência a escolha: "Nelson Rodrigues infelizmente não consegue se libertar de uma visão folclórica que fazem de sua obra. Muitos ainda o enxergam como um reacionário ou um imoral, como um polemista ou um frasista inconsequente. Nisso tudo, muitos esquecem que ele é o principal dramaturgo brasileiro e um dos nossos melhores escritores, um sujeito que soube como poucos garimpar o que existe de universal e grandioso no universo do cotidiano banal.”

Machado de Assis (2008)

A Flip escolheu o ano de centenário da morte de um dos maiores autores para homengeá-lo. Foi montada uma conferência sobre "Dom Casmurro", tendo como base um texto então inédito sobre o livro, assinado pelo crítico Roberto Schwarz. Na mesa “Papéis avulsos”, os convidados, todos machadianos de calibre, apontaram algumas direções: a correspondência, a relação com a literatura contemporânea, e as adaptações para o cinema.

Manuel Bandeira (2009)

A opção pelo pernambucano Manuel Bandeira, em 2009, tinha como objetivo jogar luz sobre sua produção em prosa que permanecia à sombra. O tributo oferecido pela Flip teve como objetivo alterar esse cenário.

Gilberto Freyre (2010)

Impulsionada pela projeção da imagem do Brasil no exterior com as recentes escolhas do país como sede para a Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016), a Flip elegeu como homengeado o autor que primeiro analisou a constituição da sociedade brasileira sob perspectiva positiva. Apesar de não ter sido primordialmente ficcionista como os homenageados anteriores da Flip, Gilberto Freyre foi o mais literário dos pensadores sociais brasileiros.

Oswald de Andrade (2011)

Protagonista da Semana Moderna de 22, Oswald de Andrade abriu caminho para nomes importantíssimo da literatura nacional, como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e os poetas concretos. "De lá para cá, a obra de Oswald só cresceu em importância, mas também aumentaram as rasteiras que têm passado nos críticos e leitores do presente – com seu teatro orgiástico (decisivo para a dramaturgia brasileira a partir dos anos 1960), com o afresco revolucionário do país que ele fez em Marco Zero, com a antropologia de sua tese sobre messianismo e utopia (A crise da filosofia messiânica)”, comentou à época Manuel da Costa Pinto, curador da Flip.

Carlos Drummond de Andrade (2012)

O escritor homenageado da décima Flip, Carlos Drummond de Andrade, começa um de seus poemas de um jeito que pode parecer pretensioso: “E como ficou chato ser moderno/Agora serei eterno”. E foi com foco neste dualismo entre modernidade e eternidade que o festival colocou em debate a imagem do autor. Se hoje tendemos a pensar em Drummond como um artista “eterno”, ou pelo menos como um escritor que merece continuar sendo lido e relido, isso significa que de alguma forma ele se tornou menos “moderno”?

Graciliano Ramos (2013)

De professor a prefeito, de revisor a cronista, do partido à prisão: Graciliano Ramos, escritor homenageado da Flip, baseou-se principalmente em experiências pessoais para escrever seus romances. Durante o festival foram lançadas três pubicações da editora Imprensa Oficial Graciliano Ramos, celebrando o autor que completaria 120 anos em 2013. São elas: "Relatórios de Graciliano Ramos publicados no Diário Oficial", a biografia "Graciliano Ramos em Palmeira dos Índios" e uma edição especial da revista "Graciliano", que trata da vida e obra do escritor com um olhar contemporâneo.

Millôr Fernandes (2014)

O dramaturgo, escritor, desenhista, tradutor e jornalista Millôr Fernandes foi o autor homenageado da Flip 2014. "Millôr trazia o mundo da Flip num homem só: da tradução de Shakespeare ao cartum, do jornalismo ao hai-kai. Sua crítica ao poder é fundamental no Brasil de 2014", afirmou Paulo Werneck, à época curador da Flip. Aquela foi a primeira vez que a festa teve um homenageado que já havia participado do evento: Millôr esteve na primeira edição, em 2003.

Mário de Andrade (2015)

Em 2015, completados 70 anos de sua morte, o paulista Mário de Andrade foi o escolhido para ser homenageado na festa. O poeta, romancista, gestor e agitador cultural viveu apenas até os 52 anos, mas deixou vivo um legado importante. O erotismo na obra de Mário e sua homossexualidade "proibida" foram abordados de forma franca (e literária) na abertura da Flip.

Ana Cristina Cesar (2016)

Segunda mulher homanageada na história da Flip, Ana Cristina Cesar, ou Ana C., como os amigos a chamavam levou a poesia marginal para as ruas, mesas e debates da festa em Paraty. Para frequentadores e organizadores, foi uma edição com ares de anos 70 e um exercício coletivo para demover o público de alguns lugares-comuns sobre a obra de Ana.

Lima Barreto (2017)

Criticada em 2016 pela ausência de autores e homengeador negros, a Flip escolheu o carioca Lima Barreto como homenageado no ano seguinte. Joselia Aguiar, jornalista que assumiu a curadoria da Flip naquele ano, à época declarou que Barreto por muito tempo "ficou na 'aba' de literatura social, e sua obra e trajetória possibilitaram muitos debates sobre a sociedade brasileira".

Hilda Hilst (2018)

Amor, morte, Deus e finitude: quatro temas abordados pela homangeada de 2018 e que estiveram presentes nas mesas de debate da festa. Segundo Joselia Aguiar, que assinou pelo segundo ano a curadoria da festa, há muitos pontos em comum entre Lima Barreto, nome celebrado em 2017, e Hilda Hilst: “Ambos foram transgressores, cada um a seu modo e em seu tempo e se dedicaram à escrita de modo tal que ultrapassaram o limite do que era esperado de cada um: ele como autor negro de baixa renda, ela como mulher livre numa sociedade que não estava acostumada a isso."

Euclides da Cunha (2019)

No aniversário de 110 anos de seu nascimento, a Flip escolheu o autor de "Os sertões" como homenageado. "Os sertões pode ser considerado um dos primeiros clássicos brasileiros de não ficção. Mistura jornalismo, geografia, filosofia, teorias sociais e científicas – muitas delas ultrapassadas – para falar de um país em transição. O país tornava-se república no auge do determinismo", afirmou em comunicado a curadora do evento, Fernanda Diamant.