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Por Ruan de Sousa Gabriel


Feira de Frankfurt, que volta a ser 100% presencial em 2022 — Foto: Valentin Gensch/AP
Feira de Frankfurt, que volta a ser 100% presencial em 2022 — Foto: Valentin Gensch/AP

Caipirinha e histórias em quadrinhos. É essa a receita do Brasil para fazer barulho na Feira do Livro de Frankfurt, principal evento do mercado editorial do planeta, onde são negociados os livros que em breve estarão nas listas de mais vendidos. Na próxima quarta-feira, primeiro dia do evento, que se estende até domingo, a editora Cecília Arbolave, da Lote 42, apresentará um “Panorama dos quadrinhos brasileiros” no estande da Câmara Brasileira do Livro (CBL). No dia seguinte, ocorrerá o “Caipirinha meets Oktoberfest”, uma rodada de bebidas para ajudar na interação entre editores daqui e do exterior.

Em 2020, a Feira ocorreu remotamente. No ano passado, apostou no formato híbrido. Agora, mais de quatro mil expositores de 80 países confirmaram presença, e até Spotify e TikTok (rede social que se converteu em fábrica de best-sellers) estarão por lá. A programação conta com autores renomados, como o Nobel de Literatura 2021, Abdulrazak Gunar.

O estande do Brasil volta a Frankfurt com 21 editoras, como Rua do Sabão, Global e Quadrinhos de Curitiba. Dez casas foram selecionadas pelo CreativeSP, programa de internacionalização da economia criativa do governo de São Paulo, como Todavia, Faro Editorial e Lote 42 e seu braço livreiro, a Banca Tatuí, que também estará representada pelo editor João Varella na conferência de livrarias que ocorre paralelamente à feira.

Gerente de relações internacionais da CBL, Fernanda Dantas tem “altas expectativas” para o evento. A delegação brasileira espera fechar até US$ 600 mil em negócios — mais do que o dobro do ano passado (US$ 250 mil), porém menos do que em 2019 (US$ 890 mil).

— O mercado internacional está se reaquecendo e as editoras brasileiras estão otimistas — diz ela, que destaca a presença das graphic novels no estande.

Cecília Arbolave apresentará o “Catálogo HQ Brasil”, resultado da parceria entre a Bienal de Quadrinhos de Curitiba e o Programa Brasil em Quadrinhos, do Itamaraty. Organizado pelo estudioso de quadrinhos Érico Assis, o catálogo traz amostras da produção de cem autores brasileiros, como Laerte, André Dahmer e Ilustralu. Também será lançada a HQ “Pedro e o imperador”, coedição entre a Lote 42 e a casa portuguesa Polvo. Roteirizada pelo brasileiro Batista e ilustrado pela lusa Joana Afonso, o álbum coloca Pedro I e Pedro II frente a frente.

— O catálogo é uma boa ferramenta para apresentar a variedade estilística e temática do quadrinho brasileiro. Em feiras passadas, ele ajudou a vender direitos de publicação de HQs nacionais a editoras estrangeiras — afirma Arbolave.

Editor da Todavia, André Conti também destaca o prestígio do quadrinho brasileiro no exterior: editoras e agentes literários reconhecem a qualidade da produção nacional e o país exporta mão de obra, de ilustradores a coloristas e letristas. Autores como Marcello Quintanilha já foram premiados no Festival de Angoulême, o principal dedicado ao gênero. Marcelo D’Salete, Fido Nesti e Mike Deodato Júnior levaram o Eisner, considerado o “Oscar dos quadrinhos”.

Em Frankfurt, são apresentadas as próximas tendências do mercado editorial. Conti ressalta que este ano a oferta de títulos sobre “questões do nosso tempo” (raciais, de gênero, ameaças à democracia etc.) continua alta.

Já Mauro Palermo, diretor da Globo Livros, observa uma proliferação de títulos sobre a Ucrânia: história do país, tentativas de explicar o conflito com a Rússia e até livros infantis. No entanto, ele pondera que leitor brasileiro demonstra pouco interesse pelo país europeu.

Otavio Marques da Costa, publisher da Companhia das Letras, concorda, mas acrescenta que, quando o “grande livro sobre a guerra na Ucrânia” surgir, certamente despertará o interesse do mercado nacional.

Quanto à ficção, Sonia Machado Jardim, presidente do Grupo Editorial Record, aposta no retorno da comédia romântica.

Os editores brasileiros ouvidos pelo GLOBO não vão a Frankfurt desde 2019 e estão animados para voltar ao corpo a corpo.

Conti lista três metas para a feira: reforçar contatos antigos, forjar laços com novos agentes literários e trocar ideias com colegas estrangeiros para descobrir no que vale a pena ficar de olho.

Marques da Costa afirma ainda que as tentativas de realizar a feira de modo virtual ou híbrido nos últimos dois anos foram incapazes de produzir o mesmo hype em torno dos candidatos a best-seller. Já Machado Jardim sentiu falta de trocar figurinhas com editores estrangeiros.

Antes de embarcar, no entanto, é necessário fazer o “dever de casa”: informar-se sobre os títulos mais disputados mundo afora.

Palermo descreve a rotina da feira como “aeróbica”. Editores passam o dia indo de um lado para o outro, em reuniões de negócios com agentes literários do mundo todo. A correria é tamanha que alguns minutos de atraso são tolerados. Palermo chegará a ter 16 reuniões em um único dia.

— Você sai esgotado, mas é viciante. Na saída da feira, tem uma placa que diz “auf Wiedersehen”, até logo em alemão. Sempre tiro uma foto já pensando que ano vem estarei lá de novo — diz ele. — É muito bom sair de lá com os livros que vamos trabalhar nos próximos meses.

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