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Por Talita Duvanel

Faltavam alguns detalhes para Julia Quinn, autora dos romances da série “Os Bridgertons”, e sua irmã, a ilustradora Violet Charles, lançarem “A srta. Butterworth e o barão louco” — uma graphic novel escrita por Julia e ilustrada por Violet — quando uma tragédia aconteceu. Em 29 de junho do ano passado, um acidente de carro, provocado por um motorista bêbado, matou Violet, o pai dela e de Julia e a cachorra da família. E o marido da ilustradora morreu cinco meses depois, por causa de sequelas da batida. A artista, na época com 37 anos, não teve tempo de ver sua obra impressa, mas, um ano depois, seu trabalho finalmente saiu da gráfica. O livro chega ao Brasil no início do mês que vem, já com pré-venda no site da editora Arqueiro.

— Achei que seria mais difícil falar sobre o livro, mas tem me trazido alegria — diz Julia, por chamada de vídeo, de sua casa em Seattle, nos Estados Unidos. — Minha irmã morreu, o que é terrível, mas tenho o livro, essa memória incrível dela. É como olhar para dentro do cérebro de Violet. Isso é mais do que muita gente tem.

'A srta. Butterworth e o barão louco', de Julia Quinn — Foto: Divulgação
'A srta. Butterworth e o barão louco', de Julia Quinn — Foto: Divulgação

Com a ajuda da ilustradora, “A srta. Butterworth e o barão louco” figura na biblioteca de Julia como o trabalho mais diferente que ela já fez. A americana, de 51 anos, escreveu mais de 40 romances de época desde o início dos anos 2000, vendeu 20 milhões de cópias nos Estados Unidos e três milhões no Brasil e teve sua principal criação, “Os Bridgertons”, adaptada para a Netflix.

Nesses quadrinhos, Priscilla Butterworth, uma jovem que perdeu a mãe e a avó e precisa fugir da exploração de uma tia, acaba na casa de um “barão louco”.

Déjà-vu

Quem é familiarizado com a saga dos Bridgertons, que Julia costuma chamar de “Bridgerverso”, certamente vai reconhecer a história desse lançamento. A Srta. Butterworth apareceu rapidamente, pela primeira vez, em “Um beijo inesquecível”, sétimo dos nove volumes que narram as aventuras, principalmente amorosas, de oito jovens irmãos pela alta sociedade londrina no século XIX.

Em determinado momento do livro sete, a personagem Hyacinth Bridgerton, caçula da família, lê passagens de “A srta. Butterworth e o barão louco”. Depois, em diversas outras obras de Julia, a referência se repete. Nunca, porém, a americana pensou em levar adiante essa história, apesar do apelo dos fãs.

Julia Quinn — Foto: Roberto Filho/Divulgação
Julia Quinn — Foto: Roberto Filho/Divulgação

— Eu dizia (para eles): “isso é muito legal para fazer um parágrafo aqui e ali, mas não escrever um livro inteiro” — diz Julia. — Mas, por volta de 2015, alguém teve a ideia de que seria uma boa história contada em quadrinhos. Minha irmã era cartunista e ilustradora, então era algo que ela poderia fazer. Seria muito divertido para mim, e uma oportunidade incrível para Violet.

Julia — que se chama, na verdade, Julie Pottinger — diz não estar preocupada se vai ou não atingir novos leitores adultos com essa novidade. Tem como prioridade honrar sua legião de fãs e, quem sabe, chegar a pequenos leitores, já que a história da Srta. Butterworth tem diversos elementos de conto de fadas (a começar pela mocinha sofrida meio Cinderela) que caem bem ao público infantil.

— Eu sei o que as crianças leem hoje em dia, então é OK para elas — diz Julia, cujos romances costumam ter muitas passagens de sexo, bastante reproduzidas na série de TV. — Fico meio brava quando as pessoas se preocupam somente com coisas que tenham sexo, mas não se importam com violência. Como sexo pode ser tão pior do que violência? Enfim, esse livro não tem conteúdo sexual, só tem um pouco de ataques de pombos contra humanos (risos).

A autora que chamou atenção de Shonda Rhimes com seus romances (a adaptação deles para a TV foi o primeiro desafio da megaprodutora americana no contrato multimilionário para a Netflix) não pensa em transformar essa nova empreitada em animação. Mas admite precisar de uma dose extra de ambição:

— Eu nunca imaginei que meus romances pudessem virar séries de TV. Acho que tenho que começar a sonhar mais alto.

'Série tem que ter vida própria'

Apesar de ter vendido os direitos de adaptação dos livros de “Bridgerton” para a Shondaland, produtora de Shonda Rhimes, Julia é uma autora que acompanha de perto os bastidores do “Bridgerverso” da televisão.

Nas visitas ao set, não finge estar acostumada: tira foto nas carruagens e tieta os atores como qualquer fã, principalmente Jonathan Bailey, o Anthony Bridgerton (“Você não consegue segurar o sorriso quando está perto dele”, diz). Mas quando o assunto é o seguimento da história, faz as perguntas que acha necessárias. Foi o que aconteceu quando soube que a terceira temporada, ainda em fase de produção, vai pular o terceiro livro, ir direto para o quarto e abordar o romance entre Penelope Featherington (a fofoqueira Lady Whistledown) e Colin Bridgerton.

— Cedi o controle criativo, mas isso não quer dizer que não possa perguntar: “por que vocês estão fazendo isso?”. Eles me explicaram, e eu falei “tudo bem”. E nada diz que eles não voltarão ao livro três.

Rainha Charlotte, da série "Bridgerton' — Foto: LIAM DANIEL/NETFLIX
Rainha Charlotte, da série "Bridgerton' — Foto: LIAM DANIEL/NETFLIX

Isso, tampouco, não quer dizer que Julia cobre fidelidade a suas páginas. A autora acha que a rainha Charlotte, que não aparece nos livros e vai ganhar uma série só dela, é um golaço da equipe de roteiristas. A atriz que a interpreta, Golda Rosheuvel, é uma de suas favoritas.

— Encontrei Golda duas vezes e já quis ser a melhor amiga (risos). Esse personagem é a mudança de que mais gostei. Algumas pessoas pensam que uma adaptação deve seguir palavra por palavra do livro. Discordo. Acho que a série precisa ter vida própria — diz Julia, na torcida para ser convidada também para visitar o set do spin-off.

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