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Por Luiz Fernando Vianna; Especial Para O GLOBO

Intensamente comemorado ao longo de 2022, o cinquentenário do disco “Clube da Esquina” ganha nova celebração no fim do ano. “De tudo se faz canção”, livro organizado por Márcio Borges (um dos letristas do Clube) e pela jornalista Chris Fuscaldo (criadora da editora Garota FM Books), não realiza prioritariamente uma história do álbum, mas reúne histórias sobre ele.

“Clube da Esquina” foi eleito, numa enquete realizada pelo podcast Discoteca Básica, o melhor disco brasileiro de todos os tempos.

A biografia do álbum está na boa e alentada introdução escrita por Chris Fuscaldo. O que vêm a seguir são depoimentos dos participantes da produção de 1972 e comentários de convidados sobre as 21 faixas —elas foram distribuídas à época em dois LPs.

Edição bilíngue

A estrutura fragmentada permite ao leitor selecionar o que o atrai e consumir na ordem que preferir. Pode-se imaginar que essa organização busque uma leitura mais fácil. E o fato de a edição ser bilíngue mostra que um dos objetivos é atrair estrangeiros que se interessam pelo “Clube” e querem saber mais sobre ele.

Um problema da fragmentação é que histórias se repetem. Um exemplo é o momento em que Milton Nascimento e Lô Borges — os protagonistas do disco — vão a um bar em Belo Horizonte e, para surpresa do primeiro, o segundo, dez anos mais jovem e mal saído da adolescência, pede uma batida de limão. Funciona como rito de passagem para a vida adulta.

Outro exemplo de repetição é a importância que teve para Milton escutar Ray Charles. Fã de cantoras, ele percebeu, segundo contou várias vezes ao longo da vida, que homens também eram capazes de cantar muito bem.

No caso de Bituca — apelido de infância pelo qual gosta de ser chamado e como é tratado na maior parte do livro —, compreende-se que bastante já se conhece sobre ele, por ser o mais famoso dos integrantes do Clube e por ter dado em diversas ocasiões suas versões dos fatos. Como suas lembranças se misturam com as dos amigos que conviveram com ele, é natural que as cenas se repitam. Cada depoimento deve ser tomado mais por si do que como parte de uma trama com início, meio e fim.

Mas há coisas que são um pouco menos conhecidas, como a atitude radical que Milton tomou em 1965: queimou toda a documentação com que se inscreveria no vestibular para Economia e decidiu que seria apenas artista.

E, possivelmente por ser de Niterói e conhecer a história da cidade, Fuscaldo dedica especial atenção ao período de criação do disco, passado em grande parte na praia de Piratininga.

Em 1971, Milton estava sendo muito vigiado por agentes da ditadura, como tantos artistas estavam. Ele decide com Lô, Beto Guedes e o amigo Jacaré se mudarem para uma casa à beira da praia no loteamento Marazul. Porção importante do repertório do “Clube da Esquina” nasceu entre banhos de mar e muitas conversas. Eram visitas frequentes os três principais letristas da turma: o niteroiense Ronaldo Bastos e os mineiros Márcio Borges e Fernando Brant.

Como se soubessem que aquele período se tornaria histórico, os fotógrafos Ronaldo Gorini e Cafi registram vários momentos: de Milton e Lô trabalhando, por exemplo, ou mergulhando ao lado de Beto. São de Cafi as fotos que ilustram o encarte do álbum duplo e a da famosa capa: um menino negro e outro branco, representando Milton e Lô.

‘Clube da esquina 2’

Fuscaldo convidou 20 pessoas — jornalistas em sua maioria — para escrever sobre as 21 faixas. É curioso como vários não se comportam como analistas distanciados, mas registram a presença do “Clube” em suas vidas. De fato, é um disco (ou dois) daqueles capazes de marcar com força quem os escuta — mais de uma vez, quase inevitavelmente. As abordagens são muito diferentes entre si, mas ajudam a iluminar as músicas.

O livro ainda tem uma espécie de bônus: informações e depoimentos sobre “Clube da Esquina 2”, o álbum também duplo lançado em 1978, já com mais recursos técnicos do que o primeiro — feito em apenas dois canais e com muita informalidade, o que foi fundamental, segundo os participantes, como Toninho Horta e Wagner Tiso, para o resultado do trabalho.

“De tudo se faz canção” é um painel agradável, bem editado (com ótimo resultado visual), que não procura esgotar o assunto, mas dar voz a personagens desse pedaço incontornável da trajetória da música brasileira.

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