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Por Mateus Campos — Paraty

Benjamín Labatut cativou a plateia da 20ª Festa Literária Internacional de Paraty com tiradas agudas e atrevidas na noite desta sexta-feira. Logo que sentou na cadeira destinada aos palestrantes na Tenda da Matriz, o escritor chileno tirou as sandálias, colocou os pés no chão e mostrou que estava completamente à vontade na mesa 10, "Do mal que tu me deste…”. A conversa foi conduzida pela editora e crítica literária Rita Palmeira.

Logo na primeira resposta, surpreendeu o público pela sinceridade. Vencedor dos prestigiosos Man Booker e National Book Award e com livros recomendados por ninguém menos que o ex-presidente americano Barack Obama, ele se mostrou indiferente — senão contrário — à ideia de sucesso.

— A literatura é um âmbito de sombras. Uma coisa monástica, religiosa. A literatura não tem nenhuma ligação com o êxito. Eu suspeito muito do sucesso e preparo meu futuro fracasso. De vez em quando, algo que valha a pena prestar atenção faz sucesso. Eu era o único que gostava de ler e escrever no meu colégio. Então ganhava todos os prêmios porque era o único que competia. No Brasil, talvez vocês estejam acostumados a ganhar. Venho do Chile, onde perder é uma arte.

Conhecido por borrar as fronteiras entre realidade e ficção em sua obra, Labatut expressou sentimentos fortes e quase contraditórios à respeito da literatura e seus gêneros. Autor de romances, disse que detesta lê-los e escrevê-los. Disse que a literatura é "uma das poucas artes que realmente pode fazer algo com o material incandescente do inconsciente". Mas, em dado momento, foi perguntado por uma mensagem da audiência se a literatura sobreviveria ao fim do mundo. A resposta foi simples:

— O fim do mundo é tão grande que não vai terminar nunca. O mundo está sempre terminando. O apocalipse está acontecendo a cada momento. E também há coisas muito mais importantes do que a literatura. Talvez fosse interessante que houvesse menos livros. Menos é mais — disse ele, que riu quando ouviu da mediadora que o público de um festival literário talvez não fosse gostar tanto dessa afirmação. — Nunca vão me convidar de novo. Leiam menos. É como uma dieta. Se alguém come merda, o que vai acontecer? Pessoas deveriam reduzir suas bibliotecas, ter dez livros no máximo.

Escritor chileno Benjamín Labatut em Paraty — Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo
Escritor chileno Benjamín Labatut em Paraty — Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo

Em “Quando Deixamos de Entender o Mundo” (Todavia), o chileno mostrou grande interesse pela Ciência. Baseando-se em biografias e teorias reais, com Einstein e Schrödinger como personagens, o livro tenta entrelaçar vida íntima com desbravamento científico. Ele disse admirar ímpeto investigador dos cientistas.

— O afã da Ciência tem um desejo de infinito que admiro muito. Sem o qual nos estaríamos extintos há tempos — disse. — Me interessa a parte da Ciência que escapa da Ciência, suas fronteiras. A parte da ciência que intriga os próprios cientistas.

Já no livro “A Pedra da Loucura” (Todavia), o autor reflete em dois ensaios sobre a insanidade. Referências como Bosch, David Hilbert e Philip K. Dick foram usadas nessa investigação de Labatut sobre os labirintos da mente humana.

— O coração da literatura é o delírio. É uma forma de inteligência particular e está no centro da literatura. Os livros que não contém delírios não são suficientes. Tem que tocar, tem que ter algo perigoso. Nada mais perigoso que a loucura. Quando pequeno, tinha muito medo de enlouquecer. A literatura sem loucura é feita de palavras mortas.

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