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Por Ruan de Sousa Gabriel — São Paulo

Bem-humorado, o antropólogo Roberto DaMatta brinca que ganhar o Prêmio Machado de Assis prova que ele não é nenhum gênio. Se o fosse, teria sido laureado "ainda garoto", com cerca de 40 anos, e não "com 85 e indo para 86". Colaborador por anos do GLOBO, DaMatta não esconde a alegria por ter recebido, anteontem, o mais prestigioso prêmio concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL), o Machado de Assis — que vem junto com R$ 100 mil.

— Estou muito honrado. Receber o prêmio da Academia fundada por Machado de Assis é uma felicidade e coloca uma baita reponsabilidade nas minhas costas. Sou admirador e leitor de Machado. Usei muitos contos dele em minhas aulas na PUC-Rio e na Universidade Notre Dame, nos Estados Unidos — afirma.

Nascido em Niterói, DaMatta se notabilizou por seus ensaios de interpretação do Brasil. Interessado na cultura popular, o antropólogo escreveu sobre Carnaval, futebol, malandragem, sociedades indígenas e o tal "jeitinho brasileiro" em livros como "Um mundo dividido: a estrutura social dos Apinayé", "A casa & a rua" e "O que faz o brasil, Brasil?". "Você sabe com quem está falando?", seu livro mais famoso, reúne três ensaios sobre o autoritarismo brasileiro e investiga a "carteirada", hábito ancestral das elites para humilhar os subalternos e reafirmar os próprios privilégios.

A interpretação original de DaMatta foi recuperada durante a pandemia para explicar o comportamento de pessoas que tentavam driblar as restrições sanitárias com base no "você sabe com quem está falando?". O antropólogo recorda que suas reflexões sobre a cultura brasileira são fruto do choque que tomou ao voltar ao país após temporadas no exterior.

— Esse livro é resultado do estranhamento que eu tive em relação ao Brasil após ter passado um tempo longe. Vivi em aldeias indígenas e fiquei muitos anos ligado à Universidade Harvard, nos EUA, onde fiz meu doutorado — conta. — Até então, o pensamento social brasileiro clássico interpretava o país "de dentro para fora". Eu fui o primeiro a interpretá-lo de uma perspectiva externa. No fim, o mundo ficou muito mais parecido com o Brasil e nós, brasileiros, descobrimos que nem lá fora há sociedade perfeita. Há apenas sociedades que tentam se corrigir.

Prêmio literário mais antigo do país, o Machado de Assis é entregue, desde 1941, a escritores e intelectuais que se destacaram pelo conjunto da obra. Já foram homenageados autores como Gilberto Freyre, Fernando Sabino e Ruy Castro. Os vencedores são escolhidos pelos membros da ABL e o prêmio é patrocinado pela Light.

— Roberto da Matta é um antropólogo reconhecido internacionalmente por tratar de questões basicamente brasileiras: Carnaval, as ruas, o jeitinho brasileiro, o "você sabe com quem está falando"? Ele compreendeu a alma brasileira como poucos porque conheceu a metrópole e a selva, tendo passado pela experiência de conviver com os indígenas — afirma Merval Pereira, presidente da ABL e colunista do GLOBO.

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